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Herói do povo… Mas com arco e flecha

No post anterior:
Dois personagens aquáticos chegam aos novos tempos. Para um, a vida é fácil, para outro, nem tanto. Como esses dois personagens sobreviveram à uma era em que os velhos heróis são considerados ultrapassados? Será possível seguir adiante sem mudar completamente?


“Enquanto isso, na banda desenhada…” é uma seção que traça um paralelo entre o universo real e o mundo dos quadrinhos, analisando como as duas realidades afetam uma à outra, trazendo informação e estimulando a reflexão acerca dessa 8ª arte.


Como já disse outras vezes, todas as bases do gênero super-herói surgiram durante o primeiro período de publicação dos mesmos, durante a chamada Era de Ouro, assim como os prinipcais personagens. Arqueiro Verde não é diferente.

Os anos 40 foram uma época bastante produtiva para as histórias em quadrinhos americanas. Após o surgimento de Superman e Batman, a cada mês pipocavam novas revistas com novos super-heróis que combatiam o crime com incríveis poderes e/ou habilidades. Não havia muito consenso sobre as “regras” de se fazer uma história do gênero, mas para aproveitar a onda e garantir o sucesso, os autores e editoras sempre se baseavam nas mesmas fórmulas que surgiram com os primeiros heróis, como Superman, Batman, Flash, Capitão América, Namor e Tocha Humana, ou seja: identidades secretas, acidentes que davam poderes, experimentos – secretos ou não, roupas semelhantes aos dos artistas circenses ou uma gama de armamentos especiais e temáticos. Por isso era comum também, nesse período, as personalidades dos heróis não diferirem muito umas das outras com raras exceções (Como Namor, por exemplo).

Em 1941, surgiu na revista More Fun Comics um personagem que, apesar de não ter nada de muito criativo, conquistou bastante sucesso entre os fãs. O roteirista Mort Weisinger, inspirado principalmente por Batman, num filme seriado de 1921 chamado The Green Archer e em Robin Hood, trouxe aos fãs o Arqueiro Verde. Originalmente, Arqueiro Verde era Oliver Queen, estudioso da cultura dos índios americanos, que costumava viver entre eles, tendo muito respeito por essas culturas. Ao descobrir os rastros da lendária cidade de Pueblo City, encontrou lá uma estátua de ouro. Mas malfeitores haviam seguido Oliver e tentaram matá-lo, bem como a um índio amigo e o filho deste, Roy Harper. A perícia em arco e flecha dos 3 (e do qual Ollie havia aprendido com os índios) deteve os bandidos, mas não sem antes levar a vida do índio no processo, deixando Roy aos cuidados de Oliver. Os dois decidiram então usar suas habilidades para combater o crime na cidade, usando o ouro da estátua para financiar suas carreiras de vigilantes, além de organizações beneficentes para índios.

Este Arqueiro Verde era bem diferente das encarnações posteriores. Além disso, por ser basicamente inspirado em Batman, possuía diversos elementos semelhantes, tais como disparar flechas dos mais variados tipos (flecha-luva de Boxe, flecha-explosiva, flecha-corda, etc), entre outros. Ele e Roy (que foi chamado de Ricardito – Speedy no original), também fizeram parte de algumas equipes do passado, tais como os Sete Soldados da Vitória e o All-Star Squadron.

Posteriormente, durante a Era de Prata, como aconteceu com a grande maioria dos personagens que sobreviveram á Era de Ouro, a origem do Arqueiro foi revista. Agora Oliver “Ollie” Queen era um milionário mauricinho que nunca teve muita responsabilidade na vida, até que um dia caiu de um iate, bêbado e foi parar em uma ilha deserta. Lá, ele precisou aprender a se virar sozinho, sem os luxos da riqueza pela primeira vez e só conseguiu se alimentar graças à um rústico arco e flecha que ele desenvolveu, e de onde adquiriu suas habilidades. Só conseguiu sair de lá tempos depois, quando um grupo de plantadores de maconha desembarcou na ilha. Ele prende os criminosos usando o arco e flecha e os entrega à guarda costeira. Seu retorno à sociedade foi num baile de máscaras beneficente, onde foi fantasiado de Robin Hood. Lá, percebeu que agora enxergava a vida de forma diferente, não tinha mais paciência para a futilidade dos ricos poderosos. Foi então que um assaltante adentra a festa e Oliver o detém, ato que o estimulou e o ajudou a decidir usar sua fortuna para combater o crime.

Mas a verdadeira mudança ainda estava por vir. No final dos anos 60, Dennis O’neil já estava cansado de contar as mesmas histórias de super-herói. Queria que elas fossem relevantes, e que os heróis tivessem algo a dizer. Influenciado provavelmente pelo advento da Marvel Comics e seus heróis, queria que os personagens DC fossem mais humanos. Neil Adams havia remodelado o visual do personagem, então O’neil aproveitou para repaginar também a personalidade do Arqueiro dando-lhe uma atitude mais radicalizada. Essa mudança de personalidade ocorreu quando, preocupando-se mais com sua carreira de herói do que com sua empresa, Oliver se permitiu ser enganado por um empresário manipulador, e como resultado, perdeu toda a sua fortuna. Esse fato mudou novamente a vida do herói, e Arqueiro Verde e Oliver Queen passaram a ser uma única pessoa, e ele passou a se dedicar exclusivamente a resolver os problemas das pessoas, e a ajudar os fracos e oprimidos, não importando quem tivesse que derrubar.

Nesse meio tempo, Oliver foi membro da Liga da Justiça e passou a namorar a versão da Era de Prata da Canário Negro. Suas atitudes acabaram afastando-o da equipe, mas isso trouxe uma das melhores fases do herói. Ao convencer seu amigo Hal Jordan (O Lanterna Verde) a deixar de ser um soldado que acredita piamente no que seu superior lhe diz e desafiá-lo a conhecer os verdadeiros problemas do mundo, os dois heróis saem viajando pelos Estados Unidos, enfrentando problemas sociais, tais como racismo, abuso, drogas, prostituição, entre outros. Durante este período, também descobrimos que Ricardito era um viciado em drogas em uma das histórias mais chocantes e emocionantes da história dos super-heróis. Essa fase se deu em uma revista conjunta dos dois personagens, é considerado um divisor de águas nos quadrinhos e precursor de mudanças nas histórias que ocorreriam posteriormente nos anos 80. Pela primeira vez, começávamos a ver os heróis da DC como seres humanos, com seus problemas pessoais e suas falhas.

Arqueiro Verde foi o mais próximo de um “anti-herói” carismático que a DC já teve, pois fez muitas coisas que, para heróis, seriam consideradas “erradas”. Lutou contra o governo, se tornou praticamente um esquerdista, era radical, envolveu-se com uma de suas vilãs, que teve um filho dele, entre outras coisas. Mas tudo isso sem esquecer a luta contra os fracos e oprimidos. Em termos de comparação, Oliver era quase um “líder sindical”: tinha seus próprios problemas afinal era um ser humano, mas era a voz do povo em meio à heróis que se colocavam acima deles. Mas as atitudes de Oliver não o levariam muito longe.

Nos anos 90, para deter um grupo paramilitar chamado Corporação Éden usando seu próprio senso de justiça, Oliver ficou com um dos braços preso em um avião e, mesmo com a presença de Superman, preferiu ficar ali a ter seu braço decepado. O resultado foi que o personagem morreu na explosão do avião. Posteriormente, Queen foi substituído por seu filho bastardo Connor Hawke, um jovem que havia sido criado em um mosteiro, e apesar de se rum exímio lutador (um dos melhores do planeta), não conhecia muito sobre a nossa sociedade contemporânea.

Connor chegou a participar de diversas histórias com personagens DC, como Batman e também participou por um curto período da Liga da Justiça, e permaneceu como o Arqueiro Verde “oficial” até que Oliver Queen retornou à vida graças à Hal Jordan (na época em que havia se tornado o vilão Paralax).

Quando retornou, Arqueiro Verde continuou quebrando tabus. Adotou uma jovem portadora do vírus HIV – que se tornou a Ricardita, casou-se com a Canário Negro (com quem sempre teve um relacionamento instável) e se candidatou à prefeito de sua cidade e venceu, passando a dividir suas tarefas entre limpar a cidade por dentro e por fora do sistema. E a mini-série Cry for Justice e a subseqüente The Rise and Fall of Green Arrow prometem trazer ainda mais transformações radicais à um herói que sempre mudou, sempre evoluiu, diferente da grande maioria dos personagens do meio, o que faz dele um dos heróis mais interessantes de acompanhar desde sempre.

Epílogo: Curiosidades:
– Apesar do Arqueiro Verde da Era de Prata ter sua origem revisitada e desvinculada dos nativos americanos, Roy Harper no entanto continuou tendo sua origem indígena;
– Atualmente, Arqueiro Verde é um dos personagens principais da série Smallville;

– Curiosamente, o ator que interpreta o Arqueiro Verde em Smallville (Justin Hartley) foi o protagonista do piloto da série Mercy Reef, onde fazia o papel de Aquaman. Ambos os personagens surgiram na mesma edição e foram criados pelo mesmo autor, Mort Weisinger;
– Segundo Bruce Timm (responsável pelas produções animadas da DC, tanto na TV quanto em DVD), um longa animado sobre a origem do personagem estava nos planos da Warner, mas alguém decidiu que o personagem não era conhecido o suficiente para sustentar sua própria animação solo;
– Arqueiro Verde era um dos personagens mais populares no desenho Liga da Justiça Sem Limites;
– Assim como virtualmente todos os personagens da Era de Ouro, o Arqueiro Verde original foi movido para a Terra-2, lar da Sociedade da Justiça;
– O Arqueiro Verde da Era de Ouro não “desapareceu” como a maioria dos heróis durante a Crise Nas Infinitas Terras, e sim foi uma das baixas da saga (o personagem é morto por um dos demônios das sombras do Antimonitor);
– Diferente da maioria dos personagens da Era de Ouro, que tiveram histórias solo e só depois de um tempo tiveram sidekicks, Arqueiro Verde sempre atuou com Ricardito, desde a primeira aventura;
– Arqueiro Verde era tão “inspirado” em Batman que tinha praticamente tudo o que o herói tinha, incluindo um “flechamóvel” e uma “flechacaverna”;
– Foi o primeiro herói popular a ter um título próprio regular com temática mais adulta, antecipando em mais de uma década o avento de histórias como a Linha “Max” da Marvel.

A seguir: O Sentinela da Liberdade

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