Aproveitando a ótima resenha feita pelo amigo Rafael Rodrigues no Madrugada Macabra feito a um tempo atrás sobre o filme de terror sueco de 2008, Deixe Ela entrar (Let the Right One In, no título em inglês ou Låt den rätte komma in, no original), que fez muito sucesso no circuito “não-Hollywoodiano”, resolvi trazer a minha visão sobre a refilmagem americana chamada Deixe-Me Entrar, e já adianto… fazia tempo que não assistia um filme de terror tão bem feito.
Deixe-me entrar é um remake e como todo remake merece o benefício da dúvida.
Explico: qualquer filme que ganhe um remake é porque o original é muito bom. Nesse caso, um dos principais motivos da refilmagem foi o idioma. Cinema feito em outros países não são muito bem vindos nos Estados Unidos.
Isso é um agravante se considerarmos que a cultura também é outra e a probabilidade de se mudar o roteiro inteiramente é absurdamente grande!
É bom eu dizer também que ainda, infelizmente, não assiti ao original e pelas críticas tanto de um quanto do outro, vale muito a pena conferir.
O filme roteirizado e dirigido por Matt Reeves, do fantástico Cloverfield, conta a história de um solitário garoto de 12 anos que sofre “bulling” na escola e tem problemas em casa, pois seus pais, ausentes, estão em vias de se divorciar. Ele mora apenas com a mãe, e se distrai entre doces, ficar sozinho no pátio do prédio e observar seus vizinhos com a ajuda de um telescópio.
Owen, vivido pelo ator-mirim Kodi Smit-McPhee, passa os dias planejando sua vingança aos “valentões” da escola. Nesse meio tempo, ele conhece uma estranha garota que acaba de se mudar para o prédio, chamada Abby, vivida pela excelente atriz Chloe Grace Moretz, que despontou para a fama como a Hit-Girl de Kick-Ass.
Abby parece ser uma menina independente que mora com seu estranho pai (Richard Jenkins), e só aparece a noite, sempre descalça, aparentemente imune ao rigoroso frio do inverno. Owen se identifica com sua fragilidade e se torna seu amigo. Seu comportamento bizarro faz o garoto pensar que Abby esconde algum segredo obscuro. Mais tarde ele descobre que a menina na verdade é um vampiro.
Mesmo não tendo assistido ao original, dá pra perceber que à algo estranho até na postura de Abby, que afirma não ser uma garota. E isso não é pelo fato dela ser um vampiro, mas sim que ela pode nem ser propriamente uma garota! Ela mesmo diz ao garoto duas vezes que simplesmente “não é uma menina”
No filme sueco, faz parte do mistério do filme esse fato e atriz que interpreta Eli (Abby), é totalmente andrógina, e apresenta traços de um garoto. Existe uma cena em que o garoto, Oskar (Owen), a vê colocando roupa e fica a interrogação sobre sua sexualidade. Já em Deixe-me entrar, essa cena não fica clara.
No original, a personagem Eli parece muito com Lestath!
Já a carinha bonitinha de Chloe Moretz não deixa dúvidas de que se trata de uma menina, apesar da maquiagem ter se esforçado um pouco em mascarar isso.
Segundo consta, o roteiro é exatamente o mesmo e ambos os filmes, só que na versão americana algumas informações que davam mais sabor à trama foram limados, como onde a garota arranja dinheiro para se sustentar, o que realmente senti falta, além de mais explicações sobre o envolvimento com seu escravo vampírico. Não acho que isso o tornaria um roteiro demasiadamente didático, mas isso é um perigo tratando-se do cinema americano, que pode tornar o enredo mastigado demais. E nisso a versão americana não pecou.
Apenas na temática que transformou um filme de terror num filme romântico, mas não em demasia, ainda bem…
O vampirismo neste caso está muito bem representado, no meu ponto de vista, já que todos os elementos estão lá. Desde a queimadura por insidência da luz solar até a necessidade do convite para que o vampiro entre em sua casa. Taí o porquê do nome do filme. Na boa, só de não ter que lembrar de coisas como Crepúsculo, de vampiros que brilham no Sol, já tá bom demais!
Gostei do clima de tensão do filme e atmosfera sombria, com cores fortes, amareladas e escuras quando necessário. A fotografia foi muito bem feita e os elementos da década de 80 perfeitamente acertadas. Por vezes você se confunde se o que você está assistindo não é mesmo um filme antigo, desses que passa de madrugada na tv.
Apesar de algumas críticas apontando que este é um filme medíocre em comparação ao original, não é difícil de acreditar que se fosse realmente lançado na década de 80, hoje esse filme não seria um desses cults de terror que tem por aí.
Acredito até que hajam chances para que isso ainda ocorra. Matt é um diretor que me agrada e tem um jeito bem peculiar de mostrar as coisas. Posso destacar três cenas fortíssimas nesse filme que valeram a entrada do cinema. A solidão do personagem Owen, por exemplo, é ainda mais reforçada pela omissão do rosto da mãe e da figura do pai, que fica restrito a uma voz ao telefone. Perfeito!
Reeves também matou a pau nas cenas de ação e uma das cenas mais empolgantes é a sequência do capotamento do carro onde o escravo de Abby tenta abater mais uma vítima.
Outra cena que curti bastante é a do hospital, onde mostra o “pai” de Abby totalmente desfigurado e oferecendo seu sangue ao mestre!
Deixa Ela Entrar, o original, rebatizado por lá de Let the Right One In, circulou por festivais de terror e independentes nos EUA com sucesso em 2008 e o público consumidor do gênero o recebeu com grande entusiasmo.
O Omelete, em sua crítica, levanta a questão do porquê o diretor Matt Reeves ignorou o mercado americano e realizou a refilmagem sem alterar quase nada do filme. Parece que é aquilo que eu falei no começo da resenha, apenas para que o público americano assistisse o filme em sua língua. E não restam dúvidas quanto a qual fará mais sucesso daqui à 10 anos. O mercado cinematográfico Hollywoodiano sempre estará a frente das produções e ações como essa parecem ser de um mercado que visa eclipsar qualquer tentativa de sucesso fora do circuito que a anos comanda o entretenimento nos cinemas.
Apesar dos pesares e das críticas negativas ao filme, gostei bastante dele e já entrou pra minha lista de melhores de 2011. Vou fazer o caminho inverso e assitir ao original por esses dias e daí volta com outra resenha.
No mais, acho que vale a pena recomendar o filme, principalmente para aqueles que já estavam sentindo falta de um bom filme sobre vampiros. Tá certo, não é tão terror assim, mas vale a pena…
Nota: 9
Elenco: Chloe Grace Moretz, Kodi Smit-McPhee, Richard Jenkins, Cara Buono, Sasha Barrese, Elias Koteas.
Duração: 105 min.
Direção: Matt Reeves
Gênero: Drama