Agente G

Há muito tempo atrás, em plenos anos noventa, um homem lutava contra as forças do mal e trazia inúmeros conhecimentos para nós, crianças, colocarmos em prática em nossa luta noturna. Esse “obeso amigo” era conhecido por um simples codinome: Agente G.

Eu sempre fui um grande fã do poder que a imaginação tem, e como toda criança a usava com todo o gosto seja lutando contra piratas invisíveis, jogando grandes finais de copas do mundo ou simplesmente acreditando na veracidade e ludicidade de bonecos de fantoche e apresentadores que sabiam o que estavam fazendo e não tratavam as crianças como idiotas.

Um desses bons exemplos era o programa Agente G, uma atração infantil de horário nobre (isso mesmo meus caros, programas para crianças em horário nobre, eram outros tempos mesmo) da Rede Record, exibida entre 1995 e 1997.
O programa foi uma criação do ator Gérson de Abreu, que também era o apresentador e o agente do titulo, após sua saída da TV Cultura – onde participou de Quem Sabe Sabe, Som Pop, Bambalalão e X-Tudo. A série contava as aventuras do agente interpretado por Gérson, membro da organização G.E.L.O. (Grupo Especial pela Lei e a Ordem), contra os planos da C.O.I.S.A. (Central Odiosa de Inimigos Safados e Abomináveis), uma organização do mal (com risada diabólica).

G enfrentava essas forças malignas junto com os outros membros da G.E.L.O., que moravam em sua geladeira, afinal eram todos algum tipo de alimento. Destaco aqui o guru, o sábio e fantástico Mestre Iodo (manipulado por Fernando Gomes), uma óbvia referencia ao mestre Yoda de Star Wars.

O sistema era bem típico: todo episodio tinha uma história do Agente G contra as atividades da C.O.I.S.A., recheada de lições de moral (mas não moralistas), teor pedagógico com quadros educativos, e grande conteúdo humorístico, além dos tradicionais desenhos animados e series, como O Mundo de Beakman; Zorro; O Gato Félix; Faisca e Fumaça; Bill Body e Beetlejuice.
O programa tinha roteiros de Rosana Rios, Lúcia Tulchinski e Eliana Martins, e ao longo de sua existência ganhou o prêmio de melhor programa infantil pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 1997. Gerson ainda chegou a lançar um CD interpretando dois temas do programa e canções infantis.

Lembro com carinho desse programa, pois, junto com TV Cruj, Castelo Rá-Tim-Bum e TV Colosso, foi um programa formador de minha curiosidade por novos conhecimentos. Como era divertido ver um episodio do Mundo de Beakman e suas experiências milaborantes, sem contar que o próprio Gerson de Abreu fazia experiências do mesmo tipo, ou ainda ver as peripécias da luta entre as corporações secretas dentro de uma realidade lúdica.

Eu não vou aqui cair no lugar comum de dizer “como não se fazem mais programas infantis como antigamente”, pois estamos em outros tempos, outra geração, onde tudo é mais rápido, dinâmico, diria até “duro”, e o espaço para a ilusão e ingenuidade na TV já não existe mais. Uma pena, pois programas como esse eram bem planejados, estruturados e tinham uma grande preocupação com a formação infantil, sem deixar de lado a inteligência e diversão.
Lembro que até tinha (não me pergunte como) um livro “Guia Prático do Agente G”, com modo de preparo de experiências qumicas e físicas simples e que foi levado pelos duendes (seriam parentes do amarelo?) e nunca mais o vi.

Infelizmente, Gérson de Abreu morreu de infarto cardíaco em 18 de julho de 2002 na cidade de Iguape, em São Paulo, local que o homenageou dando seu nome a um espaço cultural do município chamado “Oficina Cultural Regional Gérson de Abreu”.

Curiosamente, outro integrante do programa também morreu de ataque cardíaco na Tailândia em 1997, o ator Cláudio Chakmati, que interpretava o personagem “Sinistro”. Porém, nesse caso, a suspeita é que a culpa não tenha sido de excesso de peso ou algo relacionado, mas sim, que teria sido overdose de heroína. Sinistro não? (trocadilho infame, eu sei).
Agente G foi um programa até de curta duração, nos parâmetros de hoje em dia em que produtos são criados para duraram décadas se possível, mas deixou pelo menos um fã e saudoso aspirante a agente que não deixa de lado a maravilha que é imaginar, adentrar um mundo lúdico de cores vivas e ingenuidade dentro desse mundo real frio e cruel.

Ainda a mesma criança que sonha em criar seus próprios mundos lúdicos, quem sabe até para outras crianças, nem que sejam só para as minhas futuras.

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