Para o Alto e Avante – Parte 1

Prólogo:
Saudações, meus amigos e amigas nerds! Uma nova seção desponta no horizonte! Heróis! Vilões! Batalhas! Mortes! Ressurreições! Polêmicas! Tudo isso com uma série de informações técnicas, chatas, curiosas ou nenhuma das alternativas anteriores todas as quintas na mais nova coluna do Uarévaa (que visa “substituir” temporariamente a coluna “Irmão Olho”, de Marcelo Soares, que ficará de molho por um tempo).

Com essa apresentação, acho que ficou claro que também falaremos aqui sobre banda desenhada, certo? Que? Não sabe o que é banda desenhada?


Banda desenhada, bande dessinée, fumetti, tebeos, historietas, muñequitos, manga, comics, histórias em quadrinhos, ou simplesmente gibis. Se você não é membro da família de alguém do Uarévaa, provavelmente é o principal motivo de ter conhecido esse site. E, se hoje sou quem eu sou, é com certeza devido aos quadrinhos (Explicarei isso futuramente). Todos sabemos que essa forma de arte ocupa grande parte da vida (e do ordenado) dos fãs. Nós adoramos falar bem das melhores obras, sentimos prazer em criticar duramente as obras ruins, defendemos nossos autores preferidos com unhas e dentes e soamos hipócritas quando falamos dos defeitos do personagem preferido de alguém ignorando os defeitos do nosso. Todo fã de quadrinhos é, em essência, um crítico em potencial, mas a verdade é que todos nós, fãs de quadrinhos, somos que nem mulher de bandido: apanhamos, mas sempre voltamos para levar mais um pouco. É a nossa sina.

Paralelo à nossa banda desenhada segue um mundo real cruelmente diferente do nosso, onde nem sempre há finais felizes (na verdade, isso não ocorre na maioria das vezes) e geralmente o mal triunfa sobre o bem. Mas apesar de nem sempre nos darmos conta disso, os quadrinhos são, de certa forma, um reflexo do mundo real e mudam à medida que o mundo, ou nossa percepção de mundo, muda. Visto por esse ângulo, é interessantíssimo analisar personagens e histórias sob uma ótica “datada”, podendo entender os motivos de um personagem ser do jeito que é, e o porquê de certas mudanças, às vezes bem-vindas, e muitas vezes polêmicas.
E é exatamente esse o objetivo dessa nova coluna: Analisar personagens, histórias e editoras através dos tempos e (tentar) entender como as coisas chegaram até aqui desse jeito (seja isso bom ou ruim). Serão séries de matérias divididas em “arcos”, que alimentarão sua curiosidade sobre esse fascinante e porque não – viciante mundo dos quadrinhos. E, se você não lê, talvez passe a fazê-lo com essas matérias. Mas eu duvido.

Para iniciar essa coluna, eu não poderia começar com outro senão o personagem que, além de ter sido pioneiro, foi o que mais influenciou os quadrinhos, e talvez o que mais tenha sofrido influência (ou eu deveria dizer apenas “o que mais sofre”?) pela chegada dos novos tempos: Superman.

Superman é um mito. Independente de quem goste ou não do personagem, não há como negar que, sem ele, a história teria sido, no mínimo, muito diferente. Podíamos estar lendo apenas histórias policiais e de faroeste, podíamos não ter séries como Heroes ou filmes como Homem de Ferro. A Marvel até poderia ter existido, mas com certeza, o mito do herói como conhecemos hoje, não. Foi responsável pela gênese do mito do Super-herói, por estabelecer todos os clichês do gênero, instituir novos parâmetros comerciais, criar novos relacionamentos entre os quadrinhos e outras mídias e definir a supremacia americana dos comics, mudando radicalmente e do dia para a noite a forma como se via e se fazia quadrinhos.
Atualmente, muito da influência do personagem nos comics parece ter se perdido, mas hoje, mais do que nunca, Superman influencia muito mais do que antigamente; tornando-se de modelo de comportamento a ícone cultural.

Mas Superman também é um produto. Um produto que está no mercado há mais de 70 anos e, por isso, passou por diversas repaginações a fim de se adaptar às devidas épocas. Com isso o personagem evolui, torna-se mais sólido, mas também corre o risco de ser exposto ao ridículo e de ser descaracterizado em um sem número de ocasiões.

Uma época simples, mas nem tanto (Anos 30-40)
Por Rafael Rodrigues

Superman foi criado por Jerome Siegel e Joseph Shuster em 1932, na época da grande depressão, mas só foi publicado oficialmente em 1938, na revista Action Comics # 1 da editora DC Comics (onde os dois já trabalhavam com outros personagens, como Slam Bradley e Spy). Para quem não sabe, a Grande Depressão foi um período de recesso econômico que levou os EUA pro buraco e ferrou com muita gente grande e teve inicio com a quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929 (estudem mais, crianças). Era uma época bem diferente, onde os americanos estavam não só financeira, mas psicologicamente quebrados. Esperança e superação eram palavras quase extintas no vocabulário americano. Nesse cenário pessimista, Superman surgiu para lutar pela justiça e salvar a “humanidade” (na verdade, só os EUA). Nesses tempos, o personagem era bem diferente do que conhecemos hoje, apesar da gênese ser a mesma. Observem as diferenças:

Em Krypton, um planeta altamente avançado, o cientista Jor – L descobriu que seu planeta estava prestes a explodir e, não conseguindo convencer os outros Kryptonianos do fato, só teve tempo de construir uma espaçonave para salvar o filho recém nascido que teve com Lora, Kal-L. A espaçonave chega à Terra na época da Primeira Guerra Mundial, e é encontrada pelo casal John e Mary Kent, crescendo normalmente ao passo que ia descobrindo seus poderes, mas sem ter conhecimento de sua natureza alienígena. Após a morte dos seus pais, Clark Kent (nome dado pelos Kents) vai para Metrópolis, onde passa atuar como super-herói, prendendo bandidos e tentando melhorar a qualidade de vida dos cidadãos da cidade, escondendo-se sob a identidade de um tímido repórter do Estrela Diária.

Com certeza era uma época diferente. Não havia supervilões, apenas os mesmos bandidos vistos nas páginas das revistas policiais (vale lembrar que era o primeiro super-herói do mundo; logo não havia referências anteriores do que se fazer com um personagem assim). Superman já era uma força do bem para melhorar as vidas das pessoas, mas a forma como ele agia hoje lembraria muito alguns vilões que combate hoje. Era uma época onde Superman agia mais como Batman, assustando as pessoas, jogando-as de prédios e fazendo sua própria justiça. Em uma ocasião, ele diz para um bandido algo como “quer que eu dê uma demonstração do que posso fazer com o seu braço?” para fazê-lo falar. bem “Batman Style”. Não voava, apenas saltava e tinha a estranha mania de arrombar portas gritando coisas sem sentido como “Papai ta bravo”, “A banheira queimou o bebê”, entre outros nonsense e agia sempre acima da lei, sem nenhuma conseqüência política ou social. Bons tempos, hein? Mas Independente da simplicidade (ou qualidade) das histórias, os comics eram muito populares em tempos de guerra, pois as pessoas só queriam escapar da realidade em que viviam lendo sobre um mundo preto e banco onde o bem sempre vence o mal e onde o herói sempre está certo. Era uma época onde o povo não entendia ao certo o que estava acontecendo com o mundo e tudo o que queriam era se refugiar em um mundo mais simples que o que viviam.

Lois Lane foi a única coadjuvante que estreou já na primeira edição do personagem, mas outros como Jimmy Olsen e Perry White não demorariam a aparecer. Engraçado que a Lois Lane original era muito mais “fiadaputa” que a atual. Ela realmente desprezava Clark Kent, ao ponto de não olhar para a cara dele e era realmente, um pé no saco (com todo respeito à personagem). Nessa época (já durante a Segunda Guerra Mundial), Superman também fez parte da Sociedade da Justiça, a primeira equipe de super-heróis dos quadrinhos, junto com Batman, Mulher Maravilha e os principais heróis da época. Também nesse período surgem os primeiros supervilões, muitos pouco criativos e cópias uns dos outros (como Ultra Humanóide e Lex Luthor). É ainda na década de 40 que são publicadas as histórias do Superboy, as aventuras do herói quando adolescente em Smallville, mas isso é assunto para outra mais adiante.
Ao final da década de 40, o personagem foi atualizado com pequenas mudanças, principalmente nos nomes de alguns personagens, como Jor-L, Kal-L, Lora, John e Mary, que passaram a ser, respectivamente, Jor-El, Kal-El, Lara, Jonathan e Martha; além disso, o Estrela Diária também mudou de nome, passando a ser chamado de Planeta Diário. Eventualmente, Clark descobriu sua origem kryptoniana, e as histórias começaram a explorar timidamente o terreno da ficção científica.

Epílogo: Curiosidades
– Inicialmente, Superman fora concebido como um vilão em um conto de ficção científica escrito pelos seus criadores. “O Reino do Superman” mostrava um mundo onde um careca com poderes mentais dominava a humanidade. Apenas depois eles adaptaram o personagem aos moldes dos grandes heróis mitológicos, como Sansão e Hércules.
– Se você pensou que os criadores aproveitaram sua versão original do Superman para criar seu principal vilão, Lex Luthor, pense de novo: Antes dele, Ultra-Humanóide era um careca com poderes mentais que tentava dominar o mundo (Hein? Como assim? Mas ele não é um Gorila? Calma, falaremos sobre isso futuramente). Mas é claro que Lex Luthor também bebeu dessa fonte. Sim, naquela época, eles não eram muito criativos com vilões.
– No Brasil, Superman foi publicado pela primeira vez na Gazetinha, um suplemento do Jornal A Gazeta, em 1939, logo passando para a Revista “O Lobinho” e, posteriormente, a editora EBAL.
– Apenas dois anos depois de sua estréia nos quadrinhos, Superman foi adaptado para outra mídia com um desenho animado. Desenvolvido pelos Estúdios Fleischer (o segundo maior estúdio de animação da época, atrás apenas dos Estúdios Disney), era uma série de desenhos animados curtos que passavam antes dos filmes nos cinemas e que fez sucesso imediato. Para vocês terem uma idéia, foi a única série de desenhos curtos em que perdiam tempo produzindo trailers! As pessoas às vezes iam assistir um filme apenas para curtir os desenhos do Super. É um dos primeiros (talvez o segundo, depois de Flash Gordon) personagens de quadrinhos adaptado para outra mídia.
– Ainda sobre o desenho dos Estúdios Fleischer, ele é o responsável por desenvolver a habilidade mais conhecida do super: o vôo. Segundo os irmãos Fleischer, mostrá-lo saltando nos desenhos (o que acontece nos primeiros episódios) ficava muito ridículo, então eles pediram para a DC se podiam retratá-lo podendo voar. A idéia foi tão bem aceita que foi incorporada posteriormente nos quadrinhos.
– Esses desenhos atualmente podem ser conferidos nas edições especiais dos DVDs de Superman – The Movie e Superman II (Que eu tenho, originalíssimo, rá!)

A seguir: Superman tem uma fraqueza! A verdade sobre os dois Supermen! A misteriosa Terra-2! O desaparecimento de vários dos nossos protetores! O governo contra os mascarados! Superman derrotado! Será esse o fim do nosso Herói?

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“Mártires são pessoas excepcionais. Eles sobrevivem à dor, sobrevivem à privação total. Suportam todos os pecados da Terra. Eles se rendem. Eles transcendem-se…Eles são desfigurados”