“Me pergunto quem são os verdadeiros canibais”
Há 11 anos atrás, em 1999 dois cineastas tiveram uma idéia: criar um filme em estilo documentário, com câmeras de mão, onde 4 estudantes adentram uma floresta em busca da lenda sobre uma bruxa que vive lá. Para aumentar o realismo da história, espalharam na internet a tal história da bruxa, e deixaram propositalmente as pessoas pensarem que as filmagens eram reais e que os estudantes haviam realmente desaparecido. E, com baixíssimo orçamento e muita cara de pau, esse projeto se tornou um dos filmes mais comentados das últimas décadas, A Bruxa de Blair. Após ele, seguiu-se uma onda de filmes com a mesma estética, como [REC], Diário dos Mortos e Atividade Paranormal, entre outros. Mas o que a maioria das pessoas não sabe, é que esse formato estilo documentário não era exatamente uma novidade. Aliás, ele havia sido feito 20 anos antes de Bruxa de Blair numa produção italiana que até hoje é considerada a mais ousada, polêmica, chocante, nojenta e perturbadora produção de terror de todos os tempos. E, dizem alguns, talvez o melhor filme de terror já produzido: Cannibal Holocaust.
Antes, um pouco de contexto histórico: Como eu já comentei ano passado, houve um tempo em que o cinema italiano produzia muito terror, e daí vieram diversos cineastas que são conhecidos até hoje. Mas o fato é que estes cineastas muitas vezes (para não dizer geralmente) tentavam ver o que os americanos estavam fazendo em termos de terror e procuravam fazer melhor (ou o melhor que pudessem). Em meados da década de 70, a “moda” no cinema de terror por um tempo foram filmes sobre canibalismo, pois, na época, era considerada a forma “definitiva” de terror, pois era muito mais “real”. Então os cineastas italianos também tiveram sua cota de filmes sobre canibalismo e, dizem as más línguas, competiam para ver quem fazia o filme mais violento sobre o tema. Então, em 1980, é produzido Cannibal Holocaust.
Dirigido por Ruggero Deodato, conta a história de um professor de Antropologia, Harold Monroe, que viaja até os cantos remotos da Amazônia à procura de um grupo de jovens que procurava fazer um “shockumentary” (documentário com cena repulsivas, feito para chocar) e nunca mais voltaram. A história é composta de duas narrativas: A busca do professor pelos jovens cineastas e a posterior avaliação do material encontrado que foi filmado pelos jovens.
Se a história hoje em dia não parece novidade, as cenas conseguem fazer o mais forte até hoje fechar os olhos frente aos horrores na tela. Por isso, já aviso: O filme não é para qualquer um, é preciso ter muito estômago.
Mas aí você me pergunta: “Então é só isso? Ele é considerado o melhor filme de terror de todos os tempos por causa de sua nojeira?” É claro que não. Mas o grande mérito do filme está em suas cenas. Ou melhor, no realismo delas. Em particular a cena de uma mulher encontrada empalada. Apavorante.
Mas além das cenas realistas e dos ótimos efeitos especiais, o filme ainda traz uma mensagem bastante perturbadora sobre a natureza humana e a nossa sociedade dita “avançada”. Quem são os verdadeiros monstros da história? Essa é a pergunta que o filme traz para seu espectador.
Cannibal Holocaust é um filme recomendadíssimo para fãs do gênero, mas não é para qualquer um. Quando digo que o filme é pra quem tem estômago, não estou brincando. Você pode conseguir o filme aqui, mas assista por sua própria conta e risco.
P.S.: Nunca coloquei links de filmes aqui, mas como você não encontrará esse em muitos lugares (ele foi proibido em diversos países, inclusive no Brasil), acho que dá para fazer uma exceção.
Curiosidades:
– A produção é tão forte e realista que, na época do seu lançamento, o filme foi retirado de cartaz e seu diretor teve que se explicar às autoridades, sob suspeita de que seus atores haviam sido mortos de verdade durante a realização do filme. Deodato teve que provar que o elenco estava vivo e bem para poder escapar da prisão.
– Uma das controvérsias do filme está em mortes reais de 6 animais ao longo do filme, algo que chocou os ambientalistas (e boa parte dos cineastas ao redor do mundo)
– Consta que Cannibal Holocaust foi proibido em 50 países, mas isso nunca foi verificado na prática.
– O filme passou por muitos cortes de censura, possuindo diversas versões diferentes, com mais ou menos cortes. A versão original do filme nunca chegou à ir às telas (mas está disponível no link acima).
– Diversas produções semelhantes lançadas na Itália e nos EUA, tiveram algumas cópias com o nome Cannibal Holocaust 2, numa estratégia safada para trazer mais público aos filmes, mas na verdade nunca houve uma sequência de fato da produção.
Na Próxima Madrugada:
Existe um lugar no mundo que passa 30 dias do ano sem o sol se pôr, e 30 dias do ano sem o sol nascer. E é justamente no último pôr do sol que os habitantes do lugar descobrirão o terror que se esconde nas sombras. Começamos o ano de 2010 com 30 dias de noite