Uaréva! Edgar Allan Poe,Madrugada Macabra,Rafael Rodrigues Edgar Allan Poe: Quando a vida imita a arte

Edgar Allan Poe: Quando a vida imita a arte

“Quem agora percorre o vale,
Virá pelas vermelhas janelas
Fantásticas formas em movimento
Ao som de dissonantes melodias
E qual rio ligeiro de espectros
Pelas pálidas portas
Uma horrível multidão se aproxima
E ri, mas nunca mais sorri.”

A queda da casa de Usher

Tema Macabro

No dia 3 de Outubro de 1849, Edgar Allan Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore com roupas que não eram suas, e em estado confusão mental, sem saber onde estava, que dia era, sem conseguir manter o foco nem pronunciar nada inteligível. Foi levado para o Washington College Hospital e, quatro dias depois veio a falecer. Suas últimas palavras, de acordo com algumas fontes, teria sido “It’s all over now: write ‘Eddy is no more’” (algo como “Está tudo acabado agora; escrevam ‘Eddy não é/está mais’”. Algumas versões dão conta de que suas últimas palavras foram “Lord, help my poor soul” – deus, ajude minha pobre alma).

Em 2009 completam-se 160 anos da morte do escritor, e ela ainda é envolta em mistérios e controvérsias.

Sabe-se que, ao final de setembro, Poe deixou Richmond, Virgínia, com destino à Nova York, onde estava morando. Não existe nenhuma evidência confiável do que aconteceu com o autor neste espaço de uma semana entre sua saída e o momento em que foi encontrado em terrível estado.

Por foi encontrado por um conhecido, o Dr. Joseph E. Snodgrass, após ter recebido uma carta de um tipógrafo que encontrou o autor e conseguiu extrair como informação objetiva o seu nome e o do doutor que recebeu a carta.

Mais tarde, Snodgrass alegou que a carta dizia que Poe se encontrava em estado de Bestial intoxicação, mas a descoberta da carta original provou que a informação não era correta. Na carta original, o tipógrafo apenas dizia que o autor vestia roupas terríveis e estava em estado de grande confusão, agonia e que necessitava de atendimento médico urgente.

Dr. John Moran, médico pessoal de Poe, no entanto, deu suas próprias descrições do ocorrido. Poe não conseguiu ser coerente o suficiente para que conseguisse explicar o que tinha acontecido e como havia chegado àquele estado, nem porque usava roupas que provavelmente não eram as dele.

Moran o levou para o Washington College Hospital, onde o confinou num quarto com barras de ferro nas janelas, e impediu qualquer um de visitar o autor. Esse foi um dos motivos pelos quais a histórias acerca da morte de Poe ser um amontoado de contradições e mistérios. Moron foi o único a ver o autor nos dias que antecederam sua morte no hospital, mas sua credibilidade não era das melhores. Chegou a mudar trechos de seus relatos sobre a estada do autor no hospital, contradizendo-se em diversas ocasiões.

A própria morte do autor é envolta em mistério, uma vez que TODOS os registros médicos, incluindo a certidão de óbito do Poe foram perdidos (se é que existiram), por isso até hoje as causas da morte de Edgar Allan Poe são discutidas e as teorias são as mais variadas, indo de Hipoglicemia à overdose de analgésicos, passando por suicídio relacionado à depressão e teorias conspiratórias sobre assassinato.

Dr. Snodgrass acreditava que a morte de Poe era relacionada ao seu alcoolismo e esta é hoje a explicação mais aceita. No entanto, o próprio alcoolismo de Poe é discutível, e foram encontradas inúmeras pessoas que alegavam que o autor nunca sofrera de nenhum grave problema de alcolismo. Um conhecido “parceiro de copo” de Poe chegou inclusive a declarar que, apesar de já terem exagerado na dose diversas vezes, nunca teve razões para acreditar que Poe tivesse alguma patologia extrema relacionada ao uso de bebidas alcoólicas.

Outras possíveis causas também foram apresentadas ao longo das décadas, e incluíam doenças mentais raras, um tumor cerebral, sífilis, delirium tremens (psicose causada por longo período de abstinência ou suspensão de drogas ou medicamentos relacionados ao alcoolismo) e até diabetes. Há até uma curiosa – mas plausível – teoria de que, como Poe fora encontrado em dia de eleição, talvez ele tivesse sido seqüestrado, drogado e usado com motivos políticos (prática comum na época) e depois jogado na rua naquele estado.

Recentemente foram apresentadas evidências confiáveis de que Poe possa ter falecido em decorrência de hidrofobia (mais conhecida como Raiva).

Independente das explicações disponíveis, considerando que a morte do autor já ultrapassa um século e meio, dificilmente teremos uma resposta satisfatória para o que realmente aconteceu.

Talvez o melhor consolo para isso seja saber que, com uma vida difícil e marcada por tragédias, Edgar Allan Poe morreu para se tornar parte das histórias que criava, numa macabra e sinistra licença poética.

Na próxima Madrugada:
O autor encontrou seu fim, mas sua influência continua cada vez mais evidente. Não perca, na próxima semana, Edgar Allan Poe: O legado.

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