Bo
m, vocês já devem ter ouvido o nosso podcast sobre o personagem, porém sou obrigado a repetir algumas coisas que foi falada por lá…
O Surfista Prateado surgiu pela primeira vez num arco de histórias do Quarteto Fantástico, escritas por Stan Lee em parceria com Jack Kirby, o verdadeiro criador do personagem, onde eles enfrentam uma ameaça vinda do espaço, o devorador de planetas com um balde esquisitão na cabeça, Galactus! Na época Kirby justificou que a presença do Surfista era muito necessária, para que a faminta entidade não passasse vergonha sozinha, digo, porque alguém tão poderoso quanto Galactus, deveria ter um arauto.
No Brasil, a primeira aparição do Surfista foi na revista Super X #16 da Ebal em1968, no ano seguinte apareceu pela editora Gep, na edição nº 9, em duas histórias, uma lutando contra Mefisto e outra contra Thor e os Asgardianos. Os licenciamentos de alguns personagens da Marvel, incluindo o Surfista, ficaram pipocando entre as revistas GEP e Super X até Julho de 1974, quando entra na parada a editora Ebal, publicando uma participação sua na revista do Homem Aranha. Logo após ele foi publicado pela Bloch, na revista # 1 do Hulk, numa história que antecede a formação dos Defensores no Almanaque do Homem Aranha, e por fim na própria revista d´Os Defensores, em Maio de 76, o grupo do qual também participava Namor, Hulk e Doutor Estranho.
Em Abril de 79, pela RGE, na revista do Quarteto Fantástico(que na época era chamada de Os Quatro Fantásticos), a primeira história do Surfista, escrita por Stan Lee e desenhada por Kirby, originalmente publicada em 68 é recontada. Na nº 2, até onde eu tenho conhecimento, foi a revista que trouxe o inicio da chamada Trilogia de Galactus. Essas histórias seriam todas republicadas na extinta Heróis da TV, [modo velho leitor saudosista on] uma das melhores e mais legais séries de revistas já publicadas no país! A extinta revista fez merecida fama, assim como SAM* e GHM**, e trazia todo mês histórias de vários personagens. [modo velho leitor saudosista off]
Em Heróis da TV #1 de 1979, Galactus aparece na 1ª história da revista, com o personagem Thor, onde enfrentam a ameaça conhecida como Ego, o planeta vivo. Ainda vestindo um modelito sem mangas e sem calça, Galactus aparece num tom azul-esverdeado e amarelo, problema mais do que recorrente nas revistas da época… as cores! Cores que também foram trocadas nos uniformes do Quarteto Fantástico, que aqui aparecem vermelhos!!! Mas o problema não era só com uniformes… nessa revista o Tocha Humana é ruivo dos olhos verdes!
Show de cores para dar ataque epilético em qualquer criança!
Na historia seguinte entra em cena o Surfista Prateado que relembra os momentos e as lutas das quais passou, contra o Estranho, Mefisto, etc., inclusive da batalha entre ele e Galactus que culminou em seu exílio na Terra. Ele busca tentar viver entre os humanos e procura a ajuda de um alfaiate para arrumar umas roupas que disfarcem sua presença entre nós. Sim, caro leitor, um cara de pele prateada, com um sobretudo e chapéu e com uma prancha de surf debaixo do braço, em plena Nova Iorque, querendo passar sem ser notado!
Êêê, Stan! Tá vendo a merda aí não?
Ele então pensa em recorrer ao Quarteto Fantástico para ajudá-lo. Lá encontra um general que quer contratar o grupo para auxiliá-los, pois aparentemente o governo tem algum interesse no alienígena.
Enfim, é mais uma dessas histórias bobinhas onde existe um mal entendido no começo que faz com que os heróis lutem entre si. No final o Surfista descobre que o governo só estava interessado na sua ajuda para o programa espacial. A história termina com ele se indagando sobre a humanidade e seu papel nesse planeta. Coisa que se repetiria até os dias de hoje…
Nessa época, graças aos deuses, quem tomou conta dos pincéis foi o desenhista John Buscema (artista que ficou mais conhecido em seu trabalho com o bárbaro Conan), pois deu mais fluidez às histórias. Nada contra Kirby, mas acho que o traço de John Buscema é bem mais leve, redondo e com detalhes mais agradáveis.
Nas duas edições seguintes o Surfista esbarra com o Abominável e luta contra o Dráculaem parceria de Blade!
Só na Heróis da TV #4 é que realmente a maioria dos leitores brasileiros conhecem a origem do personagem. Sim, a Editora Abril foi a grande responsável pela popularização dos personagens Marvel por aqui e acho que a maioria das pessoas que curtem quadrinhos hoje começaram a acompanhar esses heróis através desta editora.
Originalmente, essa série teve 18 edições (nos EUA) e contou a saga de quando o devorador de mundos chegou ao planeta Zenn-La, e de como o nobre e jovem astrônomo, outrora conhecido como Norrin Radd, se sacrifica não só pelo seu planeta, mas por amor a Shalla Bal, se tornando o Surfista Prateado, o arauto que fica responsável por vagar pelo Universo a procura de outros planetas para satisfazer a vontade de seu mestre, Galactus.
Na história, curiosamente o Surfista enfrenta Yetis, relembra a treta com o Hulk e com o Doutor Maldição (nessa época, além de uma vestimenta azul e vermelho e ter o corpo todo roxo (novamente os problemas de cores), era assim que o personagem Doutor Destino era conhecido!!!) que lhe drena todo seu poder cósmico almejando conquistar o mundo.
Galactus (já com mangas e calça comprida) aparece todo de vermelho e azul também.
A Heróis da TV acaba virando a casa do personagem, mostrando várias histórias não tão impactantes, mas uma coisinha aqui e ali se sobressai, como quando ele enfrenta Thor na edição #7. Em Heróis da TV #54, mostra um “O que aconteceria se…” com o Surfista sendo transformado em Norrin Radd e ficando preso na Terra e tentando achar uma maneira de retornar a Zenn-La com a ajuda do Quarteto. Para se vingar, Galactus vai até seu planeta natal, saciar sua fome e Shalla-Ball acaba também se oferecendo virar sua arauto, Luminaris, para poupar seu planeta. História bem interessante e que vale dar uma conferida!
Finalmente em HTV #58 e 59, através do selo Grandes Momentos Marvel, é mostrada a “Chegada do Surfista Prateado” e a “Fantástica Saga do Surfista Prateado”, ambas de 1966 (aqui no Brasil Abril/Maio de 84), desenhada por Kirby e que mostra a famosa e já citada “Trilogia de Galactus”, as histórias que mostram o inicio de tudo, a chegada de Galactus, a extensa conversa com o Vigia, a revolta do arauto contra seu mestre, a notável viagem que o Tocha desprende através do universo absorvendo um conhecimento que o deixa transtornado, até a derrota do gigante espacial através do inenarrável e famoso Nulificador Total, o abridor de garrafas mais foda do universo.
Galactus fica todo com medo de que o Sr. Fantástico destrua todo o universo com a arminha (será que em MIB, aquela arma usada pelo agente J é baseada no Nulificador?) e acaba fazendo um acordo com o Vigia (nessa época sem a cabeçorra e aparentando ser um monge gordão), aceitando ir embora, deixando a Terra livre de sua fome voraz. Porém, antes ele retira do Surfista o poder de viajar pelo espaço, criando uma bolha em volta do planeta para que ele não saia.
E por que, apesar de não serem memoráveis, essas histórias são tão importantes? Bom, é o começo de tudo, conseguimos observar através dessas histórias o ponto de vista da editora sobre seus personagens e como era o “Marvel Way” nos roteiros e desenhos. Quem é leitor novo e for ler essas HQs, vai perceber que muita coisa continua a mesma, e vez ou outra esses personagens acabam caindo no mesmo tipo de roteiro, formando um ciclo. Tipo, toda vez que tem uma história do Wolverine, Capitão América ou do Surfista o tema “origem” vem a tona… ou, por exemplo, a necessidade de sempre adaptar a origem do Homem de Ferro. E essas “recontagens” de histórias são necessários para atrair e agregar novo público, então, para quem já acompanha a muito tempo, qualquer coisa que saia fora disso, deste ciclo, acaba se tornando fantástico!
Isso não quer dizer que estou depreciando todo o material feito com o personagem. Acontece é que evoluímos bastante das décadas passadas, do começo da criação desses personagens até hoje e algumas coisas podem soar infantis e toscas e por isso mesmo que é interessante reler esse material, principalmente porque dá pra entender um pouco mais de como eram as coisas naquela época. Atitudes, roupas, pensamentos e até situação política!
Mas também tem muita coisa boa no meio, tirando a maioria das histórias feitas com o personagem na década de 90, onde poucas foram boas, como a hilária história de SAM 123 que ele encontra o Homem Impossível (por Jim Valentino e Ron Lim), Desafio Infinito, série muito boa da qual ele tem uma participação não tão significativa, mas tá valendo… e todas as revistas da volta dos Defensores, escrita por Peter David e desenhadas por Kevin Maguire!
Pra você ter uma ideia de como os anos 90 e início dos 2000 foram ruins com o Surfista, basta dizer que foi a década onde houveram alguns crossovers (encontros) das editoras DC e Marvel e bombas como o encontro dele com o Lanterna Verde, com o Superman e com a tchurminha da Top Cow que foram realizadas, além da lamentável Heróis Renascem! E o pior é que eu comprava es-ta-mer-daaa!..
Troféu cocô de prata pros anos 90!
E qual foi a lição de hoje, amiguinhos? É a de que, nós, os leitores das antigas, até o início da década de 90, sofríamos muito com os mandos e desmandos das editoras. Edições confusas, com cortes e principalmente com a cronologia bagunçada, além de um papel de m* que fazia com que acabassem com a qualidade gráfica da coisa. Principalmente, em relação as cores!Deem uma olhada na série Marvel Masterworks – Silver Surfer (ou qualquer uma da série) que pode ser encontrada facilmente na internet e faça um comparativo com as cores feitas na gringa. É outra coisa!
Mas, olha só, nós sobrevivemos!
Pra você que tem curiosidade de começar a ler as histórias do Surfista, eu indico primeiro ler as edições históricas #1 e #2 lançadas pela Mythos Editora e acompanhar a semana especial de posts aqui no Uarévaa, que daremos muito mais indicações de leitura boa!
Notas de rodapé:
* SAM – Super Aventuras Marvel
** Grandes Heróis Marvel