Em 1987 nas páginas do especial
Batman: O Filho do Demônio nascia, literalmente, a figura de
Damien Wayne, filho de
Bruce Wayne com
Thalia Al Ghul, filha de um dos seus piores inimigos. O que seria um passo além na história do herói conhecido como
Batman, amadurecendo-o e o envelhecendo, foi esquecido e aos poucos descontinuado.
Então, foi muito surpreendente quando em 2006 o escritor Grant Morrison trouxe o personagem de volta, agora entrando na pre-adolescência. Mais surpresa ainda foi quando em 2013 o mesmo autor decidiu matá-lo.
Ao aparecer em Batman #655, Damien era recolocado na cronologia do Homem-Morcego como um filho bastardo desconhecido, criado pela mãe, o garoto havia sido treinado para ser um grande assassino e ser a destruição de Bruce. Contudo, ele se rebela contra as intenções maternas e se debanda para o grupo de vigilantes do pai.
Após o desaparecimento de Wayne senior, após a saga R.I.P., onde é dado como morto por praticamente todo mundo, seu filho assume o manto de Robin e passa a atuar junto com Dick Grayson (ex-Robin, ex-Asa Noturna), que assume o manto do morcego, no combate ao crime em Gotham na revista Batman and Robin #1 (agosto de 2009). E foi nessa revista que de fato o personagem ganhou notoriedade com seu temperamento esquentado, irônico, ousado, impulsivo, e sua dinâmica com o primeiro parceiro do Batman.
A revista foi sucesso de vendas, muito também pelo roteiro ágil, repleto de ação, acompanhado de perto pelo belo trabalho do Frank Quitely nos desenhos. Não tinha como não passar a amar o novo Robin, que se tornou o definitivo para mim. Com o retorno de Bruce Wayne e a Corporação Batman, Damien pela primeira vez começou a ter uma aproximação real com seu pai, um pouco de cada vez.
E quando a preocupação de pai com filho estava mais forte, e o relacionamento dos dois mais consolidado, e durante a luta contra a organização terrorista Leviathan, controlada pela sua própria mãe, Thalia, Morrison resolveu matar sua “criação”.
Vi algumas pessoas reclamando que a morte desse Robin não foi tão impactante, visualmente, como a do Jason Todd – e também diferente do anterior, Damien lutou mais em sobreviver. Pra mim, esse foi um ponto acertado da história, mostrando que baixas em guerras acontecem sem pompas, como só mais um evento colateral qualquer, dentro de um todo.
Buscando, além de lucrar em cima do acontecimento, homenagear o personagem, os autores de outras revistas repercutiram o fato, mas, sem sombra de duvidas, a mais criativa e bem feita homenagem ao jovem herdeiro dos Waynes foi feita pelo roteirista Peter Tomasi em Batman e Robin #18.
Em uma ideia genial, o autor mostra uma noite de ronda de Bruce Wayne após o funeral de seu filho. Em uma edição praticamente sem texto, somos levado para o interior da alma arruinada do personagem, que a cada ação, a cada lugar que passa, recorda um momento com Damien, causando um aumento de sua ira pela morte do parceiro noturno de vigilância.
Mortes nos quadrinhos (e não só neles, mas na mídia em geral) já se tornaram algo tão comum, e seus retornos, que muitas vezes se perde a sensibilidade sobre o assunto, o feeling de tratar com carinho e zelo pelo momento de luto. E se essa edição não ganhar prêmios por fazer tudo isso de uma forma mais que digna, mereceria com certeza.
Tomasi enche a revista com momentos marcantes e emocionais, e para qualquer ser humano – até um leigo em quadrinhos – que tem o minimo de coração e relacionamento paterno – seja pai mesmo ou filho – não pode terminar de ler sem um aperto no peito e lágrimas nos olhos. Um desses momentos lindos dos quadrinhos que me faz amar essa arte gráfica.
Mais um Robin foi destituído de sua vida por um vilão, e espero – apesar de saber como as coisas rolam na nona arte mainstream editorial – que permaneça onde está para manter maculada o impacto de sua partida. Damien Wayne está morto, vida longa a Damien!
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