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Podemos salvar o mundo… Com a liderança certa.
Por Algures

Não vou mentir: fui para o cinema com todas as pedras possíveis, e pronto para xingar o filme. Levei sombreiro para participar da promoção do MDM, pois estava pouco me lixando em perder alguma parte importante do filme. Já li a HQ 18 vezes (inclusive a primeira vez foi quando ela foi lançada no Brasil, em 88), sendo que a última leitura fora na noite anterior à estréia do filme. Ou seja, fui de cabeça já pronta, certo de que eu xingaria o filme.

Mas na verdade, não foi o que eu fiz. O filme começou com a cena da morte do comediante, uma cena bem interessante, mas que já incomodava por ter algumas “liberdades artísticas” (como a galera quebrando paredes geral durante a luta que precede o assassinato), mas ainda assim, não estava tão ruim. Depois chegou a seqüência dos créditos. Cara, quando aquilo começou eu realmente comecei a prestar atenção. A seqüência é linda (heterossexualmente falando) e cheia de detalhes, e mostra toda a ascensão e queda dos heróis no universo alternativo de Watchmen. Um recurso pra deixar mais óbvio para o espectador que ele estava diante de uma realidade alternativa. E aquilo funcionou MUITO bem.

Falando em Watchmen como adaptação, a fidelidade à HQ é absurda. Alguns diálogos são exatamente os mesmos da HQ e o figurino, locações, tudo parece uma cópia xerox da obra original. Também pudera, a paleta de cores usada para o filme foi a mesma usada na HQ. Visualmente, o filme é fidelíssimo; em termos de história, a fidelidade se mantém, mas as modificações diminuem bastante a obra. O resultado é uma história que encherá o público leigo com informações, mas está longe de ser tão complexa quanto a obra original. O final, como todos já sabem foi modificado, mas por incrível que pareça, ele funciona no filme, até porque o filme não contém nada das subtramas e narrativas paralelas da HQ, se atendo ao cerne da narrativa.

Então, Watchmen funciona como adaptação? Sim, funciona bem até demais, apesar do exagero nas cenas “fortes” e certas coisas que “não precisava”. Já falando de Watchmen como filme… Bem, vamos por partes:

O filme funciona como filme, mas tenho algumas ressalvas quanto à diversos fatores, citarei os mais óbvios:

– O tempo. Condensar Watchmen em um único filme de pouco menos de 3 horas tornou a narrativa apressada da metade para o final, e tirou muito do “coração” da história. Assistimos ao filme como se fôssemos o Dr. Manhatan; com curiosidade, mas completamente distantes do que está se passando.
– Atuações. Rorshach e Comediante estão muito bem caracterizados, e o Coruja não atrapalha na trama. Agora sinto que Snyder se dedicou menos ao núcleo feminino, pois para mim os elos mais fracos entre os atores foram justamente as mulheres. Malin Ackerman como Espectral 2 não convence, principalmente quando se trata de passar a emoção esperada para o público; já Carla Guguino está muito bem no papel de Espectral 1 nos flashbacks, mas caricata demais nas suas cenas como idosa. Talvez seja culpa da maquiagem pesada, mas o fato é que não convenceu. Além do fato dela parecer uma mulher de 45 dizendo que tem mais de 60. Quanto ao último do elenco principal, e vilão da trama, bom, não gostei da atuação dele, mas sinceramente não me incomodou a ponto de achar que prejudicou o filme.
– O final. Funciona? No filme, sim. É melhor que o da HQ? Claro que não, Mané! Mas o problema do final não é o final em si, mas a já citada falta de emoção; Não temos momentos chave que humanizam Ozymandias e não o tornam “mais um vilão”, não sentimos pelas pessoas que morrem em Nova York, pois não as conhecemos, e por aí vai…

No fim das contas, eu deixei a comparação com a HQ de lado, uma vez que comparar os dois é o mesmo que comparar a Lasanha da minha mãe com a lasanha que compro no mercado pronta para esquentar no microondas. A lasanha da minha mãe é incomparável. Mas eu gosto da lasanha de microondas também.

Mas, afinal, o filme é bom ou ruim? Bom, depende. Após ver o filme, andei analisando as críticas que foram ditas até agora, elas são completamente contraditórias: enquanto um diz que a adaptação funciona bem como filme, outro diz que é justo o que não funciona; ou quando outra crítica diz que a trilha sonora é maravilhosa, outra diz que ela é inadequada; e quando certa crítica fala que o filme é emocionante, outra diz que não tem emoção.

Então, afinal, qual é a verdade? A verdade, meu filho, é que o filme está causando discussão entre quem viu. E não há nada mais satisfatório para um diretor do que um filme que gera falatório, afinal de contas, “falem mal, mas falem de mim”. E só o fato de o filme trazer críticas tão irregulares e heterogêneas já faz com que ele seja um dos filmes na lista dos filmes que você deve ver.

Watchmen é, com certeza, uma experiência inesquecível. Para o bem ou para o mal.

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