Recentemente a Editora Guará lançou sua nova linha de publicações, quatro títulos mensais de abordagens distintas. Será uma publicação por semana todo mês, estando agora em agosto no segundo número cada.
Também a pouco tempo, fomos selecionados como parceiros da editora e, assim, teremos acesso aos lançamentos e traremos para vocês nossas impressões de cada uma das revistas.
Semana passada publiquei a resenha de Cidadão Incomum #01, contudo, achei melhor agrupar sempre minha opinião sobre esse universo em uma única postagem, deixando para fazer algo mais específico de alguma edição se achar interessante um ponto de analise mais profundo.
Sem mais conversa, vamos para o que achei das outras três histórias da editora.
ECOS
Roteiro: Lauro Kociuba
Desenhos: Rapha Pinheiro
Arte-Final: P.R. Solvier e Vitor Wiedergrün
Uma parceria com a Elements Gaming que explora o universo criado pela empresa de cadeiras gamers. A história é ambientado em um mundo em que os rios secaram, os mares recuaram e o chão esticou-se sobre a terra. Kenneth vive nas ruínas dessa terra arrasada e, de lá, ele parte em sua jornada por uma vida melhor.
Ficção Científica sempre foi meu gênero preferido, ainda mais quando trata de distopias. Ecos utiliza desse estilo de história usando de seus clichês básicos: mundo destruído, jornada do ponto A ao ponto B, missão misteriosa e sociedade reformulada para se adaptar. A primeira edição apresenta bem esse cenário e personagens, sendo acompanha por bonitos desenhos e cores.
Como início de história não tem nada de mais que marque o leitor e ainda deixa um final de edição um tanto anti-climático. É esperar que nas próximas edições o roteiro mostre ao que veio de fato.
Teocrasília
Roteiro e arte: Denis Mello
Cores: Alexandre Contador
Nessa realidade, a bancada religiosa da política brasileira, denominada “Divino Altar”, domina o país e institui um regime teocrático. Como frente opositora às autoridades que regem esse novo mundo, o autor apresenta Vicky, Yuri e Gambino, aliados na batalha contra a tirania.
Apoiei Teocrasília em sua campanha de Catarse tempos atrás, essa primeira edição é uma revisitação ao que já foi lançado com, provavelmente, algum retoque atual. Denis Mello tem em suas mãos seu melhor trabalho até o momento, não só em termos de argumento e narrativa como desenhos.
A história originalmente pensada em 2016 conseguiu, infelizmente, um alto grau de “previsão” dos nossos tempos atuais e o aumento e alcance de poder por uma ala religiosa na política nacional, trazendo consigo os pensamentos e práticas de intolerância, censura e controle. Coisas colocadas na HQ hoje podem ser vistas como “comuns” em manchetes reais de jornais e esse foi sempre o chamariz de público do projeto.
A primeira edição agora revista apresenta os protagonistas, o cenário de fundo, mas prometendo ampliar as discussões como uma boa distopia se propõe. Ansioso para acompanhar o desenrolar da história e como Mello desenvolverá sua premissa.
Eu sou Lume
Roteiro e arte: PJ Kaiowá
Cores: Natália Marques, Fabi Marques e Letícia Pusti
Conheça Ludmila Gonçalves. Cria da comunidade Esperanza, a jovem sonha com uma carreira artística, mas se vê em um conflito de mundos: mora na periferia e é bolsista em uma escola de elite. Com apenas 16 anos, Mila já carrega em sua história uma verdadeira batalha pela vida. Ela é sobrevivente do que ficou conhecido como Escândalo das Clínicas, quando moradores da comunidade morreram ou desapareceram após consultas em clínicas populares, financiadas por entidades filantrópicas particulares.
Dessa primeira leva de novas produções da Guará essa talvez seja a mais interessante em termos de busca por inovação. Assim como Cidadão Incomum, Lume traz a ideia de heroísmo para um cenário nacional, contudo, tem mais acertos e uma promessa de saber transpor elementos regionais que diferenciem o que lemos do habitual americano do gênero.
Apesar de nesse primeiro número tudo parecer ainda meio solto, dá para ver os caminhos que PJ Kaiowá pretende levar sua protagonista e seus dilemas, aliando isso a um bonito trabalho de desenho e cores.
Como comentei em minhas redes sociais (me segue por lá!), consigo ver tranquilamente em eventos em 2021, se a pandemia deixar, diversos cosplays da Lume. Espero que a história que se seguir faça jus a essas possibilidades que esse início abre.
O abrir alas do Universo Guará se mostrou bem interessante e promissor, tanto por suas abordagens temáticas, diálogos que vem tendo com o seu público e a proposta de revistas mensais num mercado complicado como o que temos. Vale salientar que a ideia original eram as quatros revistas saírem mensalmente em bancas de todo o país, algo realmente bem ousado que a pandemia de coronavírus não permitiu implementar ainda.
Que venham os outros meses de aventuras!