“Isso vai custar seu suor e lágrimas, e talvez… Um pouco de sangue.”
A ficção é recheada de histórias que tem os vampiros como personagens principais. As primeiras peças de ficção relacionada ao tema surgiram entre os anos 1720 a 1730, durante a histeria coletiva que gerou diversas exumações de corpos, além das histórias de Peter Plogojowitz and Arnold Paole na Sérvia. Mas é considerado o primeiro exercício literário sobre um vampiro o poema alemão “Der Vampyr”, de Heinrich August Ossenfelder, que já trazia os elementos de romance e erotismo relacionados ao mito. Na história, uma dama recusa os cortejos de um misterioso homem, a conselho de sua mãe, pois ele vem de uma região assolada por vampiros. O homem – que é realmente um vampiro – passa a fomentar desejos de vingança, querendo invadir o leito da dama e sugar-lhe o sangue. Esse poema já estabelecia as bases para o mito do vampiro: a natureza predatória, o impulso erótico e o clima sobrenatural. Johann Wolfgang von Goethe foi outro que se aventurou por histórias de vampiros, com o poema “The Bride of Corinth”, que traz ainda o conflito entre o cristianismo ensinado pelos pais e o paganismo.
No século 19, diversos autores utilizaram o tema em seus escritos, como Lord Byron, John William Polidori e Alexandre Dumas – esse mesmo, o criador do Conde de Monte Cristo e os Três Mosqueteiros. Mas a descrição definitiva do vampiro moderno surgiu com a publicação do livro Drácula, de Bram Stocker. Inspirando-se em Vlad Tepes III, príncipe da Valáquia (mas com pouca coisa em comum com o personagem da ficção, além do fato de ser um “nobre” e ter o mesmo nome), o livro traz em grande parte elementos criados no poem Der Vampyr, mas expandindo os conceitos, tornando o vampirismo uma doença sobrenatural e mantendo as relações de erotismo envolvendo morte, sangue e paixão ardente. Drácula foi sem dúvida a obra que definiu o mito do vampiro, e do qual até hoje serve de inspirações para histórias do gênero.
Com o avento do cinema, os vampiros não tiveram dificuldade de se popularizar nessa nova mídia, que expandiu o tema e contou com interpretações das mais diversas, criando obras originais e criativas, como o filme francês Le prisonnier de la planète Mars, de Gustave Le Rouge, que contou em 1908 a história de uma raça de humanóides parecidos com asas de morcego sugadores de sangue encontrados em marte. Richard Matheson, autor conhecido da ficção científica e fantasia também agregou ao mito em seu romance “I am Legend” (Eu sou a Lenda), de 1954 e levado para o cinema mais de uma vez (a última foi recentemente, em um filme estrelado por Will Smith), que conta a história de um homem que, num futuro próximo se vê sendo o último homem da terra em meio à uma população afetada por uma bactéria que transformou todos em vampiros.
Ainda no cinema, outras obras merecem ser citadas: “Drácula”, adaptação da peça de teatro homônima – que por sua vez se baseia no romance de Bram Stocker – com Bela Lugosi, de 1931, “Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens”, de F. W. Murnau, que traz um vampiro mais amedrontador do que sedutor, “Fright Night” (A Hora do Espanto), de Tom Holland que traz um olhar mais “divertido” sobre os vampiros e “Bram Stocker’s Dracula”, de Francis Ford Copolla, considerado uma das obras definitivas sobre o tema. Vale citar também o longa “Shadow of the Vampire” (A Sombra do Vampiro) que, apesar de não ser exatamente um filme de terror, presta homenagem ao clássico Nosferatu e é um filme altamente recomendável (prometo um review dele num futuro próximo).
Mas não foi só o cinema e a literatura que usou o tema em suas histórias. Os quadrinhos também trouxeram seus personagens vampiros, como Morbius (vilão do Homem Aranha), Blade, o Caçador de Vampiros (que teve 3 adaptações cinematográficas de sucesso), além do próprio Drácula, que foi coadjuvante em diversas histórias e teve até revista própria pela Marvel, nos anos 70. Vale citar também as recentes abordagens ao tema nas Hqs, como as mini-séries “Tempestade de Sangue” e “Chuva Rubra”, que mostram uma realidade alternativa onde Batman é um vampiro, o vilão cósmico Mandrakk, que aparece em Crise Final e as séries de Hqs de 30 Dias de Noite de Steve Niles. Na TV, o tema foi bastante explorado, e podemos citar séries de sucesso como Buffy – A Caça Vampiros e seu spin-off Angel.
É até injusto não citar todas as obras bacanas sobre vampiros, sejam elas na literatura, quadrinhos, séries ou inclusive games, mas infelizmente seria muita coisa para pouco espaço.
Curiosidades:
– The Bride of Corinth, de Goethe, traz a primeira história de um vampiro do sexo feminino;
– Alguns desses poemas clássicos sobre vampiros estão disponíveis na rede, como Der Vampyr e The Bride of Corinth (ambos em inglês).
Na próxima Madrugada:
Uma nova era desponta no horizonte, com vampiros diferentes dos quais estamos acostumados. Onde isso começou? E para onde vai? É o que saberemos na próxima semana, quando estivermos por dentro da Nova onda.