Acho que todos os “Uarevers” que acessam nosso humilde blog lembram do Sai de Baixo. Uma comédia que estreou em 1996 e acabou com o estigma dos programas “pós-Fantástico”. Até então, seja qual fosse a porcaria que entrasse no ar depois do programa do Seu Cid era um retumbante fracasso. O doutor Abravanel dominava as noites dominicais com seus bingos televisivos, deixando a Grobis sempre pra trás. Mas um belo dia o ator Luis Gustavo e o diretor Daniel Filho chegaram com a idéia de uma sitcom, ao vivo, em um teatro. A fórmula informal do seriado – em que o elenco interagia com o público e os erros eram mostrados durante o episódio, quase sem edição, conquistaram o público e o humorístico virou um Hit.
Sai de Baixo bebia da fonte de outros programas, como “A Família Trapo” e “Bronco”. Porém o elenco “pop” contando com Marisa Orth, Claudia Jimenez, Aracy Balabanian, Tom Cavalcante e Miguel Falabella, além do próprio Luis Gustavo conquistou o público – e uma identidade própria.
Logo os bordões dos personagens tomaram conta do vocabulário brasileiro. Era impossivel passar um dia sem ouvir alguém gritar “CALABOCA MAGDA” ou olhares cruzados ao som de “ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ…”. A segunda-feira virou o dia oficial de comentar o programa. A audiência era inacreditavelmente alta e os atores viraram astros de primeira grandeza, e a famosa “prata da casa” da Globo.
Para quem estava lá na Conchinchina na época, e não sabe do que se trata a trama, um breve resumo: Vavá (Luis Gustavo) viva tranquilamente no seu apartamento no Arouche, sempre acessorado pela empregada Edileuza (Jimenez) e pelo porteiro debilóide Ribamar (Cavalcante). Sossego este que acabou no dia em que sua irmã, Cassandra (Balabanian), uma socialite viúva e falida, procura abrigo na casa de Vavá, levando a tira-colo a filha estupidamente burra, Magda (Orth) e o genro picareta Caco Antibes (Falabella). Da convivência entre o honesto Vavá e o mutreteiro Caco eram o cerne da maioria dos episódios.
Creio que o grande sucesso da série foi devido exatamente a informalidade da mesma. A “quarta parede” não existia, o público era parte do espetáculo e os atores costumeiramente saiam do texto, envolvendo suas vidas reais no trama. O roteiro, aliás, virava um mero detalhe frente a improvisação do elenco.
A lista de participações especiais é extensa, contando com medalhões como Tarcisio Meira, José Wilker, Milton Nascimento, Suzana Vieira, e até mesmo a imortal (literalmente) Dercy Gonçalves.
Bom, mas nem tudo são flores. O sucesso subiu a cabeça do elenco e as brigas começaram. Cláudia Jimenes, que defendia uma das personagens mais engraçadas do programa saiu no segundo ano, dando lugar para a perdida Ilana Kaplan, que durou apenas quatro episódios como a empregada substituta. Márcia Cabrita assumiu a posição em seguida, e mesmo não tendo todo o talento humorístico da sua antecessora, até que segurou o rojão numa boa com sua Neide Aparecida.
Tom Cavalcante saiu em 99, pois, diz a lenda, sempre quis ser o protagonista da comédia e seu personagem perdia cada vez mais espaço para o malandro Caco, inegavelmente o cerne humoristico da trama. A saída dele resultou em uma mudança drástica no programa, mudando o cenário fixo do apartamente de Vavá para um restaurante. Mas o público achou aquilo tudo uma grande mierda e o apartamente voltou a ser o cenário. Nesse ano foram introduzidos (ui!) os personagens Pereira, um milionário pão duro interpretado por Ary Fontoura, e seu acessor puxa-saco Ataíde, do recém falecido Luis Carlos Tourinho. Ary durou apenas uma temporada, saindo em seguida, e Ataíde assumiu o posto de porteiro.
Marisa Orth engravidou, e, portanto, Magda idem. Assim foi introduzido o personagem Caquinho, a principio um boneco animatronic assustador que sentava no carrinho de forma bizarra e falava, e depois pelo ator mirim Lucas Hornos, no que eu chamo de uma das atuações infantis mais CHATAS que eu vi em toda minha vida. Ganha até do mala do Pedro Malta.
Márcia Cabrita saltou do barco por conta de uma gravidez, sendo substituida por Cláudia Rodrigues, como Sirene, a nova empregada.
Mas Sai de Baixo não era mais aquilo tudo. Tourinho e Rodrigues não tinham o charme e o humor de Cavalcante e Jimenez. Os roteiros ficavam cada vez mais repetitivos e forçados. Os personagens estavam desgastados e extremados. Caco se transformou, de um malandro boa vida, em um extelionatário criminoso. Cassandra, de uma socialite arrogante, em quase uma psicopata. Magda, de uma mulher fútil e burra, em uma pessoa com problemas mentais. O próprio elenco parecia cada vez mais de saco cheio de interpretar os mesmo personagens. O humor foi se esvaindo e isso refletiu na audiência, que caiu rapidamente, e nas frequentes mudanças de horário de exibição.
Em 2002 Sai de Baixo se despediu, no episódio O Último Golpe no Arouche. Deixando um bando de fãs indignados e uma baita campanha na web para mantê-lo no ar.
Sai de Baixo sofreu de um mal que assola muitos seriados: o desgaste. Luis Fernando Guimarães e Fernanda Torres encerraram Os Normais antes que isso ocorresse. Já o Sai de Baixo tentou tirar leite de pedra até no último momento, e a repetição levou o programa ao ponto de perder … a graça.
Mas ainda temos a primeira temporada pra lembrar e rir bagaraio. Seja de Caco falando mal de pobre ou Magda e seus provérbios sábio (“Quem confere conta, com conta será conferido”) Sai de Baixo foi um marco na TV brasileira ao conseguir, finalmente, alcançar o público e faze-lo se sentir a vontade no meio daquela família pouco admirável.
Abraços pra todo mundo ae!