Uaréva! AVEC Editora,Uaréview Uareview: Alena

Uareview: Alena


Quando Stephen King lançou em 1974 seu primeiro romance, Carrie, a Estranha, ele meio que criou um estilo de histórias repetida em diversos outros livros, filmes e quadrinhos: a menina introvertida que sofre bullying e tem algo sobrenatural consigo.

Os bons autores colocam nessa fórmula elementos que ou a subvertem ou complementam com outras mensagens, este é o caso de Kim W. Andersson em Alena (Avec Editora, 120 págs. R$ 44,90)

Sinopse: A vida de Alena é um inferno. Desde que começou a estudar em um colégio cheio de colegas esnobes, ela sofre bullying de Filippa e das outras meninas do time de lacrosse. A melhor amiga de Alena acha que já chega de aguentar todo esse abuso. Seja da conselheira, do diretor, de Filippa ou de qualquer outra pessoa nessa escola repulsiva. Josefin promete resolver o assunto por conta própria a menos que Alena dê o troco. Só existe um problema: Josefin está morta há um ano.

O maior destaque do quadrinho é como Andersson trabalha a questão mental de sua protagonista, mostrando a dualidade entre culpa e desejos em constante duelo interno. A sombra de Josefin, sua morte, o motivo que a levou ao suicídio e a vivência em uma escola nova e de elite econômica constroem uma Alena que, ao mesmo tempo, quer se ver livre de todos que a perturbam e quer só ser uma garota normal com seus romances, festas e esperanças de futuro.

Toda essa parte psicológica da personagem é feita de forma muito cuidadosa e preocupada em não soar leviana, principalmente no que tange as dúvidas sexuais da garota e como ela lidou e lida com o fato.

Logo nas primeiras páginas descobrimos que Alena e Josefin tiveram um caso por uma noite, fato que a primeira renega e a segunda busca manter de toda forma. O evento se perpetua mesmo após a morte de Josefin, na nova escola com boatos sobre o relacionamento e os ataques constantes da menina mais popular do colégio.

No ponto sobre as disputas adolescentes, o autor não sai tanto do padrão garota rica e popular implica com nova aluna pobre e esquisita, tentando detoná-la não só socialmente como até fisicamente, seja por ciúmes de um garoto ou só por não conseguir impor medo na mesma.

Os elementos interessantes que ele adiciona estão, por exemplo, na constante tecla sobre a divisão de classes, passando mesmo sem, provavelmente, uma real intenção na exposição de que em um ambiente composto totalmente por pessoas brancas e, assim, não tendo uma disputa étnica (branco x negros), os conflitos que surgem são de caráter puramente econômicos (ricos x pobres) e/ou de orientação sexual, numa busca e pressão por uma heteronormatividade.

Já um ponto comum nessas narrativas a la “Carrie’ é a incapacidade dos adultos de lidar corretamente com os problemas de adolescentes, ressaltando bem não só no técnico do time de Lacrosse, do diretor e da conselheira psicológica da escola, mas, especialmente, dos pais dos estudantes.

Em nenhum momento somos apresentados aos pais dos personagens secundários, muito menos ao pai de Alena e a mãe quando surge é só como uma voz distante fazendo pedidos ou dando cumprimentos, sem sequer surgir fisicamente.

Em termos de desenho, Kim W. Andersson oscila com quadros em que expressões faciais e formas de corpo aparecem um tanto estranhas, fora de um padrão, o que pode, claro, ser um estilo próprio ou querer ressaltar algum tom de desordem natural na narrativa. Contudo, seu traço funciona muito bem quando traz belas imagens de terror tanto no gore, sangue, muito sangue mesmo, quanto na construção de ambientes sombrios e assustadores.

Alena apesar dos temas que aborda não é na verdade uma leitura densa, daquelas que se demora a ler ou pesa muito para se terminar, consegue-se lê-la até razoavelmente rápido.

O que me frustrou nela foi certa previsibilidade de alguns pontos de roteiro e encaminhamento da história, mas nada muito grave. É uma boa história teen de terror romântico, como sua divulgação mesmo aponta.

Vale salientar que Alena ganhou uma adaptação para cinema (link) em 2015, mesmo ano de publicação original do quadrinho. Não sabia da existência até o momento, mas pretendo ir atrás de assistir e ao fazer atualizarei essa postagem com impressões sobre a obra.

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Jornalista, Mestre em Comunicação, autor dos livros O Maior Espetáculo da Terra (Editora Penalux, 2018), MicroAmores (Escaleras, 2020) e Grãos de Areia (Urutau, 2022)

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