Uaréva! Alex Matos,O Ser Supremo Um Nerd nos Anos 80

Um Nerd nos Anos 80

Por Alex Matos e Al Lock

Conheço muitas pessoas, inclusive deste blog, que adorariam voltar no tempo e viver nos anos setenta-oitenta. Seja pelo ápice do Rock, seja pela inocência, seja pelos trapalhões, realmente conseguir seguir um seriado na Globo sem esse ser jogado para uma madrugada qualquer sem aviso, do Didi chamar o Musum de “negão” e receber “negão é seu passadis!”. De qualquer forma, são para essas pessoas eu escrevo este texto.


Nasci na década de setenta, porém como só parei de cagar nas fraudas anos depois, só posso escrever sobre a década que lembro, aliás minha lembrança mais antiga é a copa 82, porque minha familia chorava feito criancinha quando o Brasil perdeu. Década de oitenta, época do tenis Conga, Calça Adidas, programas infantis com gostosas de shortinho, minas com calças acima do umbigo… Uma época lazarenta!

Veja bem, hoje em dia temos internet, telefone barato, multiplos canais de TV que apesar de ainda não passar porra nenhuma que preste te dão mais opções, estradas melhores, transportes melhores, meios de comunicação melhores. Se alguém solta um peido numa festa de diplomatas no Cairo, ficamos sabendo do ocorrido em minutos, as vezes até contra nossa vontade a informação chega até nós. Não temos mais o luxo de escolher o que queremos ou não saber.
Engraçado como não tínhamos a mínima idéia do que rolava “nos esterior”, para se fazer uma ligação interurbana tínhamos muitas vezes de esperar a ligação cair, o que chegava a demorar longos minutos. Aliás, telefone era caro pra caralho! Quase o mesmo preço de um carro e a fila de esperara para se ter uma linha era quilômétrica!


A velocidade de informação está muito rápida hoje em dia, enguanto que na minha época para entregar um trabalho escolar sobre Pedro Alvares Cabral tínhamos de ir até a biblioteca que ficava na puta que o pariu e copiar textos e mais textos de livros encardidos e mais velhos que sua bisavó. Provas eram rodadas no mimiógrafo, esperar a prova secar era de fuder o cú do palhaço! Hoje em dia vamos na Wikipedia, copiamos um texto qualquer e entregamos o trabalho sem nem mesmo ler merda nenhuma!

Virei nerd por falta de opção. Venho de uma família de católicos mineiros ortodoxos, daqueles que se racham o dedinho numa quina da mesa gritam primeiro “ai” e depois “amém” antes do normal “filhadaputacaralhoporra!”. Era magro pra caralho. Pobre pá caralho. Feio pá caralho (sou só feio agora!). Quieto pá caralho. Anti social pá caralho! Desnessessário dizer que de longe eu só não era pior que o gordinho que comia o próprio catarro ou a esquisitinha cheia de espinhas. A escola foi um inferno! O pessoal só parou de me bater na terceira série, quando em um ato escroto de raiva quebrei uma cadeira no chato da sala, subi na carteira da professora e mostrei o pinto para a galera. Depois disso o pessoal começou a me evitar, “Loucão” era meu apelido inicial, depois virou “Loque” quando os espertões achavam que essa palavra era a tradução correta… Depois de algum tempo, passaram a chamar de “Loque” qualquer outro retardado que fazia escrotisse na escola. Por isso acabei virando o “Al Lock” para diferenciar. A vida escolar só mudou para melhor na década de 90, quando virei cult, ou na universidade, quando virei Deus, mas isso são outras histórias…

Na TV só tínhamos meia dúzia de canais, três deles pegavam legal com o uso de Bombril. Rede Record, Bandeirantes era um mito lá em casa. Se você fosse criança só tinha três opções: Globo, Manchete ou TV S e somente na parte da manhã. Só imbecis gostavam de estudar de manhã, perguntem para o Rafael e para o Freud! Fora a TV restava somente as brincadeiras de rua, bolinha de gude, pião, pipa ou apertar a campainha das casas e sair correndo! Tinha o Atari como videogame, mas não era todo pobre que podia comprar e mesmo os que podiam não gastavam muita grana em cartuchos, lembro que o grande lance era trocar com os camaradas. Eu nem sabia onde vendia cartuchos para se ter uma idéia!

Filmes só na televisão ou no cinema. O filme inédito, ou como o Silvio dizia “pela 1º vez na TV”, tinha um atraso de trocentos anos! Se não assistiu no cinema, tinha de esperar. Claro, hoje sabemos com uma absurda velocidade quais filmes estão sendo produzidos e já esperamos os ditos cujos. Nessa época era tudo filme Kinderovo: tu nunca sabia o que ia sair até sair! E ainda reclamam hoje quando um filme atrasa um ou dois meses… E as locadoras cáspita? Jovens Zé Ruela, videocassete era caro pra caramba, não era todo mundo que tinha! A primeira fita de video que aluguei foi já na década de 90!


O que restava para um menino que não podia brincar na rua devido o medo dos pais e outras neuras? Comandos em ação e Gibi! A única coisa boa da época: quadrinhos era muito barato, muito barato mesmo! Para se ter uma leve noção, minha mãe mandava eu comprar carne no açogue, o troco dava para comprar revistas suficientes para a semana inteira! Sim, nessa década tínhamos de comprar tudo de lote, pois os preços eram subiam quase todo dia! Infração, pesquisem no Google se não sabem o que é isso!

O famoso “compra um cigarro pro tiu que o troco é seu” também rendia bons gibis. Sim, criança podia comprar cigarro e pinga, normal! Só não podíamos entrar na sessão porno da videolocadora. Aliás, só podíamos inspirar nossa masturbação com catálogos de calcinha da Avon ou com as apresentadoras de TV. De vez em quando alguém “esquecia” uma revista de putaria jogada num terreno baldio e era uma festa no bairro inteiro! Hoje em dia, graças a Djaga, existe internet!

Mas peraí e a música dos anos oitenta? Só o que as rádios tocavam ou comprando o LP, o famoso discão preto. Mais tarde o uso de do toca fitas se popularizou e a mania de gravar tudo fez com que a indústria da área quebrasse, mesma coisa que rola hoje com os CDs, mas em escala bem maior já que antes todo mundo tinha uma porra de gravador em casa!

Em suma, era uma merda ser nerd nos anos 80. Então vai se fuder quem gostaria de viver nos anos oitenta!

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