O Abecedário da morte

Geralmente antologias de terror são uma boa forma para os iniciantes adentrarem no gênero, já que é nestes casos que pode-se perceber as influências, diferenças de estilos, temas e subgêneros que constituem uma história de terror.

A grande vantagem de uma antologia (e o principal motivo pelo qual eu gosto muito desse formato) é poder fazer histórias diferentes, sem nenhuma conexão cronológica aparente, ligando apenas por um ou outro denominador comum. Contos da Cripta, por exemplo, tinha em comum apenas o apresentador. Já Além da Imaginação tinha em comum principalmente os finais inusitados e surpreendentes, e por aí vai.

No caso de The ABC’s of Death (O Abecedário da morte, em tradução livre), o que liga as histórias é o alfabeto. A antologia, produzida por Ant Timpson e Tim League, é uma sequência de 26 curta-metragens cujo tema principal é a morte.

A sistemática do projeto foi a seguinte: Chamar 26 diretores ao redor do mundo e dar, a cada um, uma letra. A partir dessa letra, seria escolhida uma palavra, e o diretor deveria basear seu curta de terror nesta palavra. Por isso o nome “abecedário da morte”.

Mas embora eu tenha dito no começo que antologias de terror são geralmente uma boa forma do iniciante adentrar no terror, creio que “The ABC’s of Death” seja o caso inverso. Os curtas apresentados nesse projeto são dos mais variados, mas numa espécia de “competição sadia”, cada diretor parece ter tido a intenção de superar o outro, e o resultado é desde histórias padrão até conceitos realmente surreais, passando por coisas bem doentias e bizarras.

Por conta dessa pegada, eu recomendo The ABC’s of Death para quem já está bem habituado ao cinema de terror, pois tem muita coisa que vai mexer com sua moralidade, com sua imaginação e com seu bom gosto. Tem coisas MUITO RUINS (alguns filmes pareceram trabalho de final de curso de faculdade de cinema), mas tem algumas coisas bem interessantes (como a metalinguagem usada em Q is for Quack, onde o diretor está com o prazo apertado e não sabe como fazer o seu curta). Mas como é comum em qualquer antologia, esta tem seus altos e baixos.

Os segmentos do projeto foram os seguintes:

A is for Apocalypse (A é de Apocalipse), dirigido por Nacho Vigalondo
B is for Bigfoot (B é de Pé Grande), dirigido por Adrian Garcia Bogliano
C is for Cycle (C é de Ciclo), dirigido por Ernesto Diaz Espinoza
D is for Dogfight (D é de Rinha de cães), dirigido por Marcel Sarmiento
E is for Exterminate (E é de Exterminar), dirigido por Angela Bettis
F is for Fart (F é de peido), dirigido por Noboru Iguchi
G is for Gravity (G é de Gravidade), dirigido por Andrew Traucki
H is for Hydro-Electric Diffusion (H é de Difusão hidroelétrica), dirigido por Thomas Malling
I is for Ingrown (I é de encravado), dirigido por Jorge Michel Grau
J is for Jidai-geki (J é de Filme de Samurai), dirigido por Yûdai Yamaguchi
K is for Klutz (K é de Desajeitado), dirigido por Anders Morgenthaler
L is for Libido (L é de Libido), dirigido por Timo Tjahjanto
M is for Miscarriage (M é de aborto espontâneo), dirigido por Ti West
N is for Nuptials (N é de Núpcias), dirigido por Banjong Pisanthanakun
O is for Orgasm (O é de Orgasmo), dirigido por Bruno Forzani e Héléne Cattet
P is for Pressure (P é de Pressão), dirigido por Simon Rumley
Q is for Quack (Q é de “Quack”), dirigido por Adam Wingard e Simon Barrett
R is for Removed (R é de Removido), dirigido por Srdjan Spasojevic
S is for Speed (S é de Velocidade), dirigido por Jake West
T is for Toilet (T é de Toalete), dirigido por Lee Hardcastle
U is for Unearthed (U é de Desenterrado), dirigido por Ben Wheatley
V is for Vagitus (V é de Vagitus), dirigido por Kaare Andrews
W is for WTF! (W é de WTF!), dirigido por Jon Schnepp
X is for XXL (X é de GGG), dirigido por Xavier Gens
Y is for Youngbuck (Y é de Jovem adulto), dirigido por Jason Eisener
Z is for Zetsumetsu (Z é de Extinção), dirigido por Yoshihiro Nishimura

As críticas à iniciativa foram bem divididas, e eu concordo com muitas delas. Há algumas coisas realmente muito boas, mas outras são tão estranhas – até para o gênero – , que não consigo nem decidir se gostei ou não (como o segmento H is for Hydro-Electric Diffusion).

Minha sugestão é que o espectador não assista a todos os segmentos de uma vez só, pois é bem complicado de digerir. Assista a alguns, pegue um fôlego, e depois assista outros.

Curiosidade:

Para a escolha do 26º diretor, foi feito uma concurso, cujo vencedor foi o britânico Lee Hardcastle. Seu curta, T is for Toilet, é uma claymation (animação stop motion feita com argila), onde um menino encara seu medo de ir ao banheiro usar o vaso sanitário sozinho. É realmente um curta bem divertido.

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