Uaréva! Uaréview,Zenon Uaréview: Sense8

Uaréview: Sense8


 

De poucos anos para cá o Netflix vêm surpreendendo a todos com suas séries próprias fixando para si quase que um padrão de qualidade tanto quanto a HBO já faz há anos dentro dos canais pagos.

Desde séries de comédia como Orange is the New Black, passando pelas intrigas políticas e dramas de House of Cards, ou pela ação de Demolidor, o sucesso com público é evidente. Mas faltava um enredo que nos puxasse para o lado da ficção científica.

Bem… faltava.

8 pessoas espalhadas ao redor do mundo, que não se conhecem, de repente começam a se conectar mentalmente umas às outras. Elas podem não apenas conversar entre si e se “visitarem”, mas sentirem suas emoções, dividirem seus pensamentos e até mesmo compartilhar suas habilidades.

Antes de continuarmos, um aviso! Aos adeptos da “tradicional família brasileira”, passem longe porque vai ter beijo gay (no mínimo), sim! Vai ter personagem trans, sim! Vai ter membros arrancados, sim! E se bobear vai ter close entre as pernas de mulheres parindo.

Estamos avisados? Estamos.

Bom, logo de cara já vemos duas figuras conhecidas. Naveem Andrews (o Sayid de Lost) e Daryl Hannah (Blade Runner e Kill Bill) são, respectivamente, Jonas Malik e Angelica que são os responsáveis pelo surgimento do novo grupo e por guiarem eles através das novas habilidades.

Para mim, o maior mérito da série é conseguir dar atenção a oito personagens distintos em apenas doze episódios. Cada personagem, dentro de seu próprio drama pessoal, ainda precisa aprender a conviver com as novas habilidades e com a dúvida de estar ou não à beira de uma loucura.

Sim, o plot da equipe com super-habilidades sendo perseguida pelo vilão que planeja exterminá-los não é nem de longe o mais criativo, mas como falei antes, o grande mérito está nos personagens e seus dilemas pessoais (tanto é que você apenas vê o grupo em ação no último episódio).

Já que falamos dos personagens, vamos a eles:

Will Gorski

O good-cop de Chicago. Will se esforça para ser o cara honesto em um dos bairros mais perigosos de Chicago. Segue
os passos de seu pai, um ex-policial, e é quem tem forte ligação com Jonas Malik. Começa a investigar por conta própria o estranho suicídio de Angelica e sua ligação mental com outras pessoas.

 

Riley

A DJ islandesa. Riley saiu ainda jovem da terra natal e passou a morar em Londres para fugir do que acredita ser uma maldição islandesa que provocou muita dor a ela no passado. Uma coisa interessante aqui é que estamos acostumados a ver personagens usuários de drogas caírem num lamaçal de merda sem fim por causa de seu vício. Ela foge desse padrão ao fumar seu haxixe vendo o sol nascer ou apresentar êxtase a seu simpático pai músico antes de um concerto. E é isso. Sem clínicas de reabilitação, sem lições de moral, sem rótulos. Se apaixona por Will desde a primeira vez que se encontram.

 

Lito

Um ator mexicano de filmes de ação de sucesso, rico, bonito, com mulheres caindo a seus pés, idolatrado pelos homens que querem ser como ele. Seria a vida perfeita se Lito não tivesse que esconder o grande amor de sua vida: o sensível Hernando. Lito passa a viver um grande dilema moral: continuar fazendo sucesso para um público abertamente machista e, consequentemente, fingindo ser o galã mulherengo  ou externar sua homossexualidade e talvez cair no esquecimento.

 

Sun Bak

Sun é economista e foi moldada desde pequena para viver no ditatorial mundo corporativo de Seul. Seu pai, dono de um milionário império, quase não a considera como filha, enquanto seu irmão mais novo se preocupa apenas em levar sua vida de playboy gastando fortunas. Não se engane pelo rosto delicado e a constituição franzina. Sun é a porradeira do grupo.

 

Capheus 

O motorista queniano. Apesar de morar na miserável cidade de Nairóbi, Capheus se mantém sempre positivo e sorridente. Fã incondicional de Jean-Claude van Damme (formando um total de três fãs considerando os uarevianos Modesti e Pin), dirige um ônibus (devidamente pintado com poses do ídolo) que leva pessoas de sua aldeia para o centro da cidade. Todo o dinheiro que recebe é para comprar remédios para sua mãe que sofre com o vírus HIV. Capheus, ou van Damn, como passa a ser conhecido, é de longe o mais espirituoso e divertido. Não é um alívio cômico, mas é o mais maravilhado com a nova habilidade quando percebe que pode sair de sua pobre terra e, por exemplo, tomar um legítimo chá londrino ou aparecer em um avião em pleno vôo. Também é responsável pelas melhores cenas de ação (com a devida ajuda de Sun, claro).

Nomi

A hacker de São Francisco. Nomi carrega intensos traumas devido ao bullying sofrido na infância por não se sentir dona do corpo masculino com que nasceu. Talvez a personagem com maior carga emocional na série. Sofre com o preconceito da mãe, que insiste em tratá-la como homem. Num dos últimos episódios da temporada tem um excelente diálogo com Lito a respeito de seus sentimentos e experiências. Jamie Clayton, que interpreta Nomi, é uma atriz trans de verdade.

 

Kala Rasal

A cientista indiana. Mora em Mumbai e trabalha numa empresa farmacêutica. Está prestes a se casar com Rajan, um rico e apaixonado homem que todos consideram o marido perfeito, mas descobre que não o ama. Devota de Ganesha, considera as visões que tem, principalmente as que envolvem o alemão Wolfgang, como uma provação da deusa.

Wolfgang

O ladrão alemão. Wolfgang saiu ainda criança da Alemanha Oriental para a Ocidental. Após a morte do violento pai, foi adotado pelo tio (chefe do crime organizado. Família boa, família simpática) e se mostrou um excelente arrombador de cofres ao lado do amigo Félix. Se paixonou por Kala desde a primeira vez.

Jonas Malik

Não se fala muito a respeito de sua origem. Sua conexão mais forte é com o policial Will, o qual explica durante a temporada sobre os sensates. Até agora o que deu a entender é que Jonas é de um grupo anterior, praticamente exterminado, e faz de tudo para que o novo grupo sobreviva.

Além dos personagens principais, ainda temos os personagens secundários de cada personagem. Destaque para Daniela e Hernando (pares de Lito) e Amanita, namorada de Nomi que é a única que não a trata como louca ao saber dos sensates e têm papel fundamental em alguns episódios.

O que eu acho mais legal é que apesar da conveniência de personagens com habilidades bem específicas (como disse meu amigo Márcio Fiorito: “queria ver se fosse um porteiro, uma costureira, um gari”), os roteiristas se esforçaram para que eles não fossem mostrados como personagens clichês, e deu muito certo.

Li por aí alguém dizer que Sense8 é um piloto de 12 horas. Não deixa de ser verdade. A temporada termina com muitas pontas a serem amarradas e muitas dúvidas, além de situações que poderiam ser resolvidas com mais rapidez (Tipo, pô! O Capheus tudo bem, mas de resto ninguém tinha um Facebook pra procurar os outros e saber se tava ficando maluco mesmo ou não? Dava até pra montar um grupo de Whatsapp, rs).

A segunda temporada ainda não foi confirmada, mas pode esperar por ela com certeza.

Concluindo: mais um ponto positivo do Netflix com assinatura de Lana e Andy Watchowksi e de J. Michael Straczynski, velho conhecido dos fãs de Babylon 5 e leitores de quadrinhos.

Nota: 8,0

 

A serviço do ócio.

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