Como Criar um Monstro

“Eu tenho essa ideia sobre por que as pessoas fazem coisas terríveis. A mesma razão pela qual crianças implicam umas com as outras no jardim da escola. Se você for quem está implicando, então não será aquele com quem implicam. Se você for o monstro, então nada estará te esperando nas sombras para pular sobre você. É bem simples, na verdade. As pessoas fazem coisas terríveis por que estão com medo.”

“O que faz um homem ser o que ele é? São as piores coisas que já fez, ou as melhores coisas que ele quer ser? Quando você se encontra no meio da sua vida e não está nem perto de onde você estava indo, como você encontra o caminho da pessoa que você se tornou para a pessoa que você sabe que poderia ter sido?”

“Pessoas são solitárias nesse mundo por um monte de razões diferentes. Algumas pessoas possuem algo à sua disposição. Talvez eles nasceram malvados demais, ou talvez sensíveis demais. Mas a maior parte das pessoas são levadas pelas circunstâncias, pela tragédia, um coração partido ou algo mais acontecendo em suas vidas que não era aquilo que elas planejavam. Pessoas são solitárias neste mundo por um monte de razões diferentes. A única coisa que eu sei é, não importa o que qualquer um deles possa lhe dizer – Ninguém quer ficar sozinho.”

“A maioria das pessoas muda devagar. São quem são e então depois de um tempo, são outra coisa. Mas algumas pessoas sabem o momento exato onde suas vidas mudaram. Eles vêem a pessoa com quem eles casaram ou o olhar do filho na primeira vez que ele sorri. Mas para algumas pessoas, não são as coisas boas na vida que os fizeram mudar. É algo pelo qual passaram que faz tudo o que eles olham parecer diferente do que sempre foi.”

Taken

O que faz um monstro? Em que momento da vida uma pessoa deixa de ser um filho(a), um irmão, um pai/mãe e se transforma em uma caricatura violenta e desprezível de um ser humano? É complicado saber. Mas acho que posso falar com certa segurança que, o que quer que seja, não acontece da noite para o dia.

Talvez a receita não seja tão difícil assim. Pode começar com pais autoritários ou com uma criação extremamente negligente; continuar com problemas de interação social, ou reclusão, ou alguma válvula de escape. Pode seguir a vida adulta se sentindo inadequado, fora desse mundo, desajeitado, feio, rejeitado. Pode começar a pensar que talvez nunca tenha sido amado por que não mereça. Por que é uma pessoa ruim. Por que não serve para essa vida. Por que nunca vai ser alguém de quem se tem orgulho. Por que nunca será alguém em qualquer circunstância. E a única maneira de fazer a vida ter sentido é fazendo com que outras pessoas se sintam tão mal ou piores que você. É fazê-las sentir aquilo que você sente o tempo inteiro.

Acho que essa é uma boa maneira de fazer um monstro. E nós, a sociedade, somos muito bons nisso. Nós deixamos pessoas morrer de fome na rua por que “não é problema nosso”, impedimos pessoas de se reabilitarem por que eles “fizeram uma escolha”, deixamos crianças morrer na fila de adoção por que “uma família é constituída de um homem e uma mulher”. Nós deixamos nossas crianças sozinhas em um ambiente hostil, com outras crianças, onde eles terão que se virar sem nenhuma ajuda, por que se os professores chamarem seus pais por que eles estão sendo incomodados, as consequências serão piores. Afinal, nem pais nem professores podem estar 100% do tempo cuidando deles. Por que “não temos tempo”. Então, neste ambiente selvagem, as crianças aprendem a se defender sozinhas, ou não. Criam grupos, estabelecem regras, acatam o que é comum e desprezam, rejeitam e ridicularizam o que é diferente e/ou menos comum. Aqueles que fazem parte do comum se adaptam facilmente, os que não são, precisam fingir que são. Quando não conseguem, são punidos, muitas vezes severamente. Uma punição que ecoará pela vida inteira, pois estas crianças serão julgadas sem sequer entender por que.

Uma verdadeira fábrica de monstros.


Não é a toa que o mundo é mal. Não nascemos monstros, mas nos certificamos de que eles sejam manufaturados desde o começo, no momento em que negligenciamos em casa a necessidade de amor, carinho e atenção, para depois nos livramos do “peso” de cuidar de um ser humano jogando ele numa jaula onde ele aprenderá tudo o que precisa para deixar de ser uma pessoa e se tornar aquilo que a sociedade espera que ele se torne: um verdadeiro monstro.

Somos todos monstros. Alguns monstros sabem que são monstros e não se importam mais. Outros usam máscaras, esperando que um dia elas se tornem suas verdadeiras faces. Outros lutam para trazer de volta sua humanidade perdida. Outros sequer percebem que são monstros. Mas não importa em qual dessas opções você se enquadra: você, assim como todo mundo, é um monstro. Nos fizeram assim, a partir de um ciclo interminável que alimenta a si próprio. Nós somos ao mesmo tempo os opressores e os oprimidos, as vítimas e os criminosos. Monstros criando monstros. Não temos culpa de sermos assim. Mas com certeza temos culpa por continuar levando isso adiante.


Só há uma maneira de encerrar esse círculo vicioso, de uma vez por todas. Só há uma maneira de se redimir. Não podemos permitir que a sociedade (que é, na verdade, nós mesmos) transforme nossas crianças em monstros. Temos que impedir a transformação logo no início. Temos que dar atenção para nossas crianças. Temos que nos colocar no lugar deles. Temos que fazer com que percebam que são amados, que merecem serem felizes. Temos que lembrá-los todos os dias que eles são lindos, que são inteligentes, que temos orgulho, qualquer que seja a decisão que tomem na vida. Temos que lembrá-los, todos os dias, que eles são pessoas, não importa o que digam. Só assim teremos a chance de ver uma nova sociedade, uma que tenha seres humanos de verdade ao invés de monstros.

Passamos toda a história da humanidade criando monstros. É hora de começarmos a criar pessoas.

Este texto foi um pedido pessoal que foi feito a mim, para falar sobre o assunto “Bullying”. Acho que não era bem esse tipo de texto que a pessoa esperava, mas achei que era pertinente escrevê-lo assim.

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