Em 2016 o escritor Pedro Ivo lançou pela Editora Conrad o livro O Cidadão Incomum. A obra contava a história de Caliel, uma pessoa ordinário que, de repente, descobria ter o poder de voar. Quatro anos depois a Editora Guará traz para os quadrinhos o personagem em uma expansão daquele universo.
Eu não conhecia o livro, então, acho que como eu várias pessoas podem sentir falta de no início do quadrinho ter uma recapitulação dos acontecimentos passados em sua versão prosa. Até porque coisas são citadas e nem um “nota do editor”, tão comum em HQs, surge para explicar ou apontar onde o leitor encontrar.
Cidadão Incomum: A Ponta do Iceberg (R$ 6,00 – 28 pgs. – ebook) explora o que aconteceria se, no Brasil, pessoas de diversas classes sociais, etnias e orientações sexuais desenvolvessem superpoderes. Um assalto a ônibus interrompe o trânsito de São Paulo e une os destinos de três personagens completamente distintos entre si. Zika, um criminoso sem teto, Caliel, um inexperiente super-herói incapaz de controlar os próprios poderes, e Érico Loschiavo, um policial honesto e desiludido com o sistema, que luta contra um trauma pessoal e o vício em cocaína.
Ivo constrói de forma bem interessante esse mundo de superseres vivendo no Brasil. Rapidamente somos apresentados ao herói, ou pelo menos que tenta ser, o vilão, as repercussões, as dinâmicas de interação deles com coadjuvantes e o clima de mistério da origem dos poderes. É uma boa escolha do autor não “reinventar rodas” em uma primeira edição.
O ritmo de sua narrativa também é bem realizada, transitando entre núcleos de forma que a história flui em seu suspense e formulação de dramas. Já no campo da arte, ele, que também desenha, falha um pouco.
Seu desenho é um tanto “estranho”, principalmente nas expressões faciais, duras, com ares de arte publicitária. Não atrapalha o andamento nem entendimento da história, contudo, a abordagem temática do quadrinho demandaria, acredito, outro tipo de estilo. Talvez ele ter acumulado funções, as cores e arte-final também são dele, tenha atrapalhado numa finalização mais caprichada.
Para uma primeira incursão, o número um cumpre bem seu papel de introdução e preparação para reviravoltas e desenvolvimentos. É aguardar o que as outras edições trarão, pois, um universo de supers, heróis e vilões, nacional que também contextualiza o cenário fugindo dos estereótipos americanos, e, principalmente, buscando ter uma “cara brasileira” é sempre bem vindo.
Essa resenha é fruto de uma parceira entre o Uaréva e a Editora Guará. Você pode adquirir o produto em formato e-book no site da editora, na Amazon ou no Super Comics.