Depois da promoção Lost Uarévaa, voltamos a nossa programação normal.
E essa semana eu vou bater novamente em uma tecla: Séries Nacionais.
E dessa vez, uma que virou um pequeno vício meu.
Era uma vez um cartunista de nome Adão Iturrasgarai, que mantinha sempre um humor ácido, ousado e sem muitas preocupações com o politicamente correto.
Adão criou inúmeros personagens, como os hilários cowboys gays (muito antes de Brokeback Mountain) Rocky e Hudson. E a famigerada garota Aline.
Ninfomaníaca, Aline tem dois namorados, Otto e Pedro, que vivem fazendo todas as vontades dela. E olha que não é fácil agradar a garota, que tem as maiores paranóias e fantasias sexuais completamente malucas. E mesmo assim Aline costuma trair os dois com qualquer homem que apareça na sua frente.
Símbolo da liberação feminina e sexual, Aline é o sexo forte da relação, não suporta limpar a casa ou cozinhar, e morre de ciúmes de seus dois namorados.
O sucesso do triangulo amoroso foi para no Adult Swim do Cartoon Network.
Até que no final de 2008 a Globo fez o especial de fim de ano com a personagem. Maria Flor assumiu o papel da protagonista. Bernardo Marinho (ex-VJ da MTV) e Pedro Neschling encarnaram Otto e Pedro, os namorados.
O piloto logo mostrou que as tramas de Iturrasgarai seriam abrandadas, mas sem perder o humor das histórias. Aqui o sexo é debatido com mais cuidado, mas nem por isso com menos liberdade. O único defeito que eu vejo neste especial, que serviu para apresentar o programa ao público e testar sua aceitação, foi à necessidade do roteiro em mostrar em menos de meia hora tudo que podia. A história do episodio acabou sendo meio atropelada, assim como as piadas atiradas como metralhadora, não dando tempo ao espectador de degustá-las como devido, afinal, boa parte dessas piadas eram tiradas diretamente das tiras. Além disso alguns takes soaram meio perdidos no especial, como a cena da dancinha ao som de Amy Whinehouse.
Alguns meses depois a emissora oficializou a série na sua programação, com uma temporada de 7 episódios. Neste formato, aí sim Aline mostrou a qualidade que prometia. Enquanto o especial jogou várias histórias uma em cima da outra, o seriado dividiu em episódios cada dilema do trio.
Em live action Aline ganhou contornos mais meigos e românticos, assim como sua relação com Otto e Pedro se tornou muito mais romântica e menos explícita que no papel. A personagem agora é uma garota a frente de seu tempo, com um apetite sexual alto, mas nem perto da “desavergonhada” concebida originalmente.
E isso é um defeito? De forma alguma. A ousadia pode ter sido diminuída, mas não em detrimento da qualidade.
Maria Flor deu vida a uma apaixonante Aline. Ela é uma garota Rock N Roll, moderninha, desbocada, com uma “segurança insegura”. Neschling e Marinho também mandam muito bem como os namorados passivos e inaptos de Aline. Os dois são inseguros, imaturos e tem em Aline seu porto seguro. Enquanto Otto vive da mesada dos pais, enquanto Pedro vive de bicos pra lá e pra cá. Alias, o que mantém mesmo a casa é o salário parco de Aline, que trabalha em uma loja de CDs.
Os coadjuvantes são um show a parte. Fernando Caruso faz Wallace, o filho da sindica do edifício. Enquanto ela odeia a garota, Wallace é tarado por Aline. E não é só ele. Max, colega de trabalho na loja, também cai de quatro por ela. Otávio Muller e Gilberto Gawronski fazem um casal gay que nas poucas participações arrancam muitas risadas.
Mas o destaque total vai para Daniel Dantas e Malu Gali. Eu pessoalmente sou fã do Daniel Dantas, que sempre provou saber fazer humor e drama com a mesma competência admirável. Os dois fazem os pais de Aline, um casal em crise eterna, que vivem cenas divertidas, e em muitos momentos, emocionantes. O episódio em que os dois resolvem se separar, principalmente na cena em que eles quebram um vaso, vai da comédia a um drama delicado, para logo voltar à comédia, com uma naturalidade impar, que apenas dois grandes atores conseguiriam fazer.
O seriado começou um pouco tímido, porem divertido. Mas a partir do terceiro episódio ele engrena de vez. Aline TPM pra mim é o ápice da temporada, com as melhores tiradas de roteiro. Ele soma o sofrimento hilário de Otto e Pedro com o período de TPM da namorada com o divertido e tocante divorcio de José e Dolores.
Alem de tudo isso, Aline tem uma pegada pop bem bacana, com vinhetas e animações que ficam entre o apelo contemporâneo e um bucolismo inocente.
A trilha sonora é um caso a parte. Vai de “Cansei de ser Sexy”, “The Who”, “Led Zeppelin”, “Rita Lee” e até mesmo “Black Sabath”.
O mais bacana da série é que ela foge completamente do padrão. Não é massificada para não perder a identidade, e fala verdadeiramente com seu publico, um publico que talvez esteja cansado da mesmice que recebe e se agradou com a psicodélica simpática que viu.
Por fim, tenho que frisar um dos maiores pontos da série: quase toda gravada em externas em São Paulo, ela dá um realismo enorme na maluca vida de Aline, Otto e Pedro. Os takes da cidade da garoa são lindos, muito bem feitos e pra mim, um catarinense que adora essa terra que não para, é um gostinho a parte.
Aline, por fim, é além de uma divertida comédia, uma ode a liberdade de expressão, a liberdade afetiva, ao poder das mulheres, a juventude, aos desafios da vida, e principalmente, a felicidade acima de qualquer paradigma da sociedade.
Moura indica muito!
O DVD com oito episódios (o piloto e os sete da temporada) já está à venda. Clique aqui
PS: Este post não foi patrocinado 🙂
E não percam amanhã a estréia do Uarévaa entrevista, com Pedro Neschling, o Pedro de Aline.
Até o próximo episódio!