Por Marcelo Soares
Tem poucas coisas na vida que nos fazem esquecer o stress e desenganos do dia-a-dia, e há 15 anos uma dessas coisas nos deixou e foi tomar “umzis” no grande palco do céu.
Mussum teve origem humilde, nasceu no Morro da Cachoeirinha, no Lins de Vasconcelos subúrbio do Rio de Janeiro. Estudou durante nove anos num colégio interno, onde obteve o diploma de ajustador mecânico. Pertenceu à Força Aérea Brasileira durante oito anos, ao mesmo tempo em que aproveitava para participar na Caravana Cultural de Música Brasileira de Carlos Machado. Foi músico e sambista, com amigos fundou o grupo Os Sete Modernos, posteriormente chamado Os Originais do Samba. O grupo teve vários sucessos, as coreografias e roupas coloridas os fizeram muito populares na TV, nos anos 70, e se apresentaram em diversos países.
A vida humorista começou no programa Bairro Feliz (TV Globo, 1965). A lenda diz que foi nos bastidores deste show que Grande Otelo lhe deu o apelido de Mussum, que origina-se de um peixe. Em 1969, o diretor de Os Trapalhões, Wilton Franco, o vê numa apresentação de boate com seu conjunto musical e o convida para integrar o grupo humorístico, na época na TV Excelsior. Mais uma vez, recusa; entretanto, o amigo Manfried Santanna (Dedé Santana) consegue convencê-lo, e Mussum passa a integrar o quarteto (que na época ainda era um trio, pois Zacarias entrou no grupo depois) que terminaria tornando-o muito famoso em todo o país.
Uma de suas paixões era a escola de samba Estação Primeira de Mangueira, todos os anos sua figura pontificava durante os desfiles da escola, no meio da Ala de baianas, da qual era diretor de harmonia. Dessa paixão veio o apelido “Mumu da Mangueira”. Muito querido dos companheiros de trabalho e pelos fãs, Mussum era natural em frente as telas: alegre, brincalhão, risonho, não precisava fazer esforço para ser engraçado de acordo com os colegas.
Era considerado por muitos o mais engraçado dos Trapalhões. No programa, popularizou o seu modo particular de falar, acrescentando as terminações “is” ou “évis” a palavras arbritrárias (ex: forévis, cacildis, coraçãozis) e pelo seu inseparável “mé”. Ele também tinha um jeito esculhambado, irreverente e descontraído engraçadíssimo, num momento gritando e bancando o valente, e noutro gemendo e chorando. Sua gargalhada e seu grande sorriso eram suas marcas registradas. Numa época onde ainda não havia o patrulhamento “politicamente correto”, Mussum se celebrizou por expressões onde satirizava sua condição de negro, tais como “negão é o teu passadis” e “quero morrer pretis se eu estiver mentindo”, além de recorrentes piadas sobre bebidas alcoólicas.
Mussum faleceu em 29 de julho de 1994, aos 53 anos, não resistindo a um transplante de coração, e foi sepultado em São Paulo. Deixou um legado de 27 filmes com Os Trapalhões, além de mais de vinte anos de participações televisivas. O negro irreverente, cachaceiro e malandro, era um símbolo do país, um bom exemplo de como levar a vida na piada sem fazer dela uma piada. Para todos que virão suas brincadeiras nas noites de domingo, só resta a saudade. “Mussum Forevis”.