Animação: Uma História de Amor e Fúria

Uaréview
Por Vini

“Viver sem conhecer o passado é viver no escuro”

   

Quando assisti pela primeira vez ao trailer da animação “Uma história de Amor e Fúria” fiquei com o sentimento de que algo novo e possivelmente bom estava nascendo ali, mas sabe como é, a gente sempre fica com um pé atrás. Ainda mais se tratando de uma animação nacional. Não que a animação nacional seja ruim, não é isso não… é que essa se tratava de um longa!
Peraí, um longa metragem de animação nacional? Um longa de animação num país que não tem patrocinio pra isso porque justamente não temos um mercado formado desse tipo de linguagem cinematografica?


Quando fui convidado para a sessão de imprensa da animação, desejei de todo coração que fosse, pelo menos, uma experiência válida e realmente tava torncendo para que a animação fosse boa!

Bom, não vou fazer suspense… “Uma história de Amor e Fúria” está além do que eu esperava!
Mas, por incrível que pareça, não foi a animação em si que me cativou e sim o roteiro!
Um fantástico roteiro elaborado por Luiz Bolognesi, que por acaso, também dirigiu o filme e estava lá para nos recepcionar e receber as primeiras impressões sobre seu filme. Para quem não sabe, Luiz é um premiado roteirista de cinema e é reconhecido pelos trabalhos como “Bicho de Sete Cabeças”, “Chega de Saudade”, Terra Vermelha e “As Melhores Coisas do Mundo”. Então, por aí, já dá pra perceber o quanto o roteiro é bom.
Tanto que, graças as pesquisas realizadas para esse filme, inspirou a realização de um livro chamado “Meus Heróis Não Viraram Estátua” (que é também uma forte frase presente no filme) e um documentário, “Lutas.Doc”, que acompanha o livro (que ganhei do próprio Luiz e será devidamente resenhado em breve!!!).

O filme narra a história de amor entre Janaína e Abeguar, um guerreiro tupinambá, que após a morte de sua amada se transforma em pássaro e sai a procura de sua próxima encarnação. Uma história que sobrevive a 600 anos e atravessa a própria (e verdadeira) História do Brasil, como na época do pós-descobrimento, na colonização, alguns anos antes da abolição da Escravidão, no Maranhão, mostrando ele agora como um negro, Manuel do Balaio que é um dos responsáveis pela Balaiada, guerra civil que originou o exército brasileiro e também responsável pelo começo do cangaço nos sertões, como na época da Ditadura Militar (ele agora como um estudante que luta contra a opressão) e finalmente num futuro não tão próximo, em 2096, quando o cenário futurista, não é nada agradável e as pessoas lutam por água.
O interessante desse roteiro é que além de mostrar como mote principal uma história de amor, o pano de fundo mostra, além da inspiração em uma lenda indígena nacional específica e desconhecida por muitos, o outro lado da moeda da própria história brasileira, contando o lado que os livros de história e a escola não ensinam, ou seja, o lado que não tinha influência e poder para prevalecer como verdade!
Os traços da animação lembram muito algo da Disney, como Mulan e/ou Hércules com uma pitada de algo inspirado nas HQs européias, especialmente aquelas que costumávamos ver em revistas como a Heavy Metal, como o próprio diretor me revelou em entrevista. As paletas de cores da produção foi totalmente baseada nelas. Com esse toque de história em quadrinho, Luiz Bolognesi foi capaz de criar algo intenso, com a linguagem peculiar de uma HQ misturada com história do Brasil (antropologia), fazer algo extremamente sincero e original.
Os cinematics foram inspirados em animes japoneses onde são necessários apenas 8 desenhos por segundo, ao contrário dos normais 24 desenhos/seg., que além de baratear a produção, traz para tela uma maneira menos fluida de animação, mas com mais intensidade, mais força emocional, caracteristica muito própria desse tipo de animação.
Foram 6 anos de produção, mais dois de elaboração de roteiro, junto com sua esposa Laís Bodanzky,  somando 10 anos para ser concretizado, com um sensacional empenho tanto do diretor, como dos produtores, dos animadores que se mantiveram até o final mesmo com propostas de emprego e ganhos maiores em outros lugares e principalmente dos atores que fazem o filme. Sim, o filme de animação ganhou absurdamente com as participações de Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro. E isso não foi só uma questão de marketing pro filme, como eu havia pensado antes e sim porque, obviamente, os três foram escolhidos por serem grandes atores/atriz. Uma coisa digna de nota, toda a animação foi desenvolvida em cima da atuação deles, então nesse caso, não houve dublagem propriamente dita, e sim uma representação do roteiro que depois foi transformado em animação com técnica em 2D.
O longa que custou R$4,5 milhões é produzido pela Buriti Filmes e Guilane e estreará nos cinemas brasileiros em 05 de Abril de 2013.

Durante a apresentação do filme e logo após, numa conversa com o diretor que tivemos, tive uma forte sensação de que estava presenciando o começo de uma coisa grandiosa que o cinema nacional está prestes a ganhar, um mercado, uma cena, o reconhecimento de que: Sim, nós podemos (Yes, We Can!) fazer animações de qualidade e com conteúdo!!!
Assistam, vale muito a pena!
Nota: 9
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