De fora da panela

Na Semana Watchmen, o “De fora da panela” conta com mais uma grande colaboração do nosso parceiro Vini, do blog Submundo Mamão, com sua crítica sobre o filme.

VALEU VINI, segue dai!!

Watchmen tem sido, em muitos casos, um filme difícil de se resenhar.

Talvez pior ainda para aqueles que são fãs da obra original, a mini-série que estreou lááá na metade dos anos 80.

Pior ainda pra quem, passando por cima da obra, é muito fã de seu criador, o roteirista inglês Alan Moore. Há grandes probabilidades desse cara ser um desses nerds xiitas ou uma pessoa que dificilmente entende que existem mudanças necessárias a serem feitas para que se transponha para a grande tela uma literatura, mesmo que seja em quadrinhos.

Por mais que uma beba da fonte da outra e vice-versa.

Talvez até Alan Moore saiba disso e por isso mesmo detesta qualquer adaptação cinematográfica baseada em suas obras. Ele talvez saiba que nunca, eu disse NUNCA, uma obra vai ser transposta pro cinema literalmente, igualmente foi concebida. Talvez até chegue bem perto, como foi o caso de Sin City e 300 por exemplo. Mas ainda assim houveram mudanças, mesmo tendo aí o fator de que o criador, no caso Frank Miller, estava bem ali no set de filmagens ajudando dar forma a película.

Não é à toa que uma das únicas adaptações elogiadas por Moore, seja um desenho animado do Superman, baseado na história que escreveu “O Homem Que Tinha Tudo“, que parece estar igualzinho ao que foi concebida no original, mas isso não conta já que é uma animação. E com animação dá pra se fazer tudo!

Os nerds palmitões que bravejam contra o filme, vomitando mil escorregadas e defeitos nele, são os mesmos que defendem Watchmen no formato de seriado de TV, no estilo de Lost por se tratar de uma obra muito rica em detalhes e personagens. Admito que poderia até ficar interessante, mas os seriados são os que mais sofrem influência da audiência, ou seja, entrariam mudanças com certeza também… e as mais absurdas diga-se de passagem!
Realmente não entendo qual é o problema com adaptações pra essa galera. Ora, o lance todo já está lá escrito e desenhado, passar isso pra live-action exatamente igual só pelo prazer de ver as figuras se mexerem?
Se um filme fosse feito transpondo exatamente o que rola na série, teríamos um filme de no mínimo 5 horas e acho que ninguém em sã consciência aguentaria isso.

Não disse que era um filme difícil de se resenhar? Quem não tem muito contato com esse “mundo nerd” talvez ache todo esse bate-boca uma babaquice. Talvez até tenha saido do cinema achando que o filme é uma tremenda babaquice!

O fato é que Watchmen, escrita por Moore e desenhada por Dave Gibbons, é considerada ainda, depois de 20 anos de seu lançamento, a melhor HQ sobre super-heróis de todos os tempos!!!

Adoro Watchmen, tanto que li umas 5 vezes a bagaça. Mas isso não nublou minha visão quanto ao filme e posso dizer sem medo de ser feliz, que Watchmen – o filme, é realmente O filme!!! Apesar de vários problemas, incluindo trocas de estúdio, várias versões do roteiro, processos que chegaram a dar como certo a não exibição do filme, ou mesmo blá blá blá ácido de Alan Moore e alguns cortes de cenas para que o filme tivesse um tempo razoável, achei que os elementos que fizeram a série ser o que é hoje, estavam todos lá.

A crítica contra a soberba e arrogância americana, tanto ao seu estilo de vida quanto ao seu poderio bélico; a tiração de sarro com a figura dos “super-heróis”, as falhas humanas de caráter, preconceitos e moralidade; os traumas e problemas psicológicos dos personagens, ainda que em alguns apresentado apenas como uma fina camada, como foi o caso da segunda Silk Spectre.
Talvez a atriz Malin Akerman tenha aí uma parcela de culpa, por não apresentar sua personagem com todo o tédio, descontentamento e desespero que ela tem nos quadrinhos e mostrar sua frustação por seguir os passos da mãe na vida de heroína entre risos e flertes quando conversa com o Coruja. Mas uma coisa que me deixou intrigado, foi o fato de terem cortado o lance dela fumar a toda hora.

Nem me incomodei muito com o Ozymandias, apesar da composição bem diferente para o personagem. É lógico que a atuação de Matthew Goode deixou a desejar, mas não achei que ele ficou tão afeminado assim como todos estavam reclamando. O que compromenteu a meu ver, foi o fato dele não aparentar ser um quarentão e nem ter um porte físico de um atleta olímpico.
Como minha mulher bem lembrou, existe um traço psicológico em algumas pessoas que se intitulam ou querem ser consideradas “deuses”, de se portar como um ser acima do masculino e feminino, um ser sem sexo ou na melhor das hipóteses um ser andrógino. Talvez seja isso o que ele representava, talvez seja essa a visão de Snyder para pessoas desse tipo, já que ele usou a mesma frequência no Xerxes de 300. Apesar dele aparecer, no começo do filme, ao lado dos figuras do Village People, é bom lembrar que um ícone da androgenia estava ali no meio também.
Ou você não percebeu um “David Bowie” encostado no carro a esquerda?

As boas atuações ficaram por conta de Patrick Wilson (Coruja II) e Jackie Earle Haley (Rorschach).

O filme, apesar da longa duração não é cansativo. Achei que assim como Batman-TDK, ele fluiu bem e nem notei o tempo passar.

Do resto, vamos ver:

Ação – Não faltou, muito pelo contrário, os personagens foram até “tunados” para dar um ar mais heróico e porradeiro, não tão presente nos quadrinhos. Essa foi uma das razões de algumas reclamações. Eles são mais “normais” na HQ. Mas não houve pancadaria desenfreada. Tudo foi muito comedido.

Efeitos especiais – Confere. Tava de boa, apesar de alguns momentos do Dr. Manhattan parecer um robô falando…

Apresentação dos personagens – Bem feitas. Senti falta da explicação para a máscara do Rorschach, mas tudo bem, isso deixa o personagem mais misterioso ainda para os leigos! Aliás, a sardinha foi muito puxada pro lado dele que é destaque do filme. Seu final foi o mais sentido por todos no cinema.

Trilha sonora – Muito adolescente não deve ter curtido, mas pra nós da velha guarda Rock n´roll, foi o máximo! Além do que, pra quem manja inglês, sabe que elas estavam lá naquele momento por um motivo.

Pontos altos do filme – A abertura ao som de Bob Dylan e mostrando o começo e o que aconteceu até então com os heróis da Minutemen, a transa entre a Espectral com sua bota até as coxas (!!!) e o Coruja, as referências históricas e culturais achei bem interessante, a parte filosófica do filme onde mostra a conversa entre Jon e Laurie Juspezcyk em Marte, as lutas, o Comediante tretando com manifestantes, todas as cenas onde mostra Rorschach na cadeia e até discussão entre eles no final.

O ponto fraco talvez tenha sido a composição do personagem Ozymandias como eu já disse anteriomente. Minha mulher, que nunca leu nada sobre Watchmen, curtiu muito o filme e saiu do cinema me perguntando algumas coisas. Algumas pontas soltas que ficaram, que pra nós leitores foi tirado de letra. Talvez isso também possa ser considerado um ponto fraco… o tempo do filme.

Infelizmente é impossível ser tão minuscioso numa obra desse calibre.
Mas aí entra um lado positivo que é o de despertar interesse em ler a série!
E que venha o material bônus!!!

Ah! Ia me esquecendo, a mudança do final para as “bombas Manhattan” foi bem construida e apropriada. Realmente ver uma lula gigante destruindo tudo, assim como é na HQ, ia ficar meio Power Ranger mesmo… Apesar de ter um vínculo muito forte com essa “lula alienígena” que não foi adicionada ao final da trama, a lince mutante Bubastis ficou bem legal!
Se você não lembra ou não leu a revista, ela é resultado de uma pesquisa em engenharia genética para saber se era viável fazer o tal mostrengo.

Bom, acho que me extendi demais nessa resenha, e ela deu trabalho demais pra fazer. Por fim, quero dizer que Snyder fez um ótimo trabalho. Realmente não deve ser fácil transportar Watchmen pro cinema, mas ele fez de uma maneira muito caprichada! Eu gostei.

Só me resta deixar minha nota pro filme: 10!!!

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