Uma das ondas que aconteceram e reverberam ainda hoje é a ida de comediantes de stand up pra TV e cinema. E, convenhamos, mesmo que muitos acreditem o stand up brasileiro é bem fraco, raso e muitas vezes sem graça. Muitos desses atores tentam viver da imagem construída em torno deles como forma de sobrevida na selva midiática, o que muitas vezes acaba atrapalhando seu desenvolvimento na arte da interpretação.
Uma desses exemplos é a Tatá Werneck que despontou pra o conhecimento do público no Comédia MTV e ganhou a fama em novelas globais fazendo, basicamente, a mesma caricatura de esquisita exagerada e, mais recentemente, buscando se tornar algo mais “sex symbol”. Curiosamente, seu primeiro papel de protagonista no cinema vai de encontro a todos esses estigmas numa crítica do próprio meio artístico e a busca desenfreada pelo sucesso.
Sinopse: Tatá Werneck vive Kika K, uma atriz que está em novelas, campanhas publicitárias e é idolatrada por milhões de fãs. Mas por trás das aparências, está em crise com sua vida pessoal, profissional e em lidar com seu transtorno obsessivo. Tudo muda quando o ghost writer de seu livro 1003 Maneiras de Ser Feliz entra em contato com ela.
Os melhores momentos de TOC estão quando o filme, classificado como comédia, foge do humor e busca uma dramaticidade na situação de uma estrela que não é feliz, mostrando uma Tatá Werneck que poderia facilmente se desenvolver como atriz mais “séria”. Infelizmente, a maior parte dele vemos os velhos clichês das comédias nacionais de sequencias bem pastelão, exageradas, onde o diretor explora o talento cômico da atriz colocando ela para fazer coisas já batidas para quem acompanha a sua carreira.
Uma pena também é termos um elenco tão bom como Vera Holtz e Bruno Gagliasso subaproveitados em personagens estereotipados que representam todo o vazio que o mundo da fama traz a protagonista. Assim como em Entre Abelhas (outro filme de drama que usa um ator de comédia como protagonista, no caso Fábio Porchat), o longa quando fala sério parece sentir uma necessidade angustiante de vir logo com uma piada em seguida, daquelas típicas das personagens da atriz, o que, pra mim, atrapalha bastante o que poderia ser um grande passo profissional.
Apesar disso, o filme tem momentos bem interessantes ao mostrar as fugas de Kika da vida classe média alta e caindo na suburbanidade metropolitana; em suas críticas sociais, por falar (mesmo que muito superficialmente) de uma doença séria como o transtorno compulsivo; no bom uso (apesar de até clichê) de uma canção de Raul Seixas e outra da Banda Eva (essa que gera uma bonita cena romântica digna de filmes cults pernambucanos); e, principalmente, nos sonhos a la Mad Max da protagonista.
Se não é aquele grande filme de comédia que esperamos faz tempo ser feito por essas bandas, vale a pena a conferida para uma reflexão sobre os caminhos que escolhemos na nossa vida e uma discussão sobre o que é, de fato, a felicidade.