Mortos de Fome

“Coma para viver. Não viva para comer.”

Mortos de Fome



Tema Macabro



Canibalismo não é um tema novo na raça humana, tampouco na nossa sociedade. O ato de se alimentar de outro ser da mesma espécie é, para a sociedade moderna (ou pelo menos para as que não as praticam) um ato que num primeiro momento parece bárbaro, primitivo e animalesco. Não querendo entrar no mérito da validade desta visão a respeito do tema, é fato que nossa sociedade dita civilizada sempre viu o canibalismo de uma forma negativa, como se o fato de algum ser se alimentar de alguém da mesma espécie fosse realmente pior do que este mesmo ser se alimentar de um de outra espécie.

Portanto, na ficção, e especialmente no gênero de terror, o canibalismo sempre foi um tema que despertou a curiosidade do público e, embora tenha sido um pouco mais comum no passado (como, por exemplo durante a “disputa” de cineastas italianos, de onde nasceram diversas produções relacionadas ao tema, entre as quais Cannibal Holocaust, uma das mais conhecidas), alguns autores ainda buscam no canibalismo uma forma de contar uma história assustadora.

Este é o caso de Mortos de Fome (Ravenous, no original), produção de 1999, dirigida por Antonia Bird e estrelada por Guy Pierce, Robert Carlyle e Jeffrey Jones, que conta a história do Capitão John Boyd, em 1840, que é transferido para um forte na Califórnia, onde passa a morar com dois índios, George e sua irmã, Martha e os oficiais Toffler, Reich, Cleaves e Knox. Quando Colquhoun, um escocês desconhecido, aparece tentando se recuperar de um congelamento que quase tirou sua vida, ele conta a história de um conhecido que teve que comer seus companheiros para sobreviver. E é aí que o espectador começa a se envolver em uma trama que remonta a uma lenda indígena sobre canibalismo e que se faz presente como um grande perigo para os personagens.

Por algum motivo muito bizarro, a 20th Century Fox vendeu o filme como uma comédia de humor negro com terror (embora o filme tenha sim alguns elementos de humor negro), e talvez tenha sido por isso que o filme acabou não tendo tanta recepção do público (de fato, pode ter sido considerado o fracasso, já que não chegou perto de arrecadar o equivalente aos seus custos de produção). O que é uma pena, pois o filme trata de um tema que atualmente não é tão explorado e consegue fazer de forma original, criando uma história diferente e perturbadora. Recomendável, mas não assista enquanto estiver comendo.

Curiosidades:

Wendigo, a criatura do mito usado no filme (também Windigo, Windago, Windiga, Witiko, Wihtikow e outras variações) é um criatura sobrenatural que faz parte da mitologia do povo indígena da América do Norte Ojíbuas. De acordo com a mitologia, o Wendigo é formado a partir de um humano qualquer, que passou muita fome durante um inverno rigoroso, e para se alimentar, comeu seus próprios companheiros. Após perpetuar atos canibais por muito tempo, acaba se tornando este monstro e ganha muitos atributos para caçar e se alimentar mais como, por exemplo, poder imitar a voz humana, escalar árvores, suportar cargas muito pesadas, e além disso tem uma inteligência sobrehumana. O Wendigo também tem a capacidade de hibernar por anos, e para suportar os invernos, estoca suas vítimas em cavernas subterrâneas onde as devora lentamente. De acordo com a mitologia indígena, para destruir um Wendigo é preciso queimá-lo, pois segundo os indígenas, Wendigo tem um corpo sobrehumano também que lhe permite sobreviver a qualquer tipo de ferimento inconstante;

– Antonia Bird não foi a primeira diretora do filme. O diretor original, Milco Mancevski, deixou a produção duas semanas depois das gravações terem iniciado. Bird substituiu Mancevski por sugestão de Robert Carlyle, que havia trabalhado com a diretor num filme chamado Priest.

– Ravenous, título original do filme, significa “Ávido, voraz, faminto, devorador”.



Na próxima Madrugada:


Vamos conhecer uma recente produção francesa que já atingiu status de cult: Martyrs.

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