Princesa Amazona – Parte 2

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Uma nova personagem é criada para representar a força feminina nos quadrinhos: A Mulher Maravilha. Criada na Ilha Paraíso, uma ilha só de mulheres, Mulher Maravilha vai para o “mundo dos homens” com a missão de ajudá-los a enfrentar a crescente ameaça nazista, colocando assim seu nome no hall dos maiores heróis de quadrinhos.

“Enquanto isso, na banda desenhada…” é uma seção que traça um paralelo entre o universo real e o mundo dos quadrinhos, analisando como as duas realidades afetam uma à outra, trazendo informação e estimulando a reflexão acerca dessa 8ª arte.


Um novo tipo de Mulher Maravilha

Quando os anos 50 começaram, a Mulher Maravilha carecia de boas histórias. Com seu autor e criador falecido desde 1947, nenhum escritor conseguiu segurar as pontas e manter a personagem relevante, nem com histórias interessantes. Além disso, o livro “Sedução do Inocente”, de Fredric Wertham, responsável pela criação da comissão política que levou a instituição do Comics Code Authority e levou a “ditadura” para as histórias em quadrinhos discorria longamente sobre o caráter “homossexual, fetichista e sadomasoquista” que permeava as histórias da heroína. Apesar de ter sido um período em que toda a indústria de quadrinhos sofreu com a repressão, a Mulher Maravilha foi uma das que mais esteve nos holofotes, pois era uma das mais citadas no livro de Wertham (mais sobre esse assunto aqui, aqui e aqui) Mas a Era de Prata vinha chegando e, quando muitos heróis foram reformulados para os novos tempos, a Mulher Maravilha não ficou de fora.

Então no fim dos anos 50, passando pelos anos 60, Mulher Maravilha sofreria uma reformulação que mudaria alguns conceitos de sua origem. Agora Diana era uma criança, nascida do barro e abençoada pelos deuses com diversas habilidades, sendo “bela como Afrodite, sábia como Atena, ágil como Mercúrio e forte como Hercules”. Além disso, possuía agora profundo conhecimento científico e sabia falar qualquer língua conhecida pelo homem e além (sabia falar até Marciano!). Era um dos poucos heróis da DC que não tiveram uma vulnerabilidade específica agregada á ela (Como Superman passou a ter a Kriponita, Lanterna Verde a cor amarela e Aquaman o tempo que podia ficar fora d’água), embora dependendo da história, algum tipo de vulnerabilidade sempre era criada, ainda que momentaneamente. Também passou a ter sua própria sidekick (parceiro-mirim), assim como todos os personagens da época, então a Moça-Maravilha entrou em cena, fazendo parte das histórias da amazona.

Mas a década que mais reservaria mudanças surpreendentes na personagem seria os anos 70. Na verdade, apenas uma mudança, mas tão significativa que basicamente reinventou a personagem – para o bem ou para o mal.

Buscando histórias mais realistas, face ao grande crescimento da Marvel Comics no mercado e do sucesso de personagens mais “humanos” como Homem Aranha, X-men, Demolidor e Jusiceiro, e inspirado pela série de TV britânica “Os vingadores” (não confundir com o supergrupo da Marvel), cuja protagonista era uma espiã fatal, a DC reinventou completamente a história da Mulher Maravilha.

Ao renunciar seus poderes para ficar no mundo dos homens – uma vez que as Amazonas estavam indo definitivamente para outra dimensão – a fim de ajudar Steve Trevor, que na época era falsamente acusado de vários crimes, Diana passa a atuar apenas sob o nome de Diana Prince, adota um mentor Chinês, I Ching (nome “originalíssimo”). Sob tutela de I Ching, Diana aprendeu artes marciais e a manejar armas, e passou a usar um uniforme radicalmente diferente e a combater o crime e a enfrentar aventuras de diversos gêneros, que iam de espionagem à mitologia. Mas os editores estavam na verdade interessados em limar toda e qualquer referência à velha vida da Mulher Maravilha, evitando lembrar eventos passados e inclusive matando Seve Trevor.

Mas esta mudança radical, apesar de alardeada e bastante incentivada pela DC não duraria muito tempo. Em 1973, a personagem estava de volta ás suas origens, em grande parte graças à Gloria Steinem, famosa jornalista americana que, revoltada por ver a personagem com a qual cresceu lendo descaracterizada, colocou a heroína com seu uniforme original na capa da revista feminista Ms, uma revista de grande circulação nacional. Na verdade, não era exatamente o uniforme original, pois possuía algumas sutis diferenças, mas a essência do uniforme estava ali.

Diana Prince voltou então a ser a Mulher Maravilha que os fãs conheciam, e então os anos 80 começaram com a difícil tarefa de reintegrar todos os elementos originais da Mulher Maravilha às histórias da personagem. Sob a tutela de Gerry Conway, Steve Trevor estava de volta, mais precisamente uma versão de outro universo, cujo avião caiu na Ilha Paraíso da realidade “oficial”, reencenando o acidente original da origem da heroína e os dois voltaram a trabalhar para a inteligência militar americana.

Mas muito mais coisas aconteceriam com a personagem durante os anos 80, incluindo a mais celebrada fase, surgida a partir da “morte” da Mulher Maravilha

Epílogo: Curiosidades
Lynda Carter imortalizou o visual da personagem quando protagonizou uma série de TV da heroína nos anos 70. Até hoje ela é considerada tão insubstituível quanto Christopher Reeve foi para o Superman;

– Antes da Mulher Maravilha, A Moça-Maravilha teve uma adaptação para a TV. A Filmation desenvolveu nos anos 60 um desenho animado da Turma Titã (equipe composta pelos sidekicks dos heróis), com segmento solo de vários personagens, incluindo a Moça Maravilha;

– Em 1974 um filme para TV foi produzido inspirado na fase sem poderes da Mulher Maravilha. Estrelada por Cathy Lee Crosby, o telefilme mostrava a personagem como uma superespiã sem poderes cujo uniforme era um amálgama de seu uniforme clássico com o uniforme da versão sem poderes. O telefilme fez sucesso, mas o estúdio preferiu investir numa série com a versão mais clássica da personagem. Pouco tempo depois, estreava a série protagonizada por Lynda Carter;

– Assim como aconteceu com virtualmente todos os personagens da DC na época, a versão da Era de Ouro da Mulher Maravilha foi “transferida” para a Terra-2, enquanto a versão da Era de Prata era da Terra-1. Mais tarde foi incluído na história da Mulher Maravilha “original” que ela casou com Steve Trevor e teve uma filha, que futuramente se tornaria a heroína Fúria;

– Antes da famosa série de TV e do telefilme dela como espiã, foi produzido em 1967 um vídeo apresentativo de uma série inspirada na série de TV do Batman, que fazia muito sucesso na época, voltando-se mais para a comédia do que para a aventura e estrelado por Linda Harrison. Mas a série não foi aprovado (ainda bem);

A seguir: Novas – e velhas – Mulheres Maravilha

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