E ae, Uarevaiada? Vamos falar de Agents of Shield?
Em 2013 a Marvel resolveu apostar suas fichas na expansão de seu universo, iniciado com Homem de Ferro, partindo do cinema para a televisão. Assim usou o plot da agência Shield que vinha sendo citada desde o primeiro filme do filho do seu Downey e as aventuras de seus agentes nos bastidores do universo Marvel. Para isso, ressuscitaram o popular agente Coulson, vivido pelo ex-marido da Old Christine, Clark Gregg, que havia sido morto em Vingadores, no intuito de protagonizar e liderar a série. Ao seu lado foi escalada uma equipe de elite que tinha por missão investigar itens, acontecimentos e seres sobre-humanos.
É indiscutível que a primeira temporada demorou um bom tempo para engrenar. Episódios procedurais, com monstro da semana, em pouco tempo encheram o saco da audiência, que pouco simpatizou com a turminha formada por May, Ward, Skye, Fitz e Simmons. May era a típica badass caladona oriental mestre em artes marciais; Ward o herói durão de bom coração canastra; Skye a garota nerd hacker gata que só existe em séries; e Fitz Simmons a dupla engraçaralha nerd. Nada parecia funcionar para empolgar o público. A primeira temporada só realmente começou a empolgar quando pistas sobre a ressurreição de Coulson passaram a virar o foco, a aparição do cadáver Kree e, claro, o crossover com Capitão América 2, a queda da Shield e revelação da Hidra, que tinha Grant Ward como um agente infiltrado.
Mas parecia ser tarde demais. Mais da metade de uma temporada para agradar a audiência na reta final parecia um tiro no pé da Marvel, e mesmo o episódio final, com participação de Nick L Jackson Fury e o gancho com o misterioso pai de Skye pareciam poder salvar o seriado.
Ledo engano, amigos, ledo engano.
A segunda temporada tinha muitas peças para colocar no tabuleiro.
Grant Ward agora é um inimigo da Shield, Fitz está com o cérebro debilitado, Coulson pirando, escrevendo estranhas mensagens nas paredes em transes inexplicáveis, enquanto age como novo diretor da Shield, Simmons aparece trabalhando na Hidra e May está treinando a Skye. Logo de cara temos uma aparição da agente Peggy Carter – de Capitão América – O Primeiro Vingador – e do Comando Selvagem capturando aquele que vai ser um dos vilões da temporada, Whitehall, em plena Segunda Guerra.
Além do vilão, somos apresentados a novidades como um obelisco alien que parece poder matar as pessoas; e aos agentes Lance Hunter, Mack, a Xena Isabelle Hartley e Bobbi Morse, a Harpia dos quadrinhos. De cara a equipe enfrenta o Homem Absorvente (arquiinimigo da Mulher Sangrenta) pela posse do Obelisco.
A trama mostra que a Hidra está em pleno vapor, trabalhando atrás dos itens alienígenas, principalmente tentando entender o Obelisco e fazendo lavagem cerebral numa galera, entre eles uma agente da Shield, a 33, e um “meta-humano” que apareceu na primeira temporada, Donnie Gill. As informações chegam por meio da agente Simmons, infiltrada na Hidra, até ser descoberta e salva por Bobbi, também infiltrada na organização.
O início da segunda temporada já começa muito bem, mudando o status dos personagens principais, que agora pareciam menos apáticos do que na primeira. Simmons está mais “espiã”; Skye virou uma agente mais ativa, descendo a porrada na marginalia; May assume o papel de segunda em comando e de consciência de Coulson, este que tem sua própria agenda tentando entender o que são os símbolos que ele mesmo escreve em transe. Bobbi e Hunter se mostram grandes adições – ela assumindo o papel de mulher porradeira, porém com mais senso de humor que May; e Lance como um mercenário sem vergonha, cheio de ironia.
Porém, pra mim, o destaque principal fica por conta de Fitz. Se na primeira temporada ele era apenas o nerd medroso apaixonado pela melhor amiga, na segunda ele prova o seu talento fazendo o papel de um cara que percebe suas capacidades intelectuais – sua única arma dentro da organização – comprometida pelo que passou na temporada anterior. Mack serve como seu orelha, e parece ser o único que trata o cientista normalmente, sem a condescendência dos demais.
Raina, a garota do vestido florido, também está de volta, e dessa vez ela é cupincha do misterioso pai de Skye. Este se une à Hidra, aparentemente interessado em se reunir novamente com a filha.
Ward até então parece um personagem deslocado da trama – e realmente o é. Numa brincadeira de cão e gato com Coulson e com a Hidra, ele hora ajuda a Shield, hora se mostra um opositor. Se algo pode ser colocado de positivo da participação do personagem na temporada é o episódio do acerto de contas com o irmão Christian Ward. Aliás, com o irmão e os pais. O que Grant faz com a família demonstra de uma vez por todas que o cara realmente é um vilão psicopata, afastando de vez o meu maior medo, que era de inventarem uma redenção pro personagem depois das atrocidades que ele praticou.
A primeira parte da temporada foca bastante no mistério dos rabiscos de Coulson, que não dá tempo de ficar (muito) enrolado. Quando ele descobre no sétimo episódio que se trata de um mapa de uma cidade, a trama corre para descobrir a localização da cidade. Inclusive o episódio “The Writing on the Wall” fecha algumas pontas abertas da primeira temporada, como o projeto Taiti, por exemplo.
O último episódio antes do hiato de fim de ano, “What They Become” é imperdível e é praticamente um final de temporada, de tão foda. Numa corrida para a tal cidade do mapa, que claro, nós já suspeitávamos que era de Inumanos, tem direito a um Mack zumbificado, terremoto e explosão de uma nuvem terrígena, que transforma Skye e Raina e acaba dando fim ao pobre personagem Triplet.
Um parêntese sobre o agente Triplet: ele tinha todo o potencial para ser o substituto de Ward como o herói masculino da série. Tinha um lance com a Simmons, era amigo de todos os outros personagens, leal até o fim a Coulson, descendente de um dos soldados do Comando Selvagem. Mas foi descartado, em uma cena bastante emotiva, porém precocemente. Será que tem alguma regra em Hollywood que não pode ter mais do que um personagem negro no elenco principal de uma série? Triste isso.
Voltando a vaca fria, tivemos então alguns meses de hiato, aplacados pela divertida série da Agente Carter, mas que manteve – agora sim – a expectativa alta. Vacilo, Marvel, não ter conseguido isso láááá na primeira temporada.
Bom, a transformação de Skye e Raina obviamente abre finalmente as portas da Marvel para os inumanos. Skye ganhou poderes de controlar vibrações e Raina virou uma criatura cheia de espinhos, que segundo Skye, deveria ter o poder de correr muito rápido e coletar argolas.
Mas sim, se Agents of Shield até então corria atrás do Universo Marvel com episódios que ficavam invariavelmente se referindo aos personagens do cinema (ou criando episódios crossovers deprimentes como o com Thor – O Mundo Sombrio), agora a televisão vira o jogo e passa a preparar o terreno para o cinema.
Sendo assim os Inumanos, que obviamente são os mutantes da Marvel em seu universo, chegam em AoS ANOS antes da estréia de Raio Negro e Cia no cinema.
Assim conhecemos Gordon, o misterioso teleportador sem olhos.
O preconceito contra os Inumanos (ocupando aqui o lugar do preconceito contra os mutantes) começa também a aparecer com os personagens de Mack e Simmons. Eles, ainda sem saber que Skye foi transformada, vociferam comentários preconceituosos e de ódio contra Raina.
Esse medo e ódio aumentam com o episódio “Who You Really Are”, em que temos a participação da minha e só minha Lady Sif, que desmemoriada, tenta capturar um inimigo, que depois descobrimos ser um Kree disfarçado. E é através dele que é explicado o conceito dos Inumanos – seres alterados pelos Krees para servirem de armas na guerra contra Xandar, séculos atrás.
É a partir dessa informação que fica bem claro, através das falas de Jemma Simmons, a diferença do preconceito entre pessoas que tem poderes, que nunca consegue ficar bem clara nos quadrinhos, deixando os X-Men sempre um pouco a parte do resto do Universo 616. Para Simmons, eles precisam dividir os “super-humanos” entre aqueles que ganharam habilidades por acaso ou por experimentos (como os Vingadores, ou os personagens que adquiriram habilidades por acidente, como a maioria dos que surgiram até então na série, inclusive Deathlock), e aqueles que são assim naturalmente, e esses seriam mais perigosos, visto que são, em resumo, armas alienígenas escondidas na Terra.
A segunda temporada mostra que não está pra brincadeira quando dá um fim a Whitehall, que eu pensava que seria o vilão da temporada inteira, logo depois da volta do hiato também, deixando, aparentemente, Cal, o pai da Skye, como vilão principal.
Aparentemente, deixando bem claro. AoS mantém a aura de série de espionagem jogando com a ideia de bem e mal. As reviravoltas são bem constantes, mesmo que as vezes pareçam, a principio, desnecessárias.
Uma dessas reviravoltas se dá com a aparente traição de Bobbi e Mack. De inicio, a primeira coisa que vem a mente é a óbvia Hidra. As especulações então passaram para a Hammer – agencia comandada por Norman Osborn nos quadrinhos. E parecia muito pouco inspirada a resolução, com outra facção da Shield contestando a liderança de Coulson, através principalmente da figura do agente Gonzáles.
A má digestão do plot durou alguns episódios, até chegar o flashback que mostra o que houve em outra parte da Shield no dia da revelação da Hidra, voltando ao Capitão América – O Soldado Invernal.
Essa trama que no começo estava bem sonolenta (não tanto quanto o episódio em que Cal reúne sua própria Legião dos Buchas do Mal) acaba por proporcionar alguns ótimos momentos futuros.
A fuga de Coulson, sua aliança com Hunter, a fuga de Fitz e a artimanha de Simmons para que o amigo levasse consigo a caixa preta de Nick Fury foi sensacional;
A divisão da Shield, com agentes bastante incomodados com a existência dos “Supers”, que já canta um caminho para a Guerra Civil;
E o embate entre os Inumanos e a Shield. Sim, porque nessa altura do campeonato a “Nova Shield” já tentou abater a Skye, que foi parar na vila mágica dos Inumanos e já ta toda toda para o novo personagem Lincoln. Raina e Cal também estão por lá, mas a grande – e agradável surpresa – é que a líder da vila é Jiaying (obrigado Google), a suposta mãe de Skye. Aparentemente o poder da mulher é a regeneração.
Ah, tem um outro momento sensacional, que dura alguns segundinhos. Quando Coulson finalmente consegue o tempo que precisa, ele se entrega a Gonzáles e lhe devolve a caixa preta de Fury, mas alertando que o ex-diretor vai querer a caixa de volta. OPS, ALERTA DE SPOILERS.
Um episódio que merece muito destaque é o focado em May. “Melinda” mostra porque a agente deixou o campo – e sem muitas delongas, a cena em que ela precisa matar uma pequena criança Inumana não só justifica a aposentadoria dela para a parte burocrática da agencia, como também o medo que ela possui de Inumanos.
Outro parêntese aqui é necessário. Me perguntei muito em como seria encaixado Vingadores – Era de Ultron em AoS. E tudo foi feito de forma tão natural e fluida que me pergunto se foram os mesmos showrunners que fizeram aquele maldito episódio do Thor. A invasão da base da Hidra, que usando algumas boas saídas de roteiro, voltou a unir os seis personagens principais originais em uma missão, termina de forma satisfatoriamente surpreendente quando descobrimos que o plano secreto de Coulson – além de resgatar Deathlock e Lincoln das mãos da Hidra – era o de descobrir o paradeiro do cetro do Loki e passar a informação para Maria Hill, que acionaria o Protoclo Theta – os Vingadores. 😀
Coulson ganha a simpatia da facção rival graças ao fato de ter ajudado os Vingadores a salvar o mundo (inclusive mandando o aero porta-aviões que aparece no fim do filme) e resolvem aceitar a aliança com o lado de Coulson.
Depois disso, o filme é citado apenas em uma cena de Gonzáles, que comenta para Coulson que dar liberdade demais para esses supercaras foi o que fez Tony Stark quase causar a destruição da Terra quando criou Ultron. Sutil, mas útil a trama e contextualiza a vontade de González de ir atrás dos Inumanos em seu retiro.
E como eu disse, agora parece que Gonzáles toma o papel de vilão.
Com a Shield restituída, a reta final da temporada se torna então eletrizante, e cheia de revelações.
O ápice é quando Jiaying, a simpática mãe de Skye, se mostra uma bela de uma filha da puta. A Inumana não só mata Gonzáles friamente, como incita uma guerra com a Shield, mata Raina para evitar que fosse desmascarada e ainda por cima vamos descobrir que ela precisa absorver a vida de outra pessoa para se curar. E quando Whitehall fez ela em pedacinhos, Cal sacrificou uma vila inteira para permitir que ela se regenerasse – explicando então o tal massacre que dois monstros fizeram em uma vila citados como pais de Skye na primeira temporada.
Bom, guerra declarada, os dois episódios que encerram a temporada são de tirar o fôlego. E acontece tanta coisa que eu vou só comentar o que achei mais f o d a.
Agente Morse quase morre quando toma uma bala que estava endereçada a Hunter.
Ward, que preparou a armadilha, estava fazendo tudo por seu novo amor, agente 33, que obviamente é uma versão do MCU para a Madame Máscara, mas acaba matando a própria pensando ser a verdadeira May.
Os Inumanos invadem um navio da Shield, e os agentes, com ajuda de Skye, caem na porrada com os poderosos. E quando achamos que Lincoln vai atacar May, vemos que o rapaz se uniu aos mocinhos e caiu na porrada com seus antigos aliados.
Cal revelando o que todo mundo já desconfiava: Ele é o Mister Hyde dos quadrinhos. E Coulson enfrentando ele na caruda.
Gordon tentando se teleportar e não conseguindo, perguntando o por quê e recebendo de Fitz um “It´s science, bitch!”
Jiaying querendo espalhar nuvens terrígenas pelo mundo, que vão matar os humanos e revelar os Inumanos (olááá Magneto).
Skye enfrentando a mãe e sendo salva por Cal.
Todas as cenas finais de ação são construídas de uma forma tão legal que conseguiram bater as da finale da primeira temporada, que já tinha sido muito boa. As reviravoltas, além da redenção de Cal que mata a amada para salvar a filha, dão um tom ao episódio que não deixa a peteca cair. A peteca não, só o obelisco, que custou uma mão ao Coulson.
Nota 10 pros dois episódios finais.
Enfim, a temporada dois se foi, deixando novos ganchos intrigantes para o novo ano. Além da despedida emocionante de Skye e Cal – que ao invés de ser preso ganhou uma segunda chance ao ser incluído no projeto Taiti, perdendo as memórias e ganhando novas, como um veterinário pacato – a Shield começa a se reestruturar melhor, com mais agentes e Skye ganha uma nova missão: recrutar pessoas com habilidades especiais, que irão agir mais na surdina que os Vingadores. Sim, os Guerreiros Secretos estão aparecendo em Marvel Agents of Shield!
Inclusive o Lincoln já está confirmado no elenco fixo da segunda temporada. E dá pra sair muita coisa muito legal desse plot!
Agora, quando tudo está bem, sempre tenha um pé atrás.
Porque ninguém, NINGUÉM, estava preparado para a cena que encerra de forma brusca e desesperadora a temporada.
SIMMONSSSSSSS
😮
Até a próxima temporada.