Do Inferno

“Um dia os homens olharão para trás e dirão que eu dei a luz ao século XX”

Do Inferno


Tema Macabro

Existem incidentes e situações que ficam gravados na nossa mente. Alguns deles são tão significativos que afetam o mundo inteiro e atravessam gerações, como a alegada aparição de Nossa Senhora de Fátima. Pessoalmente, acredito que muitos dos nossos medos instintivos e inexplicáveis são de fato herança tradicional, social e – quem sabe? – biológica de eventos ocorridos no passado remoto e que marcaram profundamente nossa espécie.

Dentre os incidentes que marcaram nossa sociedade contemporânea, podemos destacar a série de assassinatos ocorridos na área de Whitechapel, em Londres em 1888 e que deu vida a um dos mais conhecidos mitos modernos, também um dos maiores mistérios da humanidade: Quem foi Jack o Estripador? Quais os motivos que levaram-no àquela série de assassinatos? Porque especificamente aquelas mulheres? Mistérios que, apesar das diversas teorias, até hoje carecem de resposta.

Uma destas teorias, talvez a mais complexa e extraordinária de todas, envolve uma grande conspiração no seio da realeza britânica e envolve sórdidos segredos que ameaçavam o trono a monarquia Inglesa. Esta teoria, do autor Stephen Knight, é a base para a obra Do Inferno.

Escrita por Alan Moore (Watchmen, V de Vingança, Monstro do Pântano) e ilustrada por Eddie Campbel, Do Inferno (From Hell) foi publicada pela primeira de forma seriada na antologia Taboo, da SpiderBaby Press, mas como a antologia durou poucos números, os autores levaram a série para a Tundra Publishing e depois para a Kitchen Press, onde foi publicada em 10 volumes. Posteriormente foi compilada em brochura e lançada pela Eddie Campbel Comics, Top Shelf e Knockabout Comics. A história parte da teoria de Knight e coloca a monarquia britânica no centro de uma conspiração maçônica (e vocês achavam que só eu nos podcasts do Uarévaa que falava sobre isso) para esconder o nascimento de um bastardo, que se tornaria herdeiro do trono britânico.

Ainda que seja uma das obras “clássicas” de Alan Moore, Do Inferno é, assim como suas histórias mais recentes, uma “desculpa” para poder escrever sobre os assuntos bizarros pelos quais ele se interessa, como tempo, ocultismo, conspirações, misticismo, entre outros, criando uma obra que fala muito mais nas entrelinhas do que aquilo que está “na nossa cara”. Talvez por isso Do Inferno seja considerada uma das grandes obras do autor, e ainda hoje bastante cultuada.

Em 2001 foi lançada uma adaptação cinematográfica da HQ. Dirigida pelos Irmãos Hughes (O Livro de Eli), a história pega a ideia principal da obra, mas modifica muitos elementos e foge bastante do foco da HQ (que era mais discorrer sobre o sobrenatural, o oculto e a sociedade vitoriana do que uma típica história de “murder mistery” com ares de sobrenatural), além de fazer diferenças significativas na narrativa e nos personagens. Não chega a ser um filme ruim, mas não faz jus de forma alguma à HQ (como é bem comum nas adaptações baseadas em obras do autor).

No Brasil, Do Inferno foi publicado pela Via Lettera em 2000, mas não sei dizer se é possível encontrá-lo nas livrarias hoje em dia.

Curiosidades:

– A SpiderBaby Press, que publicou Do Inferno pela primeira vez, é do artista Stephen Bissette, que desenhou por muito tempo para Moore as histórias do Monstro do Pântano;
– O nome da HQ vem da de uma das cartas recebidas pela polícia, que é atribuída como sendo possivelmente de autoria de Jack, o Estripador (embora até hoje não se tenha certeza disso);
– A teoria usada em Do Inferno é, de todas as conhecidas para explicar os assassinatos, a mais desacreditada pelos especialistas;
– Alan Moore não usou a teoria de Knight como base para a HQ porque acreditava nela, e sim porque era a que tinha possibilidades mais interessantes para se explorar como ficção;
– Diferente do filme, na HQ não há mistério sobre quem é o assassino, visto de que isso não é segredo na história;
– A narrativa de Do Inferno é basicamente inspirada no livro Dirk Gently’s Holistic Detective Agency, de Douglas Adams (O Guia do Mochileiro das Galáxias), que explora a noção de que, para resolver um crime “holísticamente”, você precisa desvendar como funciona a própria sociedade onde o crime ocorreu.

Na Próxima Madrugada:
A eternidade explorada em um clássico cult dos anos 80. Uma época em que os jovens tinham Fome de Viver.

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