Só então Reinhold Hoffman soube, da mesma forma que Konrad Schneider e no mesmo momento, que tinha perdido a corrida. E soube que a tinha perdido não por uma questão de semanas ou meses, conforme temera, e sim de milênios.
Recentemente o canal Syfy encomendou a produção da minissérie Childhood’s End, baseada no clássico da literatura de ficção científica “O Fim da Infância”, escrito por Arthur C. Clarke (autor de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”) em 1953. Criada por Matthew Graham (Life on Mars), a minissérie vai mostrar a invasão pacífica de uma raça alienígena conhecida como os Senhores Supremos, cuja chegada põe fim às guerras que estavam acontecendo na Terra e transforma o planeta quase em uma utopia. Fim da Infância terá seis episódios, dirigidos por Nick Hurran (Doctor Who), mas ainda não tem data de estréia definida.
O livro é um desses clássicos que a grande maioria não conhece, mas se apaixona logo que lê. A história começa na década de 50, a corrida espacial fervia na mente e nas emoções de russos e americanos. Chegar primeiro ao espaço e a lua era ordem de primeiro grau em orçamentos, noticiários, discussões e planos internos dos governos envolvidos. Anos de planejamento são jogados no lixo quando várias naves gigantescas surgem nos céus das principais cidades do mundo. O homem definitivamente não estava só no universo, a pergunta que não calava durante anos fora respondida. E agora?
Nessa história, Arthur Clarke trata da chegada de uma raça extraterrestre de uma forma surpreendente, não vemos presidentes pilotando naves em uma guerra, nem um pai de família correndo com a filha fugindo de insetos gigantes, mas sim extraterrestres que querem evoluir a raça humana, torná-la mais pacifica e unida. Anos depois do surgimento das naves nos céus do mundo o mundo passou a acatar algumas ordens para o “bem estar dos humanos” vindas dos estrangeiros terrestres; o secretário-geral da ONU vive de reuniões com os novos Senhores Supremos (nome dado pelos humanos aos alienígenas) onde nem uma olhadinha neles ele pode dar – imagine uma sala onde você fica de um lado e atrás de um telão uma sombra gigantesca. Contudo, sempre existem os contrários ao modo vigente e nesse caso é a Liga da Liberdade com suas passeatas e até sequestros.
Esse é o mundo no fim do século vinte e da primeira parte do livro, que na minha opinião é a mais instigante e sempre imaginei como um roteiro de filme ou seriado mesmo – cheio de intrigas sobre a descoberta por parte de um jornalista da possível vinda das naves e a chegada delas em um season finale da primeira temporada – e quem sabe um quadrinho até. A segunda parte salta 50 anos no tempo para mostrar a Terra modificada pelos Senhores Supremos e várias surpresas que já apontam para onde a história seguirá e o finale avança mais ainda no tempo para mostrar o que o ser humano se tornou e qual o propósito de tudo isso.
Li pela primeira vez O Fim da Infância quando tinha treze anos e desde lá pelo menos uma vez por ano a releio, para ver novos ângulos a partir de novas experiências e conhecimentos meus. O livro pode ser visto de várias formas, uns dizem ser um jeito pessimista de se ver o futuro da humanidade – onde para evoluir deixaremos de ser o que somos – outros uma forma otimista a partir do ponto de libertação e integração com algo maior, tudo isso porque ao invés de tratar de naves em ataque e explosões sem sentido, a história de Clarke trata de mudanças; convívio entre raças; sobre a curiosidade humana e seu potencial. É leitura recomendada para qualquer fã de ficção científica e admirador da arte de tentar entender o ser humano e suas atitudes, uma leitura fácil e reflexiva.
O Fim da Infância
Editora: Aleph
Ano: 2010
Preço: R$ 35,90