Dia 12 de Setembro (último domingo) fez 7 anos que morreu Johnny Cash, nomeado por muitos a “personificação do country” e que influenciou mais de uma geração ao longo das décadas, bem como diversos gêneros musicais, incluindo o Rock’n Roll. Nada mais adequado então do que homenageá-lo com o review da sua biografia em quadrinhos, que eu estava devendo aos leitores do Uarévaa há um bom tempo.
A música é, assim como qualquer forma de arte, algo muito pessoal. O que é bom para um pode não ser tão bom para outros e muitas vezes é difícil – senão impossível – explicar o quanto uma música nos toca. A vida, no entanto, é algo bem diferente. Não importa se nós já passamos por uma situação ou não, se fazemos parte de uma cultura ou não, conseguimos compreender e simpatizar com qualquer condição humana. Junte isso à fascinação do público para com celebridades e figuras públicas e temos uma boa resposta para os motivos pelos quais as biografias são feitas.
Particularmente, prefiro biografias filmadas do que em quadrinhos. Primeiro porque não sou grande fã do gênero (querer saber da vida dos outros nunca foi um interesse na minha vida, sendo pessoa publica ou não) e segundo porque, no que tange às histórias em quadrinhos propriamente ditas, a narrativa objetiva pode se tornar cansativa e pouco atrativa se não estiver em mãos competentes. Mas não dá para negar que o gênero pode render muito, inclusive nas HQs, tanto por suas características quanto pela experiência de vida que ela passa.
Apesar de não ser um fã ardoroso de Johnny Cash (do tipo que tem todos os álbuns e conhece todos os detalhes da vida do artista), gosto muito da carreira do cantor (musicalmente falando) e sempre me identifiquei muito com diversos aspectos de sua vida e especialmente das letras das suas músicas. Então quando eu tive a oportunidade de comprar Cash – Uma Biografia, agarrei a chance e adquiri a obra que, esperava eu, tivesse tudo aquilo que me fez apreciar do cantor. Felizmente, não me arrependi da compra.
Cash – Uma Biografia (Cash – I See a Darkness, no original) foi produzida pelo quadrinista alemão Reinhard Kleist (considerado um dos maiores nomes das Hqs germânicas, tendo feito outras biografias, como Elvis Presley e Fidel Castro), mistura realidade e ficção para contar a turbulenta vida de Johnny Cash, de sua infância difícil como filho de um fazendeiro pobre até o sucesso e a gravação do seu último álbum (que contém a sua versão para a música “Hurt”, de Trent Reznor), passando pelas conturbadas relações amorosas e seu relacionamento com June Carter.
A maioria das biografias do músico (incluindo suas autobiografias) são extensas, com 300 páginas ou mais, então condensar toda a vida do artista em páginas de quadrinhos com pouco espaço para textos longos poderia ser considerada uma tarefa ingrata e virtualmente impossível, não fosse a criatividade de Kleist e sua intenção no que se refere à obra. Como todo bom autor de quadrinhos, Kleist conhece as limitações do meio, e também suas vantagens. Por conta disso, o autor decidiu contar a história de Cash do jeito mais interessante dentro dessa mídia: Fazendo uso de uma narrativa simples, entrecortada por interpretações visuais de letras de suas músicas, além do uso competente da subjetividade dos quadrinhos para criar mais do que uma biografia, fazendo uma obra cuja narrativa lembra a boa poesia sobre a vida que permeia as próprias músicas do cantor.
A arte é simplesmente impressionante. Mesmo com traços simples, o autor consegue expressar tudo o que acontece de forma muito clara, do objetivo ao subjetivo, daquilo que a gente vê àquilo que a gente sente. As emoções e reações são mostradas de forma eficiente, fazendo-nos esquecer em diversos momentos que estamos diante de páginas ilustradas.
Cash – Uma biografia está disponível nas melhores livrarias e é uma obra indispensável para fãs de quadrinhos, fãs do cantor e fãs de biografias. Mas é recomendada para qualquer pessoa disposta a ver um lado mais subjetivo da vida deste que foi um dos maiores nomes da música mundial, mas cuja história foi sempre permeada por problemas da sociedade, do corpo e da alma.
Nota: 9,5
Rafael Rodrigues caminha na linha.