Uaréva! Marvel Comics,Seriados Inumanos – E a gente pensando que Punho de Ferro era ruim

Inumanos – E a gente pensando que Punho de Ferro era ruim


Há alguns anos Kevin Feige subiu ao palco com pompa, apresentando o cronograma de filmes da Marvel nos vindouros tempos que já estão aqui.

Os gritos dos fãs ao ouvirem coisas como Capitão América: Guerra Civil trouxeram muita ansiedade para todos os filmes prometidos – inclusive Inumanos.

O tempo passou (e eu sofri calado) e o futuro chegou. E nesse meio tempo os Inumanos (a raça) acabaram sendo apresentados em Agents of Shield, inclusive tornando a Skye, uma das protagonistas, em uma representante destes. E a segunda e terceira temporadas do seriado tiveram muito foco bem grande nos Inumanos e na proliferação da terrigenese no planeta.

Aliás, AoS estava trabalhando para os Inumanos ocuparem o espaço dos mutantes no MCU, com direito a preconceito, perseguição, facções rivais e tudo que poderia ser utilizado com esse intuito.

Sabe-se lá se foi pro isso ou por causa da birra entre Kevin Feige e Ike Perlmutter (ou a soma de ambos), o filme dos Inumanos acabou sofrendo um rebaixamento e virou uma série pra televisão.

Mas a pompa não foi abandonada. A promessa de que os dois primeiros episódios seriam apresentados em IMAX, com a propaganda de que a série seria o Game of Thrones da Marvel.

E, convenhamos que o material original permitiria muito isso.

Mas eis que surge a primeira foto da produção, eis que surge o primeiro trailer e ficamos com aquele gosto estranho de que a produção não ganhava muito de Caminhos do Coração Bellaventura da Record (para ser mais contemporâneo).

O primeiro episódio já chega comprovando isso. Claro que eu não me dei ao trabalho de assistir em IMAX, mas consigo imaginar a decepção de quem se propôs a isso. A trama é bem fraquinha, mas a direção… ah a direção chega a ser amadora. Quem disse que qualquer cena daquela preencheria uma tela de IMAX? Ela mal preencheu a tela da minha televisão!

Mas como não to aqui pra falar de ploungé ou contra-ploungé, vamos falar da história mesmo, e dos personagens. E é tudo risível de fraco, raso, bobo.

A família real é pouquíssimo interessante, e no início parece uma cambada de petulantes soberbos – o que poderia ter muito bem sido usado a favor da trama. Um rei arrogante que cai por armações de seu irmão mais novo e, dessa forma, percebe o quanto o poder o distanciou de seu próprio povo, caminhando para a redenção necessária para recuperar o trono seria, de fato, uma história interessante de se acompanhar. Mas isso é feito de uma forma tão superficial que faz as discussões sobre relacionamento de The Flash parecerem escritas por David Lynch.

A começar que o golpe liderado por Maximus sai do nada, tirado da cavidade anal dos roteiristas. Tudo que poderia ser muito bem engendrado em uma rede de traições, mentiras e segredos acaba diluído em meia dúzia de cenas que levam Dentinho e Raio Negro para o Havaí no final do episódio piloto.

O resto da família Inumana também vai caindo rapidamente até que, no final, estão Karnak, Gorgon e a rainha Medusa também perdidos na Terra, separados, buscando uns pelos outros.

Aqui vale um adendo. Como estamos falando de uma série de televisão, com orçamento limitado, os produtores resolveram dar seu jeito pra economizar os mirrados caraminguás que tinham para desenvolver o show. Logo, Karnak bate a cabeça e não consegue mais usar seu poder de “previsão”, em que ele analisa todas as probabilidades antes de agir – um efeito muito legal de se ver, e que os caras pensaram: “por que não tirar isso?”; Gorgon fica de botas o tempo todo, Tritón (que já estava na Terra em busca dos Inumanos transformados em Agents of Shield) some pela maior parte da temporada para economizar aquela maquiagem tosca que colocaram nele e a Medusa , que já usava uma peruca bem zoada, perde a cabeleira quando Maximus usa um barbeador para raspar a cabeça da rainha, em uma cena que só faltou tocar Love by Grace.

Já o Dentinho, a coisa mais legal do programa, geral arruma uma desculpa para ele aparecer por menos de dois minutos por episódio. Ou ele é trancado pelos vilões, ou tá cansado e precisa dar uma dormida, ou é atropelado por um triciclo e precisa se recuperar…

Voltando à vaca fria, então, está a família real perdida no Havaí vivendo muitas confusões. Sim, essa frase explica muito bem o funcionamento da parada. Sabe quando dizemos que a maior parte dos filmes da Marvel parecem uma saudosa e gostosa Sessão da Tarde? Isso é no melhor sentido. Máquina Mortífera, Goonies, Star Wars, De Volta Para o Futuro, todas essas maravilhas que assistíamos tomando Nescau enquanto nossos pais lutavam pela nossa sobrevivência. Inumanos também parece Sessão da Tarde, mas no pior sentido. Tipo quando passava O Carro Desgovernado ou algum filme do Bingo praticando um esporte.

O mais próximo que consigo chegar a uma analogia de Inumanos é Howard, o Super-Herói. E com larga vantagem pro filme do pato. Acontece que o quarteto real se envolve em problemas variados, sempre usando seu estranhamento com a Terra para levar o plot (?) adiante. Assim vamos Karnak se envolvendo com um grupo de traficantes, Gorgon virando bródi de surfistas guerreiros, Medusa ganhando uma BFF humana e Raio Negro sendo preso e partindo pra um prison break com um amigo que se tornou Inumano aqui na Terra mesmo.

Acontece que essas tramas, que tomam quase todo o meio da temporada, não levam a lugar nenhum e, de boas, você tá andando pra elas. Nada é interessante, tudo é forçado, sem a menor profundidade. Você simplesmente não consegue se importar nem com os personagens, muito menos com a história, que só é ruim mesmo.

Perceberam que pouco falei do Maximus e nada da Crystallis né?

A princesa inumana passa muito tempo trancafiada em seu quarto alienígena, que parece um quarto de hotel comum, ouvindo seu headphone alienígena.

Maximus fica andando de uma sala pra outra no total de três salas que compõem o cenário todo de Attilan, vociferando contra seu irmão, a família real, chamando seus capangas de incompetentes… ou seja, sendo mau como vilão de novela das sete.

O pior é que em momento algum o Maximus parece ser uma ameaça. A impressão é que só basta qualquer um dar um tapa na cara do rapaz que ele vai sair chorando – até o Bronaja, personagem que parece que vai ter maior importância na série e acaba, como quase todo mundo, saindo do nada e indo pra lugar nenhum também.

E lembram que falei sobre o Dentinho sendo atropelado? Pois Crystallis também consegue fugir pra Terra, e dá de cara, convenientemente, com um surfista boa pinta dirigindo um triciclo, que logo se torna o possível interesse amoroso da garota.

Sim, é tudo tão clichê, tão mal feito, que você realmente não consegue acreditar que alguém achou aquele roteiro razoavelmente bom.

Aliás, eles se agarraram no clichê “estranho que conhece nativo e tem que se adaptar a nossa sociedade” que miraram no Game of Thrones e acertaram em um arremedo de mistura Um Hóspede do Barulho, Alf o Eteimoso, Minha Noiva é uma Extraterrestre e Splash: Uma Sereia em Minha Vida.

Até o Desmond de Lost colocaram no meio da paçoca e eu não entendi lhufas do que ele estava fazendo ali.

Depois de resolver todos esses plots paralelos (juro, até o fim do namoro do surfista bonitão eles colocam na maçaroca), eles finalmente retornam a trama principal, com tempo suficiente pra você não se importar nem um pouco – se é que conseguiu se importar no início.

E o retorno da família real para a lua é tão idiota e o embate entre Raio Negro e Maximus tão anticlimático que você nem sabe mais porque de tudo aquilo ali. Aliás, um personagem morre, volta graças a uma nova terrigenese, fica perturbadasso, mas isso não influencia em N A D A na história. E lógico, para finalizar, tem uma mega revelação explicando algo que deve ter aparecido em algum momento da temporada, mas que eu não lembro nem de ter visto de tão relevante e interessante que foi, e que muda (só que não) toda a percepção da série. E o Maximus detonando a cúpula que protege Attilan em uma jogada genial (não) enquanto o embate entre Maximus e seus seguidores contra a família real vai em um clima entediante que não faz o menor sentido e acho que nessa hora eu dormi.

O fim da primeira temporada (e vai ter doido liberando outra?) ainda coloca Raio Negro dizendo que Attilan não é um lugar, mas seu povo, evacuando a cidade na Lua e rumando pra Terra. Parece familiar? PORRA INUMANOS, ALÉ M DE RUIM TU AINDA FEZ O MESMO FINAL DE OUTRO FILME, QUE É MUITO MELHOR?

No frigir dos ovos, pra não dizer que não falei das flores, Serinda Swan, a Medusa, tem um bom desempenho, principalmente se comparado ao resto do elenco, que tem o carisma de um peso de porta, principalmente o ator que faz o Raio Negro (que to até com preguiça de procurar o nome pra por aqui) – o infeliz tinha que conseguir protagonizar a porra toda sem FALAR, e meu, ele fracassou com mérito. Dá vontade de dar uma medalha de fracasso pro cidadão.

Aliás, dá vontade de dar uma medalha de fracasso pra série como um todo.

O melhor que a Marvel faria é dizer que tudo isso foi uma bad trip do Coulson no início do próximo ano de Agents of Shield e esquecer que um dia deram dinheiro pra alguém produzir isso.

Uma série que ostenta o selo Marvel e não vale a pena ser assistida. Nem sei por que assisti oito episódios disso. Nem sei por que to escrevendo essa resenha.

PS1: Mentira que tem mais de 1500 inumanos em Attilan. Tem uns 15 figurantes só.
PS2: E só uns 3 figurantes tem algum poder.
PS3: Até a abertura dessa série é porca.

 

 

 

Designer gráfico por vocação, publicitário por formação, filósofo por piração.

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