Uaréva! Moura,Uaréview Uareview: Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros

Uareview: Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros


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Lá no longínquo ano de 1993, eu, um garotinho imberbe, fui com meus pais e primos ao cinema, aqueles de rua ainda, que hoje em dia viraram uma igreja Universal qualquer, para assistir o filme que todos estavam falando no momento.

Os pôsteres me deixavam ansioso, tal qual o trailer que devo ter assistido no Fantástico ou algo que o valha. Mas nada me preparou para a cena em que Alan Grant, Ellie Satlter, Ian Malcom e os outros primeiros visitantes do parque, cicceroneados por John Hammond, descem dos jipes personalizados quando dão de cara com um grupo de braquiossauros que se alimentavam das copas da árvores, enquanto a trilha de John Willians crescia de forma ensurdecedora e emocionante. A expressão de encantamento na cara de Sam Neill certamente estava refletida com a mesma intensidade na cara daquele pequeno garoto de óculos de armação grossa que passou a amar dinossauros (e ter uma predileção pelos próprios braquiossauros – talvez uma resposta a essa cena específica, que considero ainda uma das mais lindas do cinema, ou da personalidade simpática e pacífica retratadas desses gigantes).

O tempo, claro, passou. O pequeno Moura não era mais criança, e o adolescente foi ver Ian Malcom voltando à ilha Nublar para impedir uma expedição de trazer os dinos para o continente. E não se impressionou muito com o Tiranossauro bebendo água da piscina de uma casa. Também não se impressionou muito um Moura já jovem adulto, nos seus 18 anos, quando viu Alan voltando ao Parque abandonado para ajudar um casal a resgatar seu filho que está perdido no meio dos dinossauros.

Sim, Jurassic Park, com o tempo, transformou dinossauros em carne de vaca. Não apenas pela qualidade bastante decrescente de suas seqüências, mas também pela enxurrada de dinossaurices que acabaram surgindo, repercutindo o absurdo sucesso do primeiro filme – o filme mais antigo entre as 20 maiores bilheterias da história.

E foi então um Moura já adulto formado que foi ao cinema no último domingo assistir uma nova parte da franquia. Reflexo do público em geral, eu estava totalmente acostumado a ideia e conceitos de dinossauros. Isso definitivamente não surpreende mais, diferente do garotinho de 20 anos atrás.

Qual não foi minha nova surpresa quando eu vejo que isso está refletido na tela? Em Jurassic World, o parque finalmente foi aberto, em 2005, e vem atendendo o público há dez anos. Porém Claire, administradora do parque, nos diz que o público já não se surpreende com velociraptors, braquiossauros ou T-Rex. Eles querem coisas novas. Maiores. Mais assustadoras.


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Um parêntese: é divertido demais ver o parque finalmente funcionando.

4Se a franquia jamais, até então, tinha dado continuidade à premissa do parque temático. As pessoas só ficavam aleatoriamente voltando ao local. Em Jurassic World tudo está funcionando perfeitamente, em uma versão mais moderna e futurista do que o parque se propunha no primeiro filme. Um “Sea World” com um dinossauro marinho gigantesco comendo um tubarão, um viveiro de pterodátilos, ou ainda uma “mini-fazendinha” em que as crianças podem montar em filhotes fofinhos de triceratops. E os passeios agora abandonaram os Jipes e são feitos em uma esfera de vidro a prova de balas rotativa.

 

 

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Aliás, os dinossauros estão integrados a nossa realidade. Se eles não chamam mais o mesmo público que antigamente (uma referência a Jurassic Park 2 e 3, assim como o enorme hiato da franquia?), outras formas de uso deles estão sendo pensadas. É aí que entra Owen, vivido pelo Starlord Chris Pratt, o novo herói de ação do cinema. Pratt interpreta aqui um herói canastrão e “macho man”, estereótipo oitentista puro, e funciona muito bem, claro, devido totalmente ao carisma do ator, que esbanja cretinice na medida certa. Owen é um treinador de velociraptors, mas a forma como ele treina os bichinhos é bem interessante, nessa primeira parte do filme.

Os raptors (convenhamos, grandes estrelas da franquia) parecem sim terem desenvolvido a capacidade de receber comandos, mas ainda assim não se tornaram dóceis e amigáveis. Foram condicionados, mas não domesticados. E claro, em um mundo onde dinossauros estão de volta há 20 anos, treiná-los seria algo que ocorreria. Assim como pessoas iriam querer utilizá-los como armas de guerra, no caso Hoskins, personagem do Rei do Crime. A sub-trama desse vilão pode até não avançar muito, mas serve para mover a trama principal e criar o clímax.

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Claro que o casal principal – Claire e Owen – precisam salvar uma dupla de crianças. No caso os irmãos Zack e Gray, sobrinhos de Claire, que foram visitar o parque e deveriam estar sob a supervisão da tia. A sub-trama da tia ausente (?) fica bem jogada, sem muito desenvolvimento, e outra é citada – o divórcio dos pais dos meninos – sem a menor necessidade e é esquecida dez segundos depois.

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Enfim, como dito, é preciso de novidades para agitar o parque. A Disney não conseguiria se manter aberta se dependesse apenas do castelo da Cinderela, não é? E é assim que os cientistas do Jurassic World, liderados pelo doutor Henry Wu (único personagem do original que reaparece – isso se não contarmos o mascote DNA) criam uma nova espécie de dinossauro. Maior que o T-Rex, mais furioso, mais perigoso. Ganha um chocolate surpresa quem adivinhar o que vai acontecer.

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E é aqui que o filme realmente empolga. Sim, Jurassic World não tenta ser uma obra de arte como foi Jurassic Park, mas também não abraça a mediocridade das duas continuações que sucederam o filme. Jurassic World pega o que de melhor tinha em Jurassic Park e moderniza, dá nova roupagem, nova linguagem. E funciona. Funciona MUITO.

Por mais que os personagens sejam rasos – apenas um coadjuvante realmente cativa, por ser um alívio cômico sensacional – e você raramente lamentar a morte de alguém, tudo é tão alucinante e urgente que é impossível passar incólume pelas emoções. Ao mesmo tempo essa “modernização do clássico” não soa de forma alguma apenas um remake. Aliás, é até difícil realmente perceber que o roteiro segue bastante o primeiro filme, mas está tudo lá: casal aventureiro com tensão sexual (só trocando, de forma inteligente, a arqueologa por uma mulher de negócios); os irmãos em perigo; o vilão humano com objetivos escusos. Não alcança, repito, o status do primeiro filme, mas é fácil o segundo melhor produto da franquia.

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A adrenalina do filme não baixa um segundo – mesmo quando o ritmo muda. Se na apresentação ainda não há o medo do Indominus Rex, as atrações do parque e os eventos com os velociraptors tratam de nos deixar com os olhos arregalados na cadeira do cinema. Mas é quando o monstro consegue escapar que tudo realmente enlouquece. E detalhe: esqueça a Hollywood classificação livre. O filme é sim, para todas as idades, mas a violência não foi poupada. Tem sangue, tem morte (e uma, em específico, bem cruel) e há sim dinossauros se alimentando alegremente das entranhas de seres humanos.

Jurassic World não tem um roteiro complicado, cheio de reviravoltas ou que pretende ser um novo clássico eterno. Ao contrário, faz o que se propõe a fazer: entretenimento de ótima qualidade que não subestima a inteligência de seu público. Steven Spielberg e o diretor Colin Trevorrow conseguiram algo sensacional: Pegaram a carne de vaca dinossáurica, prepararam com um bom tempero moderno, mantiveram a simplicidade da receita original e nos deram um ótimo resultado, com um toque familiar, mas um novo e ótimo sabor.

O Moura criança gostou bastante, quando reapareceu no cinema, 20 anos depois.

Até o próximo episódio.

Designer gráfico por vocação, publicitário por formação, filósofo por piração.

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