Uaréva! Marcelo Soares,Uaréview A Culpa é das Estrelas

A Culpa é das Estrelas

-Ok?
-Ok!
– Ok então.
O livro e o filme, provavelmente, foram pensados e construídos para fazer seu público chorar. Tendo isso em mente, é possível entender os outros pontos que compõem a obra de John Green (autor) e Josh Boon (diretor).

Mary Jane, quer dizer, Shailene Woodley
A Culpa é das Estrelas traz a história de Hazel Greca Lancaster (Shailene Woodley, a quase nova Mary Jane), diagnosticada com câncer que se mantém viva graças a uma droga experimental. Após passar anos lutando com a doença, ela é forçada pelos pais a participar de um grupo de apoio cristão. Lá, conhece Augustus Waters (Ansel Elgort), um rapaz que também sofre com câncer.
Os dois possuem visões muito diferentes de suas doenças: Hazel preocupa-se apenas com a dor que poderá causar aos outros, já Augustus sonha em deixar a sua própria marca no mundo. Apesar das diferenças, eles se apaixonam. Juntos, atravessam os principais conflitos da adolescência e do primeiro amor, enquanto lutam para se manter otimistas e fortes um para o outro.
A formatação de seus protagonistas já deixa bem claro a platéia que o filme busca atingir, ao criar uma garota que se sente deslocada da sociedade e feia e um garoto com ares de príncipe encantado, que fala as coisas certas no momento certo, é engraçado – recurso usado como um alivio a tensão em relação ao estado de saúde da protagonista -, consegue tudo como se fosse magia (ponto referenciado várias vezes ao referir-se a 3 pedidos concedidos por gênios da lâmpada), virginal como a protagonista e que leva a vida com doença de uma forma leve, enfim, alguém impossível de não se apaixonar.
A protagonista com um “Cameron” wanabe
Esses lugares comuns estereotipados se lançam também por outros personagens, como o amigo do “príncipe” que só surge para mostrar como a paixão pode ser ridícula; o escritor alcoólatra, desorganizado, rabugento, isolado e que não liga para seus fãs (personificado por um William Dafoe em sua cara comum de atuação); e os pais preocupados que parecem não ter mais vida por conta da doença da filha. Nem me proponho a me aprofundar na discussão de que é uma história feita dentro de um universo de classe média – no qual em um momento pais não tem dinheiro para uma viagem, e, logo em seguida, aparecem podendo sem maiores explicações – com personagens caucasianos inseridos “num mundo cruel” o qual lhe dá doenças que interrompem sua felicidade.
Sem contarmos a estereotipia colocada em cenas, como a repetitiva e nada criativa sequencia na casa de Anne Frank, onde a narrativa compara através do visual e o sonoro colocados paralelos a trajetória de Hazel com a da fugitiva dos soldados nazistas da Segunda Guerra Mundial. Assim, vemos todos esses elementos postos para criar uma rápida leitura, sem muita necessidade de aprofundamento, por parte do espectador – que já conhece bem esses “personagens” de tantos outros filmes anteriores.

Mas, dentro da sua proposta, A Culpa… consegue se sair bem. Tem uma direção que não compromete, na verdade reforça bem a mensagem e o intuito da história, uma trilha sonora com ares indies que serve também ao propósito, e atuações que, se não são fantásticas, fazem bem o seu papel. A mensagem do filme é uma boa mensagem, e nesse ponto é bem construída e passada, expondo nas entrelinhas que não devemos nos preocupar como as pessoas ficarão depois que morrermos, mas, sim, aproveitar todo o tempo que ainda temos ao lado delas, os “pequenos infinitos”, para dizer o quanto a amamos.

Mesmo não sendo uma grande obra, é possível compreender o sucesso entre seu público alvo e sua importância em uma discussão sobre a morte prematura de jovens, as questões filosóficas da vida e no que isso pode ocasionar. Além, também, de mostrar que pessoas com doenças terminais – como câncer – podem ainda ter uma vida e fazer atividades como qualquer outra. Um filme para chorar, claro, mas para também se refletir.

Ps: dentro da mesma temática de relacionamento entre dois jovens com uma temática de doença terminal envolvida, indicaria mais se ver Os Inquietos, do diretor Gus Van Sant. Uma bela representação do amor juvenil e de como lidar com a morte nessa fase da vida, sem o melodrama como recurso de aglomeração de audiência.

A Culpa é das Estrelas
Direção: Josh Boone
Elenco: Shailene Woodley, Ansel Elgort, Nat Wolff, Laura Dern, Willem Dafoe, Mike Birbiglia
Nacionalidade: EUA

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MARCELO SOARES

Mestre em Comunicação, jornalista, trabalha com Assessoria de Imprensa e é editor do nosso podcast. Colabora com textos para o blog, como resenhas e notícias.
Twitter: @masquesoares

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