Natal/RN, suas lendas urbanas e históricas, são o mote da revista independente local Maturi – Quadrinhos Potiguares (40 páginas, R$ 5,00), que no seu número seis reúne o trabalho de 28 artistas, tendo a capital potiguar como tema condutor.
O projeto da Maturi foi criado pelo Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos (Grupehq) e segue a premissa estabelecida pelo cartunista Edmar Viana, um dos criadores da revista, de que o registro da cultura potiguar e nordestina, sob o viés dos quadrinhos, fosse o argumento principal.
Nesta edição, temos a HQ O fantasma da Afonso Pena, de Carlos Alberto, com uma lenda urbana na qual um fantasma assombra uma famosa rua da cidade. Do falecido Edmar Viana, em parceria com Aucides Sales, há A lenda das cobras gigantes, uma HQ cheia de citações históricas e curiosidades sobre o município de Extremoz, a antiga aldeia de Guajiru. Zilomar é a adaptação livre do poema Elegia, da poeta Zila Mamede.Ivan Cabral reinterpreta graficamente a poesia de Zila e sua paixão pela mar.
O artista potiguar das artes plásticas Francisco Eduardo apresenta a força do povo da Cidade do Sol, em Eu vejo a cidade, com texto de Luiz Élson. Sacinagens é uma HQ de uma página de Marcio Coelho com o “presepeiro” das matas brasileiras. Jameson Magalhães abre sua HQ com um dos mais belos cartões postais da cidade, a Fortaleza dos Reis Magos. Em Ataque à Fortaleza, uma visão do passado e do presente deve ser uma oportunidade para se aprender alguma lição.
Gilvan Lira, em Soledade, reinterpreta a origem das pinturas rupestres de cinco mil anos atrás, encontradas no Lajedo Soledade, em Apodi. João Antonio vem com Quixaba, que questiona o quanto as pessoas são influenciadas e manipuladas como gado e massa de manobra. Fechando a revista, uma criação de Williandi Albuquerque: Estrela do mar.
Eu não conhecia a revista, nem a versão antiga mais fanzine, nem a sua última encarnação. Na FLIQ Natal do ano passado fiquei conhecendo a obra e dos seis números produzidos na sua nova versão comprei esse último.
Fiquei muito feliz de ver que em um Estado vizinho ao meu (Paraíba) tem ainda essa luta pela divulgação do trabalho de artistas locais. Com todas as dificuldades, o Grupehq, criado em 1971, conseguiu produzir uma boa mostra do que é feito pelos potiguares e da cultura local.
Das várias histórias, destacaria “Eu vejo a Cidade”, que fala de forma bela da cidade de Natal com pintura em óleo e aquarela. Também destaco “Estrela do Mar” que com um desenho em preto e branco muito bonito, fala da relação das pessoas com o mar, utilizando a lenda das sereias.
Enfim, é muito recomendado para quem de fato gosta de quadrinhos e o vê como uma expressão cultural de seu povo, mas do que simples comercio. Espero que nas bandas paraibanas algo assim surja logo e seja recorrente, sonhar não custa nada.