“Sim, esta Vila não tem a pestilência. Mas também não tem Deus. E por isso vão sofrer.”
Terror Histórico. Se esse subgênero não existe, deveria, principalmente depois de Morte Negra. É interessante e curioso perceber que, embora hoje o terror busque inspiração mais “realista” (ênfase nas aspas), como assassinos seriais e histórias que envolvam mais problemas que realmente podem acontecer, os contadores de histórias de terror (em Hollywood, especialmente), raramente se voltam para o próprio próprio passado para contar uma história mais realista. Podemos citar algumas exceções não americanas, como A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno, de Guilhermo Del Toro que, mesmo com o elemento sobrenatural, traz como elemento mais assustador o próprio momento histórico (A Guerra Civil Espanhola). Mas raramente vemos o momento histórico como diferencial e “protagonista” de uma história de terror. O que é uma pena, pois para mim as coisas mais assustadoras que existem são aquelas que sei que aconteceram de verdade durante o curso da história humana. E um desses momentos históricos é a época da Peste Negra.
Para quem não sabe (ou conhece apenas o termo), a Peste Negra se refere a uma pandemia de Peste Bubônica que ocorreu na Europa durante a Baixa Idade Média, dizimando milhões de pessoas. Foi um período realmente assustador para a época, onde a “morte negra” era um mal invisível, sombrio e inesperado, que podia acometer justos e injustos, fiéis e descrentes. Como este período é marcado pelo domínio da Igreja Católica e a perseguição aos pagãos (em especial as Bruxas), além do fato da ciência ser quase inexistente, levou muitos (e inclusive os padres católicos, que eram grandes autoridades na época) a interpretar a peste como um castigo divino, como muitos descritos na Bíblia, e até como um dos sinais do apocalipse (Apocalipse 6:8). Eram momentos difíceis e incertos para a humanidade ocidental e é nesse período que se passa Morte Negra (Black Death).
Osmund é um jovem monge que acabou se apaixonando e vivendo um romance proibido com uma jovem que se refugiou no mosteiro. Quando a peste atravessa os portões do mosteiro, ele insiste que ela volte para casa, pois ali não era mais seguro. Ela quer que Osmund o siga, mas este possui seus deveres para com deus. Mesmo assim, eles combinam que, se ele quiser ir até ela, ela estará em lugar determinado para se encontrarem dentro de alguns dias.
Assim, Osmund reza a deus por um sinal para que diga se ele deve se juntar ou não à sua amada, e quando menos espera, um grupo de guerreiros chega ao mosteiro pedindo por alguém que os leve até uma certa vila, supostamente livre da peste, que passa pelo caminho onde sua amada se encontra. Ele interpreta como um sinal e se oferece para guiar os homens. A real missão dos homens é ir até a Vila onde os rumores dão conta de que existe um necromante (pessoa capaz de ressuscitar os mortos), e levá-lo à justiça.
Dirigido por Christopher Smith (diretor relativamente desconhecido por aqui), o filme tem Sean Bean, que parece ter se especializado em papéis de época, principalmente medievais/estilo medieval e é uma amostra do que é possível realizar quando buscamos inspiração na nossa própria história. Um filme de terror diferente do que estamos acostumados, mas não menos assustador, especialmente com as reviravoltas e surpresas que nos esperam ao longo da película. Uma produção altamente recomendável, embora o desfecho possa decepcionar alguns (o que não foi o meu caso).
Curiosidades:
– Historiadores atuais estimam que um terço da população da época foi morta em decorrência da pandemia;
– Sean Bean tem em seu currículo outros personagens históricos/pseudo-históricos, como Boromir, em Senhor dos Anéis-A Sociedade do Anel, e mais recentemente Eddard Stark na série Game of Thrones.
Na próxima Madrugada
Um clássico que, para os entusiastas do terror, dispensa apresentações: Suspiria, de Dario Argento.