Uaréva! Batman,Cinema As várias faces do Coringa – Parte II de V

As várias faces do Coringa – Parte II de V


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Nos anos 70, Dennis O’Neil ficou encarregado de modificar essa visão camp do Batman. Foi assim que o escritor tornou o heróis novamente em um vigilante urbano obsessivo e compulsivo, que passou a ser a forma como o cavaleiro das trevas seria interpretado em praticamente todas as suas versões dali em diante, inclusive nos clássicos que viriam nos anos 80, como A Piada Mortal e Cavaleiro das Trevas.

Foi nesse processo de transformação do personagem que o produtor Michael Uslan contratou o escritor Tom Mankiewicz, que havia escrito os roteiros de filmes do Superman e James Bond, para desenvolver o roteiro de The Batman. O ano era 1983, e a ideia era um filme que tivesse o clima de trama de origem visto no filme do azulão, incluindo cenas de ação estilo 007. Personagens como Rupert Thorne e Silver St. Cloud estavam no roteiro, e claro, o Coringa. A trama era baseada na HQ “Batman: Strange Apparitions”, e o vilão substituiria Hugo Strange no enredo.

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O que causa dúvidas é: será que a trama tinha um tom mais sério ou mantinha a pegada cômica da série de 66? A dúvida fica pelo tom leve do roteiro de Superman: O Filme, e a adição de Ivan Reitman, que lançaria em 84 Os Caça Fantasmas. Reitman queria Bill Murray no papel de Bruce Wayne e David Bowie como o Coringa. Michael J Fox era uma possibilidade para interpretar o Robin, ao lado de Eddie Murphy.  A Warner acabou enterrando o projeto, e a morcega só viu realmente a luz do projetor em 1989.

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Tim Burton foi convidado para levar o herói para o cinema, em uma versão mais gótica e sombria, pareada com sua imagem nos quadrinhos após as reformulações. Burton cogitou novamente Murray para o papel, mas acabou optando por outro ator de comédias para viver o protagonista, Michael Keaton. Robin Williams chegou a ser sondado para o Coringa, mas desde o início a Warner queria outro ator para o papel do antagonista do filme: Jack Nicholson. Acontece que Nicholson hesitou em aceitar, o que levou a produção a procurar Williams. Quando o primeiro topou participar do projeto, a Warner dispensou as negociações com Robin Williams, que ficou tão puto a ponto de negar interpretar o Charada alguns anos depois.

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O produtor Michael Uslan usou uma foto de Jack Nicholson em O Iluminado, publicada em um jornal, para rabiscar a cara do Coringa e verificar a similaridade com o personagem.

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Em Batman,e 1989, o Coringa ganhou outros contornos até então não vistos, incluindo um nome real. Jack Napier era um gangster que acaba caindo em um tonel de produtos químicos que, além de esbranquiçarem sua pele e esverdearem seus cabelos, atrofiam os músculos de seu rosto em um eterno sorriso. O nome Jack Napier – o Coringa nunca teve seu verdadeiro nome revelado em outras mídias – tem um origem curiosa. Jack, além de ser o nome do próprio ator, também pode ser relacionado à Jack, o Estripador a ao valete do baralho. Napier é uma homenagem ao ator Alan Napier, intérprete de Alfred na série de 66. Além disso, Napier é similar a “Naipe”, aquele mesmo das cartas.

Jack Nicholson colocou o filme o bolso. Sua atuação roubou a cena do correto Michael Keaton, com uma versão ao mesmo tempo teatral e amedrontadora do Coringa. Com um contrato que definia o número de horas que ele trabalharia – de sua chegada à sua saída do set – Nicholson chegaria para as filmagens apenas as 9 da manhã. Acontece que só a maquiagem levava duas horas para ser aplicada, o que facilitava muito o fato do ator pegar no sono na mesma hora em que sentava na cadeira.

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O contrato do ator garantia 6 milhões de dólares de salário e mais participação nos lucros da bilheteria. O sucesso absurdo do filme acabou garantindo que o ator embolsasse coisa perto dos 60 milhões.

O controverso final é algo a ser discutido. O Coringa está fazendo Vicky de refém e ordena pelo comunicador um “transporte para dois em dez minutos”. A cena que se sucede, até a chegada do helicóptero, dura exatamente esses dez minutos, tornando-a uma das raras cenas do cinema em tempo real. A polêmica fica por conta do fim: o vilão acaba caindo do alto do edifício para a morte, em uma arrepiante cena em que uma risada eletrônica emana do cadáver inerte e sorridente do vilão esmagado no asfalto.

Apesar da ótima cena, matar o principal nemesis do herói no primeiro filme de uma possível franquia nunca foi considerada a escolha mais sábia. Isso só se prova nas várias tentativas do diretor Joel Schumacher, que assumiu a direção dos filmes após Batman: O Retorno em trazer o vilão de volta. Apesar dos filmes jamais terem sido produzidos, Schumacher incluiu nos roteiros aparições do Coringa como efeito do gás do medo do Espantalho e até mesmo o retorno em carne e osso em um sexto filme. A Arlequina também estava presente nos roteiros jamais filmados, como a  filha do Coringa que volta para se vingar.

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Outra diferença desse Coringa para o resto é a sua ligação com o Batman. No filme de Tim Burton, é Jack Napier que mata os pais de Bruce Wayne, ligando as origens dos dois de forma trágica – e conveniente demais também. No flashback da morte dos Wayne, Jack Napier é vivido por Hugo Blick.

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O roteiro original do filme fazia com que o Coringa fosse responsável pela origem de outro herói – o Robin. O bobo, o palhaço, iria matar os pais de Dick Grayson, fazendo com que ele se tornasse o parceiro do herói no fim do filme. Acho que notaram que seria forçar demais a barra, e eliminaram esse plot da trama, mas segue abaixo a animação do storyboard:

Essa versão do universo do Morcego acabou se tornando então o habitual para tudo que viria a ser produzido dali pra frente, incluindo uma certa animação que estrearia em 1992…

Designer gráfico por vocação, publicitário por formação, filósofo por piração.

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