“Copacabana é aquele bilhete que você, totalmente de ressaca, encontra no bolso da calça de manhã. O bilhete da garota com quem você trombou ontem numa festa. E você sabe que ela é encrenca” (Mário Bortolotto).
Toda cidade tem seu lado sujo, cruel e ao mesmo tempo lindo de se ver. Até as mais belas paisagens de um lugar, por mais clichê que seja, guardam histórias sórdidas e tão cotidianas quanto caminhar por uma calçada em uma manhã. Assim é Copacabana (Ed. Desiderata, R$40, 200 págs), da dupla Lobo e Odyr, respectivamente roteirista e desenhista, remanescentes da revista Mosh.
A história versa sobre a vida de Diana, uma protistuta atolada em dívidas, que mente para mãe dizendo que é enfermeira, tem que aturar seus pedidos de dinheiro cada dia mais altos, e ainda se envolve em um crime que pode lhe levar para o fim de sua jornada. Terminei essa semana de ler o livro, gostei muito. Ele nos faz sentir realmente caminhando pelas ruas de Copacabana, RJ, daquele lugar com turistas, praia e um submundo que as imagens televisivas não mostram. Uma verdadeira série com o ar HBO de ser, só que mais verdadeira.
Segundo o site da HQ “O roteiro nasceu de noites de insônia que Lobo, diretor de arte durante o dia, passou caminhando pelas calçadas de Copacabana e conhecendo travestis, traficantes, gringos, motoristas de táxi, meninos de rua, vendedores de flores e velhinhos. E claro, um exército de garotas de programa de todos as cores e formatos, ganhando a vida no charme e no suor entre a Prado Júnior e a Avenida Atlântica. Todo esse cenário felliniano decadente, mas cheio de vitalidade e calor humano, somado com as histórias e lendas urbanas que circulam ao redor dele, foram parar no roteiro que Lobo foi escrevendo ao longo dos anos, filtrando tudo com o ouvido do escritor ligado na rua. No momento ele edita quadrinhos para várias editoras através da Barba Negra, sua casa de idéias criada com Odyr e trabalha em novos roteiros. E ainda percorre ocasionalmente as noites de Copacabana”.
Acho que toda cidade precisava de uma obra assim, daquelas de desvelam as sombras e mostram uma realidade vivida por muitos e que, em muitos casos, pouco se importam em vivê-la, já se acostumaram ou até mesmo gostam. Ainda mais, com um traço como de Odyr, totalmente adequado ao clima da história e a coisa nada “padrão”, ou seja, desenho limpo, bem definido e claro. Aqui você vê um retrato de um ambiente igual ao seu desenho. Obra nacional recomendadíssima, não só para quem quer prestigiar o quadrinho brasileiro, mas para quem gosta de ver algo de diferente nas histórias em quadrinhos.