Uaréview
Por Marcelo Soares
“Missão dada é missão cumprida!”
Tem um antigo ditado que diz: não procure cavar um buraco porque você não sabe até onde ele pode ir. Acredito que o Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2 descobriu bem o que isso quer dizer, quando saiu do comando do BOPE para ser Subsecretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, com o pensamento de modificar o sistema por dentro ele quase se perdeu e perdeu o que mais amava. Como diz um dos subtítulos do filme: agora é pessoal!
“Eu fico sem saber até onde estou vivo,
sem saber o calibre do perigo,
eu não sei da onde vem o tiro”
(Calibre – Paralamas do Sucesso)
Em Tropa de Elite 1 o roteirista Bráulio Mantovani e o diretor José Padilha vieram com a proposta de dar um tapa na cara da sociedade, principalmente classe media e o sistema policial brasileiro, escancarando vícios e costumes que todo mundo conhece, mas finge não existir. Na sua sequencia o alvo está apontado para os políticos, em especial, mas também para as policias que usam táticas de bandidos para tomarem conta de favelas e terem lucros como milícias.
Um filme maduro, é o que posso dizer desse Tropa de Elite que foca mais no homem por trás do mito. È fato que o Roberto Nascimento (Wagner Moura) se tornou um símbolo de justiça com as próprias mãos e da ânsia de vingança não só dos brasileiros, mas do ser humano em geral – tanto que durante a história tantos justiceiros, wolverines, rambos e tantos homens duros de matar sempre fizeram sucesso Porém, como visto um pouco no primeiro filme, sabemos que toda ação tem uma reação, e já no inicio de Tropa II vemos como o agora Coronal Nascimento está sozinho em sua vida pessoal: sem mulher, distante do filho e amigos. Um guerreiro solitário e cansado, como a ótima parte de maquiagem deixa bem claro, além da maravilhosa atuação de Wagner Moura – aliás, esse um dos melhores atores atuais, consegue fazer drama, comédia e afins com a mesma qualidade.
Nesse panorama só resta ao nosso protagonista a sua luta pela justiça e encerrar com o tráfico de drogas, coisa que ele consegue equipamento o BOPE. Porém, sem saber que também estava sendo usado, abre espaço para os policias militares entrarem nos morros, montarem milícias e se tornarem aquilo que foram criados para extirpar. A partir daí que o filme ganha uma grande vida ao expor não só os males da corrupção policial, mas como a política – ainda mais em ano de eleição – é um puro negócio, que governadores, deputados, todos estão interligados com criminosos em maior ou menor grau, e para se elegerem fazem todo tipo de coisa.
O mais chocante do filme é nós, como expectadores, vermos como é difícil confiar nas instituições que existem para nos proteger – e ai se insere a mídia, que tem seu momento de critica no filme ao se retratar os programas policiais – e como as personas das engrenagens que a fazem se mover podem até lhe destruir se buscar lutar contra eles. Claro que Tropa usa de uma exacerbação de uma situação, com boas cenas de ação, tiros, mortes, sangue, reviravoltas, para focar no fim em uma grande mensagem: muitas vezes soltar a voz é mais forte que soltar o dedo num gatilho.
Para mim, a grande mensagem do filme é exatamente a mesma que falamos no podcast sobre super-heróis da vida real: se ninguém se mexer nada muda, mesmo que seja uma pequena mudança, mesmo que todo o sistema continue girando, mas na vida de algumas pessoas, com certeza, uma mudança podemos fazer. Ao fim do filme, Nascimento percebe que provavelmente precisa se voltar para o que mais ama, para poder ter um sentido para continuar a viver e pelo que buscar justiça.
Tropa de Elite 2 é um filme sobre nosso futuro, sobre como as coisas podem ficar se não mudarem logo, sobre nossa responsabilidade nisso tudo, sobre decisões, sobre perdas, mas também sobre olhar com um olhar humano o nosso redor e buscar não se perder no meio de tudo que nos cerca.
Paralamas do Sucesso
O Calibre