Uaréva! Uaréview Uaréview: Huck

Uaréview: Huck


O que nos faz de fato um herói? Que imagem queremos que se lembrem quando pensarem em nós? O que é inspiração? Esses questionamentos e conceitos sempre foram marca registrada de muitos super-heróis dos quadrinhos, principalmente, o Superman com seu ideal americano de ser e altruísmo no máximo. Após os anos 80 o vício de desconstruir esse ideal heroico se tornou quase uma obrigação dentro da cultura pop, é até curioso que um dos nomes marcantes nesse processo seja quem nos traga uma obra que vai de encontro a essa obsessão e exalta a essência do gênero.

Mark Millar, autor de coisas como Procurado, Supremos e outros trabalhos mais “cínicos” e que esmiuçavam o que de pior a humanidade tem, segue nos últimos anos fazendo coisas mais leves e esperançosas – seria uma tentativa de se aproximar da Marvel nos cinemas já que o autor vive de criar HQs só para virarem filmes?

É dele  Huck, minissérie da Image Comics lançada em 2015 em seis partes,  protagonizada por um sujeito com superpoderes e “dificuldade de aprender” que só pensa em fazer o bem numa pequena cidade dos EUA de forma secreta até que sua faceta de super-herói é exposta na mídia.

O herói título tem em si todos esses ideias de esperança sobre o mundo, confiança no bem dentro das pessoas e o fazer o bem sem esperar nada em troca. A história começa com ele sendo um simples frentista de uma pequena cidade do interior que se vê rapidamente envolto em uma conspiração armamentista assim que o mundo todo descobre sua identidade.

A revista tem os belos desenhos do brasileiro Rafael Albuquerque e constrói nas duas primeiras edições um dos protagonistas mais carismáticos e interessantes dos últimos anos nos quadrinhos mainstream. Huck nos faz rapidamente lembrar nostalgicamente do Clark Kent/Superman de histórias antigas, antes de toda bobageira dos Novos 52 e, até mesmo, das tentativas do inicio do século de modernizá-lo. A revista coloca na mesa que nem sempre conceitos modernos são o melhor para alguns personagens, que o básico e se focar no humano dentro do herói pode ser melhor que qualquer show pirotécnico ou ar pretensioso.

Apesar de ser um tanto rápido em suas resoluções (e vemos claramente a influência de clímax de roteiro cinematográfico), a minissérie consegue até fazer um final digno, diferente do comum do Mark Millar de finais desastrosos que detonam todo o trabalho feito anteriormente.

Os direitos cinematográficos da história já foram negociados com a produtora Studio 8, de Jeff Robinov, ex-presidente da Warner, antes mesmo da revista estrear. Porém, como nada mais foi divulgado de avanços na produção, provavelmente seja só mais um trabalho vendido do Millar que nunca verá as salas de cinema.

Huck é recomendadíssimo para quem é fã do Superman clássico e gosta de personagens que veem o melhor do mundo ao invés de se isolarem dele. Infelizmente, nenhum anúncio de publicação no Brasil seja em edições mensais ou encadernado.

Nota: 9,5

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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