Uaréva! Cobertura,Notícias,StarCon “Nossas histórias tem qualidade de cinema”, diz Doug Jones sobre Star Trek: Discovery em passagem pelo Brasil

“Nossas histórias tem qualidade de cinema”, diz Doug Jones sobre Star Trek: Discovery em passagem pelo Brasil


No último fim de semana aconteceu em São Paulo mais uma edição da StarCon, Convenção Brasileira de Star Trek, que nesse ano comemorou a estréia da segunda temporada da série Star Trek: Discovery. Para celebrar, o evento trouxe o ator Doug Jones, conhecido pelos papéis em Hellboy e A Forma da Água, que interpreta o segundo em comando da nave Discovery, Comandante Saru.

Em entrevista coletiva realizada dias antes do evento, que não contava com uma tradução para os jornalistas do inglês para o português, diga-se de passagem, Jones declarou que era a primeira vinda ao Brasil e sentia-se muito feliz.

Primeiro de tudo, me perdoem por não falar português. Desculpa. Meu inglês será tão distinto e claro quanto eu puder. Esta é a minha primeira vez em seu lindo país, mas soube dos muitos fãs do Brasil desde que fiz Falling Skies há cinco anos. Eu comecei a receber solicitações e mensagens pelas mídias sociais dos fãs brasileiros.

Todos são tão gentis e mais e mais depois de Star Trek com mais fãs e todas as vezes que eu vejo a bandeira brasileira ao lado dos perfis e fico tão contente. EU amo vocês, pessoal. Então, finalmente estar em seu país tem sido uma aventura pra mim, e são as pessoas que eu encontro em todo lugar que eu vou aqui. Sou um abraçador e um beijador e vocês também são, então obrigado!

Foto: Juli Mendes

Questionado sobre Discovery, ele ressaltou que o seriado está em um lugar interessante dentro da franquia por se localizar 10 anos antes da série original.

Começamos a filmar em 2017, então tínhamos uma audiência moderna com uma audiência clássica e como iríamos combinar algo sem que todos ficassem bravos com a gente? Nos sentimos andando sobre gelo, mas acho que conseguimos. Uma audiência moderna pede efeitos especiais e bons roteiros, arcos de histórias bem interligados indo do começo ao final da temporada, não apenas um episódio por vez. Nossas histórias tem qualidade de cinema, nosso visual é muito cinematográfico, mas também nossos escritores são fãs de Star Trek e cresceram com os filmes como nós também.

Temos cientistas PHD em nossas salas de roteiro, a ciência é meticulosamente verificada e todos os roteiros são verificados para não conflitar com o cânone e combinar com ele. Eu acho que estão fazendo o melhor que podem. Eu sou um idiota, eu apenas falo as palavras que me dão. Então, quando eu leio o roteiro, eu tenho que verificar o que estou lendo. “O que isso significa?”. Às vezes é uma palavra real científica, às vezes é uma palavra de Star Trek. É inventada. Então eu consulto a Wikipedia e ok. Eu tenho que estudar. Cada roteiro é como estudar para um exame final na universidade. “Quando é a gravação?”,”Amanhã?“ “Ahhhhhh!”.

Doug Jones em entrevista coletiva / Foto: Juli Mendes

Em relação ao Comandante Saru, Jones revelou que teve que pensar em todas as características dos kelpians, por a raça nunca ter aparecido antes na franquia, e que o curta A Estrela mais Brilhante é uma forma de dar informações que até ele queria ver.

Por que eu sou o único Kelpian na frota estelar? Como isso aconteceu? Como eu deixei de ser uma pré-espécie em meu planeta? Como eu virei um oficial de alta patente naquela nave? Existe um grande buraco para preencher e esta história ajuda a explicar isso. E também me diverti me interpretando como adolescente, tive que adotar uma postura mais humilde. Me lembrei como era ser adolescente com meus pais dizendo: “jovem,  melhor você se comportar!“. Então revisitei minha própria vida para encontrar os anos anteriores de Saru.

Jones também falou sobre o processo de maquiagem e produção visual de seu personagem e como isso o ajudou a pensar a própria atuação.

Tudo começa com as botas. Para ensinar uma pessoa, nós tínhamos que colocar as botas e andar pela sala, em volta da mesa. E o mais importante é que quando você calças as botas seu equilíbrio muda e ajuda colocar seu quadril para frente, para encontrar meu equilíbrio eu tive que colocar meus braços atrás de mim. Então quando eu ando eles balançam e eu notei que fica mais fácil, e era como nenhum outro personagem que eu interpretei antes. E este foi o desafio para mim. Eu atuo há 33 anos, então eu preciso fazer cada personagem diferente de um que interpretei antes.

A maquiagem que você vê no Saru levou meses. Pré-escultura, pré-pintura, molde das mãos e rosto para encaixar em mim perfeitamente. Todo este trabalho foi feito em uma loja de efeitos especiais de criaturas em Los Angeles e era enviado para Toronto onde estávamos filmando. O processo de aplicação em mim era em volta de uma hora e meia por dia, o que era quase nada. Mas vestir aquilo por 15 a 16 horas por dia, porque o período de filmagem era longo, e usar a mascara de silicone, as lentes de contato para deixar meus olhos azuis, e as luvas…

Uma vez que estava com as luvas de silicone, eu não podia usar o telefone, não podia abrir um zíper, eu não conseguia fazer nada, ficava envelopado. Você tem que encontrar seu local feliz mental para ficar por um longo dia de filmagem. Saru é um dos fáceis, porque é apenas rosto e mãos, o resto é uniforme da frota. Eu amei o personagem e eu fiquei tão bonito.


Foto: Juli Mendes

O ator comentou também sobre o design original de Saru e como era horrível, tinha vários olhos no rosto e ele só conseguia enxergar, mais ou menos, pelos buracos na máscara, tinha extensões nos dedos, que eram muito maiores, e ele não conseguia mexer direito, um capacete que toda vez que se abaixava caia e não ia conseguir fazer aquilo por vários anos. Conversando com a produção sobre isso acabaram decidindo mudar o visual para algo mais adequado.

Questionado sobre a velha disputa entre os fãs de Star Trek entre os Capitães Picard e Kirk, saiu pela tangente elogiando os dois atores.

Isso é tão difícil de responder. Eu amo ambos, como todos, mas por razões diferentes. Eu amo Capitão Kirk por razões nostálgicas, porque ele foi meu primeiro capitão, ele foi nosso primeiro capitão. Eu nasci em 1960, o programa estreou em 1966 e eu assisti com minha família em sua estréia na TV americana. Então, por razões nostálgicas, Capitão Kirk é meu primeiro. Mas, por “oh Meu Deus que ator incrível que ele é”, Capitão Picard, é claro. Eu amo ele por isso. E Patrick Stewart é um ator brilhante e um cavalheiro muito gentil. Eu amo eles por diferentes motivos.

Falando sobre sua participação no episódio Unnatural de Arquivo X, revelou que usava uma mascara com controles por baixo dela para que pudesse ao mexer o rosto gerar reação e assim dar mais movimento a mesma, ressaltou que foi um grande e prazeroso trabalho para ele participar do seriado.

Foto: Juli Mendes

Sempre simpático e educado, afirmou que gerencia todas as suas redes sociais, responde os fãs e interage em tudo ele mesmo, que sua inspiração para atuar foi em papéis de comédias que via quando criança, como I Love Lucy, e que adora clássicos de monstros como a Múmia, Drácula, os trabalhos do Boris Karloff e inclusive recebeu convite para fazer Frankenstein, contudo, não disse sim nem não. Adoraria fazer, mas como existia ainda o projeto do Dark Universe ele preferia esperar para ver o que a produtora iria fazer com o personagem.

Ele também comentou sobre sua participação no filme do Quarteto Fantástico como Surfista Prateado e que gostaria de interpretá-lo novamente, apesar de não ser mais o jovem que era, brincou que ainda estava muito bem.

Quando eu conheci Stan, eu perguntei por que o Surfista era seu favorito e ele respondeu: ‘Este é um personagem que eu posso falar sobre condições humanas, sobre o que humanos fazem com o planeta e com eles mesmos, sob a perspectiva de um alien que está apenas de visita’. Eu fiquei bem impressionado por saber que ele era seu herói favorito. Foi uma honra. Ele faleceu recentemente mas sempre será lembrado.

 Ele ainda destacou sua parceria com o diretor Guillermo Del Toro e como seu personagem em A Forma da Água tinha muitas características humanas em um filme no qual o verdadeiro monstro era um humano.

“Eu quando criança me sentia o monstro na sala, era alto, magro, eu sentia o isolamento que os monstros sentem. Quando eu interpreto monstros agora, eu tento colocar meus próprios sentimentos do meu passado e é muito terapêutico para mim. Eu consigo ver o belo neles e aceito o monstro que eu era e me sinto bonito hoje também.

Foto: Juli Mendes

Cogitado sua participação no jogo que Del Toro irá produzir junto com Hideo Kojima, o ator afirmou que não estará, mas, que há planos para trabalhar novamente com o diretor, o qual encheu de elogios. Além disso, falou sobre uma possível sequência do clássico infantil Abracadabra, onde interpretou o zumbi Billy. Contudo, não pode dar detalhes, além de que existiu um contato sobre seu interesse em voltar.

Perguntado por nosso colaborador, Bruno Catão, sobre como seu Homem Anfíbio em A Forma da Água se comparava com o Aquaman na categoria “homens peixe sensuais”, brincou respondendo que apesar dos esforços da produção, era muito difícil chegar ao nível de Jason Momoa.

O ator participou ainda de palestra durante a StarCon, dançou com a apresentação da banda PAD, que fez uma versão do tema de Discovery, e espalhou simpatia com o público deixando saudades em quem acompanhou sua passagem.

A StarCon é um evento promovido pela Nova Frota com o apoio da Sony/Paramount, Meliá e FlyTour. Mais informações podem ser adquiridas pelo site: https://starcon.novafrotabr.com

Confira nossa galeria de imagens do evento:

Nossos agradecimentos a organização do evento, a nossa Madrinha no Catarse Assinaturas, e fotógrafa correspondente, Juli Mendes e ao colaborador Bruno Catão.

Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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