Abutres (2010)

Uaréview
Por Marcelo Soares

Na Argentina morrem em acidentes de transito 22 pessoas por dia, 8.000 por ano, 100.000 na última década. Um negócio milionário em indenizações (Abutres)

É interessante ver como o cinema latino-americano vem crescendo a cada ano, principalmente o cinema argentino. Não é a toa que o longa-metragem hermano “O segredo dos seus olhos” derrotou favoritos e venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro este ano, contando a história de Benjamín Espósito, um aposentado que resolve escrever como tema para o seu livro o caso criminal que mais marcou a sua carreira no Tribunal Penal de Buenos Aires. Assim, ele revê o homicídio que investigou em 1974 e termina repensando as decisões feitas no passado.
Como o cinema brasileiro, que ao focar em tramas mais de ação e problemas sociais vê o sucesso bater em sua porta, as obras argentinas buscam falar de coisa que podem acontecer com qualquer um de uma forma humana e focada nos personagens e seus dramas. É também o caso do filme Abutres (Carancho, 2010).

Na película vemos a vida de Sosa (Ricardo Darín), um advogado especialista em lucrar com o mercado de indenizações de vítimas de trânsito que passa a repensar seu trabalho quando se apaixona por uma jovem médica (Martina Gusman) que cuida dos feridos em acidentes.

O que de inicio parece uma simples história de amor e encontro de almas perdidas, com o decorre do filme se transforma em um thriller que escancara um comercio ilegal milionário que envolve advogados, médicos, enfermeiros e clientes. Acidentes provocados, contratos injustos, mortes ocasionais, tudo culmina em perseguições e decisões difíceis a serem tomadas pelos protagonistas.

Outra coisa muito boa do filme é sua trilha sonora rock ‘n roll que contagia a cada cena de ação, sem contar as boas atuações de Ricardo Darín (o mesmo de O Filho da Noiva, O Segredo dos seus Olhos, Nove Rainhas, XXY, Clube da Lua e Kamchatka, um arroz de festa com estilo).
Como bem ressaltou o Rubens Ewald Filho ao falar do lado social de Tropa de Elite 1 e 2 e especulando sobre uma terceira investida do Roberto Nascimento, colocou que:
Dificilmente vão repetir o feito deste filme argentino, que fez tanto sucesso que provocou uma reação que fez com que as denúncias fossem ouvidas. E mudaram a lei, proibindo o que o filme mostra. Agora só o governo pode atender os casos, não mais advogados de porta de cadeia (como diziam os americanos, advogados malandros, que correm atrás de ambulâncias para conseguiram clientes para assim arranjarem processos).
Ao menos foi o que contou no Brasil o seu astro principal, Ricardo Darin. O filme reforça nossa crença de que o cinema ainda consegue realizar mudanças sociais e consertar males da sociedade. De qualquer forma, é um fascinante relato do submundo da lei.
Assisti ao filme em um festival de direitos humanos, por sinal, com “casa lotada” e aplausos ao fim da exibição., isso já mosntra como Abutres é uma boa pedida para quem gosta de ver o que existe por trás das noticias de jornais e do dia a dia rotineiro que tanto estamos cansados de ver, além de reforçar a qualidade do cinema dessas bandas daqui, tanto que Hollywood já encheu os olhos em cima de um remake.

Abutres
Direção: Pablo Trapero
Elenco: Ricardo Darín / Martina Gusman / Carlos Weber / José Luis Arias / Loren Acuña
Origem: Argentina/Chile/Coréia do Sul/França
Duração: 107 minutos

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