Há mais ou menos oito anos atrás enquanto trocava de canal em minha recente comprada TV por assinatura, me deparei com uma serie hospitalar a qual logo pensei: “mais uma série de médicos, sangue e draminhas pessoas”. Entretanto, o que encontrei foi muito humor sarcástico, dilemas comuns da nossa vida, relações pessoas com certo grau de drama, mas sem serem enjoativos como Greys Anatomys da vida.
House desde seu surgimento na TV americana, lá nos idos de 2004, já era um personagem daqueles que amamos odiar ou odiamos amando. Seco, sarcástico, descrente com o mundo, a fé e as pessoas, o ranzinza e aleijado médico sempre tirou onda com a cara de todo mundo, manipulava e enganava estranhos e amigos – principalmente seu melhor amigo Wilson, e fugiu com todo afinco por uma verdadeira proximidade com outro ser humano – principalmente com seu amor platônico a diretora do hospital, Cuddy.
Cuddy, um sonho de mulher
Comandando uma equipe de diagnósticos de um grande hospital, toda semana o personagem tinha que lidar com a vida e morte e, assim, se sentia um Deus por sua genialidade e poder de salvar vidas. E assim foi por oito longas temporadas.
Nesta última segunda House se despediu da TV americana, encerrou uma trajetória de sucesso, altos e baixos, criticas e personagens adoráveis. Como esquecer da linda Alison Cameron (Jennifer Morrison), atualmente protagonista de Once Upon a Time, ou o presunçoso Robert Chase (Jesse Spencer), que junto com Eric Foreman (Omar Epps) segurou as pontas até o final.
A equipe original durou intacta por três temporadas, quando Cameron e Chase se casaram e foram trabalhar em outro setor do hospital, ao mesmo tempo que Foreman pediu demissão. Então entraram a lindíssima Treze, a.k.a. Remy Hadley (Olivia Wilde), o perdido Crhis Taub (Peter Jacobson) e o estranho Lawrence Kutner. Além da constante participação de uma não contratada por House, a Dr.ª Amber Volakis (Anne Dudek), que acaba tendo um relacionamento com o melhor amigo de House, Wilson.
Ao fim da quinta temporada a equipe médica é abalada pelo suicídio repentino de Kutner – motivado pela saída da série do ator Kal Penn para, acreditem, tomar lugar em um gabinete da Casa Branca. Assim, Cameron e Chase retornam a equipe, mas a doutora sai novamente não só do hospital, mas também da série, após se separar do marido.
Durante a sétima temporada, Cuddy contrata para a equipe de House uma nova doutora para substituir a saída temporária da Treze. Entrando assim a Dr.ª Martha M. Masters (Amber Tamblyn, de Joan Of Arcadia). Após o final da temporada, quando House vai preso e passa um ano na cadeia, ele retorna para sua última temporada com algumas mudanças:
Durante a oitava temporada, House vai para a cadeia e passa mais de um ano lá. Quando retorna para o hospital, encontra algumas mudanças: Cuddy deixou o hospital, e a série, Foreman é o novo diretor geral, e todos os médicos da sua equipe tinham saído. Assim, ele acaba contratando .a divertida e bem interpretada Dr.ª Chi Park (Charlyne Yi), a “corpo bonito substituta da Treze, mas não tão boa atriz assim” Dr.ª Jessica Adams (Odette Yustman) e consegue fazer com que Chase e Taub retornem. E é dessa forma que encontramos o nada bom Doutor em seu último caminho de existência.
A última equipe
Assim como qualquer seriado que se alongou mais do que devia, House passou por maus bocados em termos de audiência e história. Tendo sofríveis plots como o do policial perseguindo-o por uso excessivo de Vicodin, remédio para dor com prescrição médica, romance conturbado com Cuddy que fez perder o rumo não só a série como o próprio personagem – sendo preso após jogar seu carro dentro da casa da, no momento, ex-namorada.
Elencar os melhores momentos é um trabalho difícil, pois mesmo no tempo das vacas magras a serie conseguia nos surpreender com alguma reflexão ou nos fazer sorrir sem controle com alguma piada. Particularmente alguns me marcaram, como o episódio onde House salva a vida de um garoto autista, e no final o menino que nunca fez contato direto com ninguém faz com o médico. Ou ainda o season finale da segunda temporada com um episódio inteiro passado dentro da cabeça de House, após terem atirado nele, e o fantástico penúltimo episodio da quarta temporada onde o médico, e nós, tentamos descobrir o que ele esqueceu, e pode salvar uma a vida de alguém que nem sabemos quem é, após um acidente de transito em que ficou com traumatismo craniano. Sem contar o belo clipe de abertura do primeiro episódio da sexta temporada, quando House está em uma clinica para desintoxicação, ao som de No Surprises do Radiohead.
Muito se viveu nos oito anos, e sem mais tantas saídas e queda de audiência o fim era inevitável, e necessário. E ele chegou.
Everybody Dies
(A partir daqui SPOILERS do último episódio da série)
House chegou ao seu fim com um cenário nada animador para si: seu melhor amigo estava morrendo de câncer e só tinha mais cinco meses de vida; ele que estava em condicional perderia o privilégio após uma das “brincadeiras” do médico, que resultou na quebra de uma máquina de ressonância do hospital, e, por isso, ficaria preso por mais seis meses. Em resumo, não veria e nem estaria do lado de Wilson quando ele morresse.
Qual a forma de escapar de tal situação escolhida por ele: se drogar com um ex-paciente em um prédio abandonado. E é nesse ponto que o episódio inicia, com o paciente morto por overdose e House desmaiado, com o prédio (de uma forma desconhecida e que fica sem explicação) em chamas.
A partir daí, o médico começa um verdadeiro purgatório, alucinando com ex-colegas mortos e ex-amantes, uns tentando fazer com que ele desista de se matar e saia do prédio e outros o encorajando a ficar e ter alivio de todas as suas dores finalmente. Em paralelo, Wilson e Foreman buscam o paradeiro do nosso protagonista, sumido há dois dias. Após todos os argumentos e lembranças expostas, House decide que mesmo sofrendo, mesmo sendo um egoísta escroto ele podia mudar, podia pelo menos naquele momento não ser covarde e esperar que a vida decida por ele e resolve sair do prédio em chamas. Quando está se encaminhando para a saída vê Wilson, que acabara de chegar no local, e nesse momento o prédio desaba e explode. House está morto.
A cena do funeral do personagem é emocionante por podermos rever os atores e personagens que passaram (menos a Cuddy) pela série, e ouvir um pouco do que eles aprenderam com o velho doutor. E a interpretação de Robert Sean Leonard (Wilson) é muito inspirada, inicialmente falando das coisas boas de sua amizade para depois os xingamentos de praxe que sempre fizeram a House. Ao fim do episódio ele vai até a casa do amigo, quando se surpreende de ver o médico sentado na escada, vivo.
Confrontado, House explica (no melhor estilo Sherlock Holmes de ser, afinal, foi nele que o personagem foi inspirado) que saiu pela porta dos fundos antes da explosão, falsificou o exame de autenticidade da arcada dentária do corpo encontrado, e tudo isso para poder ter os cinco meses ao lado do amigo. Forçado? talvez, mas para quem conhece sabe que é a cara do personagem.
A série se encerra com Wilson e House saindo em uma jornada de moto pelo Estados Unidos, e em paralelo mostrando como os seus amigos continuaram a vida, possivelmente melhor sem ele – como ele mesmo percebeu que seria antes de “morrer”.
Born to be Wild
E assim, chegou ao final uma das mais badaladas e premiadas séries da TV americana – a série ganhou vários Emmys para melhor realizador e melhor argumento, bem como o premio de melhor caracterização (maquilhagem), Hugh Laurie foi aclamado melhor ator em 2006 e 2007 no Globo de Ouro; e foi a série mais assistida do mundo em 2008.
Não foi um final super épico, ou cheio de reviravoltas, dramas, mas foi digno, podemos dizer, justo com o que vinha-se desenvolvendo e o que durante os oito anos trabalhou-se na psique do personagem. O médico ranziza que não acreditava em ninguém e nada deixará saudades. Só tenho mais uma coisa a dizer: Enjoy Yourself.
Curiosidades
– Vários bebês chegaram ao hospital ao mesmo tempo, com os mesmos sintomas. Ninguém sabia o que era, como sempre. Como os dois que apresentavam os sintomas em estado mais avançado estavam tomando os mesmos remédios sem sucesso, não tinha como saber como tratar, e cada vez mais bebês evoluíam os sintomas. House escolheu um deles aleatoriamente e parou de dar um dos remédios, matando-o para poder salvar o outro. – Dave Matthews interpretou um cara que tinha um problema no cérebro que fazia ele tocar piano melhor que o Schroeder mas que um dia teve um problema e perdeu os movimentos. House chegou a conclusão de que a única solução seria cortar metade do cérebro do cara. – Nesse mesmo episódio, House fingiu ter câncer pra participar de um tratamento onde o pessoal ingetaria drogas direto na cabeça dele. – Depois que um paciente chegou dizendo que nada deixava mais louco do que a morte, House resolveu ver como era. Foi considerado morto por alguns segundos. – Um paciente tinha tentado se matar tomando tinta de impressora, e começou a ter alucinações. House embebedou o cara, e o etanol da bebida limpou todo o metanol da tinta do corpo dele. – Uma doença nunca deu tanto trabalho para os médicos da ficção. Camuflada sob vários sintomas diferentes, esse diagnóstico apareceu em todas as temporadas, cada vez de uma maneira. Mesmo com a mudança na equipe de especialistas que acompanha o protagonista, uma coisa que não saiu de cena foi essa frase: “É lúpus!”.
A força expressiva das histórias em quadrinhos têm servido a muitos propósitos, de simples entretenimento, com suas aventuras fantásticas, ao cada vez mais prestigiado recurso