“Se não é capturado pela lente da câmera, não existe”
A Sombra do Vampiro
Existe alguém que está entre os primeiros de qualquer lista de personagem de terror preferido: O Conde Drácula. Criado originalmente por Bram Stocker, utilizando-se de um personagem real (O conde Vlad Tepes da Romênia), Stocker desenvolveu um personagem que usava os mitos sobrenaturais dos vampiros e produziu o livro que até hoje é referência para qualquer autor de terror, e definiu o padrão dos vampiros como o conhecemos (não confunda com os vampiros adolescentes atuais, que tem mais de Anne Rice e menos de Bram Stocker). A história do Conde Drácula deu origem à diversas adaptações para outras mídias, especialmente para o cinema, onde a mais cultuada é a versão de 1931, estrelada por Bela Lugosi.
Mas o Conde Drácula, indiretamente, também foi o responsável por outra produção cinematográfica tão – ou mais – cultuada que sua adaptação para o cinema, e inclusive tendo surgido bem antes do clássico estrelado por Bela Lugosi: Nosferatu. Com o título original de Nosferatu – Eine Symphonie des Grauens (Nosferatu, uma sinfonia de horrores) o filme, uma produção alemã dirigida por Friedrich Wilhelm “F. W.” Murnau, contava a história de um agente imobiliário que atravessa os Montes Cárpatos para vender uma casa em sua vizinhança ao proprietário de um castelo no Mar Báltico, o excêntrico conde Graf Orlock – que é na verdade um milenar vampiro que, buscando por mais sangue, quer se mudar para a Alemanha e, ao chegar na propriedade que comprou, traz consigo grande terror e os habitantes acham que estão sendo vítimas da peste. A única que pode salvar as pessoas dos ataques do vampiro é Ellen, a esposa de Hutter, visto Orlock se sentir atraído por ela.
Considerado um dos maiores clássicos de terror, Nosferatu influenciou as gerações subseqüentes quase tanto quanto o conde Drácula e é uma produção indispensável na prateleira de qualquer fã do gênero. Mas Nosferatu também tem outro mérito: Servir de base para um dos filmes mais originais já feitos: A Sombra do Vampiro.
Originalidade não é lá algo muito comum nas produções de terror atuais, principalmente se envolvem os elementos clássicos como fantasmas, zumbis ou vampiros. Mas quando se trata de E. Elias Merhige, é difícil esperar menos do que algo muito diferente do normal. Merhige, o homem por trás do bizarro e surreal Begotten, conta em A Sombra do Vampiro a história por trás da produção de Nosferatu, mostrando como F.W. Murnau (interpretado magistralmente por John Malkvoich) decidiu colocar o ator Max Schreck (Willem Dafoe, sempre excelente) no papel que o imortalizou. Tem apenas um pequeno detalhe que as pessoas não poderiam ficar sabendo: que Schreck não estaria interpretando de fato, uma vez que é um vampiro de verdade.
A Sombra do Vampiro não poderia ser considerado um filme de terror na acepção mais comum da palavra. Na verdade, seria difícil incluir a película em algum gênero específico, pois qualquer um limitaria demais a experiência que é o filme. É um filme denso, perturbador, dramático, intenso, revelador. Tudo isso e mais. Por isso, me limito a não discorrer mais sobre para não entregar muita coisa da trama.
Vale a pena conferir A Sombra do Vampiro se você gosta de histórias diferentes e, para quem é fã de terror, é um filme tão indispensável quanto aquele que inspirou sua produção.
Curiosidades:
– Nosferatu é na verdade uma adaptação não autorizada do livro Drácula, de Bram Stocker. Como o estúdio não conseguiu obter os direitos para a produção (que na época não eram de domínio público), decidiu por mudar os nomes dos personagens e manter a história base que foi o filme que ficamos conhecendo;
– Existem duas refilmagens do clássico Nosferatu: A mais famosa, dirigida por Werner Herzog é Nosferatu The Vampyre, de 1979; o outro é Nosferatu – The First Vamypre, de 1998;
– No filme Batman – O Retorno, o personagem de Cristopher Walken tem o nome de Max Schreck, em homenagem ao ator que interpretou Nosferatu;
– A história de A Sombra do Vampiro é inspirada em lendas que surgiram ao redor do ator Max Schreck. Por conta de sua impressionante interpretação, o fato de continuar usando a maquiagem e mantendo os trejeitos do Nosferatu diversas vezes fora das câmeras, somado ao significado de seu sobrenome (Schreck em alemão é algo como susto, espanto), houve rumores de que ele era um vampiro de verdade;
– Outra das lendas dá conta de que Max Schreck era o nome fictício de um ator conhecido da época, que não queria ter seu nome vinculado eternamente ao personagem (lenda que hoje já foi desacreditada);
– A Sombra do Vampiro foi produzido pela Saturn Films, de Nicolas Cage;
Na próxima Madrugada:
Uma noite regada a bebidas, conversas e histórias macabras. Na próxima semana, visitamos um dos clássicos da literatura brasileira, Noite na Taverna.