Uaréva! Uaréview Uaréview: Capitã Marvel

Uaréview: Capitã Marvel


O que nos torna o que somos? Seriam nossas memórias, nossa profissão, nossa família, colegas, amigos ou seriam nossas emoções, nosso caráter, nossa determinação de sempre fazer o que acreditamos ser o correto? Capitã Marvel é um filme que usa esses questionamentos como base para narrar a jornada de Carol Danvers em sua busca por descobrir quem é e qual seu papel no Universo.

Buscando desconstruir a forma padrão de contar histórias de origem, o filme trabalha diversos conceitos como superação, auto-estima, sororidade, força feminina e a constante busca das mulheres por autonomia e não silenciamento. No meio disso, ainda faz uma interessante abordagem das questões relativas a refugiados e imigração.

Apesar de pecar no aspecto que os filmes da Marvel Studios tanto ficaram famosos, o tom épico de cenas marcantes, a obra se mostra uma boa introdução da personagem com adaptações dos quadrinhos bem realizadas e um roteiro que se não é instigante, pelo menos é coerente e tem uma construção de inicio, meio e fim compreensível. Aliás, o roteiro faz uma das melhores e inusitadas quebras de expectativa do MCU, principalmente, para quem lê os quadrinhos da editora.

O filme deve decepcionar muitos que forem com a expectativa alta, justificada pelo alto nível que as produções da produtora tem nos entregado, ainda mais nos últimos anos. Entretanto, a primeira aventura de Carol Danvers no cinema se encaixa bem no escopo de primeiros filmes de um personagem da Marvel como, por exemplo, o Thor, Capitão América, Homem-Formiga e Doutor Estranho.

Esses são filmes que tem seu charme, mas podemos encontrar diversos furos de roteiro, piadas que funcionavam só no papel, coincidências, desperdício de oportunidades (e aqui a trilha sonora noventista é o grande ponto) e uma trama pouco empolgante. A minha questão é por que muitos espectadores são condescendentes com esses filmes, porém, não com a Capitã Marvel?

No campo da atuação, Brie Larson não impressiona como a protagonista, contudo, entrega uma Danvers com facetas bem distintas. A atriz é notório, por outros filmes até, que em cenas sérias faz sempre a mesma feição sem expressão e carisma, mas, em compensação, esse carisma vem nos momentos em que precisa ser divertida, simpática e sarcástica.

Mesma coisa acontece com o mais jovem Nick Fury. Depois de tantas aparições Samuel L. Jackson consegue nos dar uma versão do personagem ainda mais carismática ao equilibrar o lado agente secreto com o humano normal que canta, sorri e tem amigos. Alguns estão criticando dizendo que o ainda não chefe na Shield ficou bobalhão, para mim, ele surge como uma pessoa crível, e, como sabemos, muitos não querem humanidade em seus ídolos, só a idealização que tem deles.

Gostaria de destacar aqui a interação desses dois personagens com as ótimas Maria e Mônica Rambeau. Espero que a Marvel utilize as atrizes novamente em futuros filmes e deem mais espaços tanto para a piloto fodona quanto a “Tenente Problema”.

A participação dos Krees é um tanto genérica e muito padrão de aventuras especiais comuns, porém, eles não comprometem o filme e fica o gosto de ver mais daquele mundo tanto visualmente quanto de sua estrutura e personagens – em um curioso Déjà vu da Asgard de Thor 1. Já os Skrulls são bem introduzidos nesse universo de histórias e prometem ainda dar pano para manga se bem explorados em suas multidimensões como raça.

Por fim, Capitã Marvel não é a obra sensacional e impactante que esperávamos, mas está longe de ser horrível, “uma merda”, “pior que Lanterna Verde” como vi muitos se referirem a ele esses dias. Percebe-se claramente que na necessidade de fazer um filme com protagonista feminina e, ainda mais, introduzi-la em Vingadores: Ultimato, vários aspectos de produção foram deixados mais de lado em nome da velocidade de realização. Contudo, o resultado nos brinda com uma franquia que tem um enorme potencial de crescimento e do qual, aposto, a Marvel vai cumprir assim como realizou com o Capitão América: Soldado Invernal.

Muitos falaram que Carol não conseguia fazer o que queria, não merecia fazer o que fazia e tinha que controlar suas emoções, mas foi ao abraçar seus sentimentos mais puros, seja o amor ou o ódio, e direcioná-los para o caminho correto que ela sempre conseguiu reerguer-se e ir mais alto, mais longe, mais rápido.

E Thanos que se cuide!

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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