“Nós somos a podridão no vermelho. Nós somos a doença feita de carne. Somos os verdadeiros pais das suas crianças.”
Quando a DC Comics anunciou que iria fazer um reboot, que eles chamaram de relauch, era sabido que como toda reestruturação muita coisa ia sair boa, mas também muita coisa seria medonha de se ver. O que eu nunca imaginei era que um dos personagens mais interessantes da editora iria retomar seu curso sendo a melhor revista do projeto Novos 52, ainda mais trazendo para o mainstream dos comics o gênero de terror.
Homem-Animal de Jeff Lemire consegue uma grande proeza de aliar o mundo dos super-heróis com relacionamento familiar, e ainda trabalhar dentro disso o grotesco e aterrorizador existente na própria natureza terrestre. O autor se apropria do universo do personagem criando novos e interessantes conceitos, além de ampliar o espectro de poderes e importância de Buddy Baker.
Logo no número um somos apresentados ao atual status quo de Buddy, herói aposentado, pai de dois filhos e casado, tentando a vida como ator e sendo ativista pelos direitos dos animais. Contudo, essa vida mais “normal” lhe parece tediosa e chata até, fazendo-o ter saudades das atuações como super-herói. Quando resolve atender um chamado da policia em um caso de reféns tudo começa a mudar na vida dele. Primeiro por seus poderes aparentar estarem diferentes, depois por perceber um comportamento estranho na pequena filha e por último por ser atacado em sua própria casa por seres monstruosos que se denominam os caçadores, vindos direto do Podre.
Aliás, o conceito criado por Lemirre de que existe um tipo de campo geomorfológico desde os tempos primitivos chamado Vermelho, o qual o Homem-Animal sempre esteve ligado, além do Verde, que remete a fauna e flor e, claro, ao Monstro do Pântano, e que esses dois campos lutam para defender a Terra da última parte da trindade, o Podre, é algo muito legal de se ver. Pois, cria uma dinâmica e interligação natural não só entre personagens, mas entre as próprias várias faces da natureza em nosso planeta.
Em sua jornada de descoberta desses novos elementos, aliado aos recém-surgidos poderes de sua filha – que consegue entrar em contato com o Vermelho e provavelmente seja a nova guarda dele – Buddy tenta escapar do ataque dos seres de podridão enquanto busca descobrir qual sua função nessa guerra.
Outra coisa que se deve ter atenção é no trabalho de Travel Foreman, o desenhista consegue um dinamismo muito interessante. Hora trazendo um traço mais limpo e que chegou a me lembrar da técnica de animação realizada em O Homem Duplo, onde transformou os personagens reais em ilustrações simuladas de traço e tinta, e em outros momentos mostrando algo mais sujo, podre, grotesco, como um bom filme de terror B.
O Lemirre também mostra um bom conhecimento de narrativa e roteiro, com diálogos bem interessantes, sequencias de ação empolgantes e boas sacadas (como na edição #6 onde ele nos mostra um dos filmes protagonizados por Buddy em que ele é um herói fracassado chamado Red Thunder), para dar uma descansada, ou uma puxada de freio como dito no popular, no ritmo frenético do plot.
Nos Estados Unidos da América a revista segue em sua sétima edição, aqui no Brasil ainda não foi lançada, mas, desde já, recomendo como uma ótima leitura, ainda mais se a Panini tiver o bom senso de fazer um mix só da chamada linha “dark” desse reboot: que engloba além de Homem-Animal, Monstro do Pântano, Liga da Justiça Dark, Eu Vampiro e Demon Knights, se não estou enganado. Com essa trupe tem tudo para ser a melhor publicação da editora em muito tempo.