Há muito tempo atrás, em um reino de fantasia muito distante, eu dei de cara com uma revista em quadrinhos de um autor que na época não conhecia direito. A revista chamou minha atenção por sua bela capa e desenhos, além de tratar de forma fantasiosa um tema do qual gosto muito de debater. Esse autor era Neil Gaiman, a revista A Paixão de Arlequim.
Arlequim, personagem da
Commedia Dell’Arte, um pregador de peças, um ser que se divirte em criar confusão, um dia encontra Missy, uma bela mulher a qual ele acredita ser sua
Columbina. Assim, em um gesto de amor e, ao mesmo tempo, travessura ele prega seu coração na porta da casa dela. Os acontecimentos seguintes se desenvolvem em torno do que Missy faz com o coração do Arlequim, enquanto ele a segue pela cidade, cada vez mais apaixonado.
Neil Gaiman (roteiro) se reencontra com seu companheiro de
Livros da Magia,
John Bolton (desenhos), e no traz uma história moderna e mágica de busca pelo amor, onde encontramos outros personagens da Commedia Dell’Arte, como o
Doutor e o
Pantaleão, seres que com o tempo ficaram até mais escondidos perante o sucesso do triangulo amoroso Arlequim, Colombina e
Pierrot.
Curiosamente, nessa história, o Pierrot não aparece diretamente, ele se encontra dentro do próprio Arlequim, que sofre por não ter a pessoa amada, o próprio diz o quanto está se sentindo “quase como um Pierrô, o que é péssimo para um Arlequim”.
Lembro que quando comprei essa revista, alguns amigos acostumados com narrativas mais super-heróicas e na velha arrogância da adolescência, que acha reflexões sobre amor coisa brega ou sem graça, desdenharam da revista. Uma pena para eles, pois com esse conto fantasioso, Gaiman busca repaginar a Commedia e mostrar como o ser humano vive constantemente em busca de ser correspondido, mais até do que realmente amar.
Ainda digo mais, o autor ressalta como também vivemos mudando de “status quo”, ou seja, hora somos os apaixonados que sofrem por quem não os ama e hora aquele que faz alguém sofrer. E falando mais um pouco, e isso ele encaixa bem no fim da história, como temos medo de expressar nossos sentimentos.
O desenho de Bolton também busca esse ar fantasioso, mesclando com uma estética de pintura que remete a quadros e pintores do período onde a Commedia italiana surgiu, século XVI. Dando ainda uma sensação de fotorealismo
A história ainda traz um apêndice com páginas-guia referentes à Arlequinada, com a história da Pantomima e da Commedia Dell’Arte, e a descrição de todos os arquétipos. Há ainda uma história sobre Bolton e uma breve e fantasiosa biografia de Gaiman.
A Paixão de Arlequim é mais do que recomendado, principalmente para aqueles que vêem o mundo e o amor como algo além da racionalidade do dia-a-dia, como um reino de fantasia que a tudo pode e onde a magia está logo ali, é só você olhar bem.
Título: A Paixão de Arlequim
Editora: Conrad
Lançamento: Novembro de 2002
Preço: R$ 9,90
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