Os Tommyknockers

“Late last night and the night before,
Tommyknockers, Tommyknockers, knocking at the door.
I want to go out, don’t know if I can,
‘Cause I’m so afraid of the Tommyknocker man.”


Tema Macabro

Um dos aspectos mais interessantes a respeito do terror (e de toda forma de ficção, na verdade), é o uso de uma história fantástica para representar problemas e situações reais. É uma prática comum, mas que nem sempre acaba sendo percebida pelo grande público, o que é uma pena, pois este tipo de noção nos dá uma visão muito mais aprofundada da obra e de suas intenções.

Embora Stephen King seja um escritor “pop”, por assim dizer, ele não “escapa” de usar seus histórias para falar sobre problemas humanos – e muitas vezes de seus próprios problemas. Dentro deste contexto podemos citar o tema do Madrugada Macabra de hoje, Os Tommyknockers.

Quando Bobbi Anderson, uma reclusa romancista descobre o casco de uma espaçonave enterrada próximo à sua casa, ela chama seu amigo mais próximo, um poeta alcoólatra Jim Gardener para dar uma olhada. Quando o poeta chega, descobre que Bobbi agora tem a capacidade de construir incríveis invenções mecânicas que irão digitar o texto de seu novo romance enquanto ela dorme, usando como combustível sua própria casa e realizando outras estranhas funções. Com o tempo, percebe-se que outras pessoas na cidade passam a agir da mesma maneira, construindo incessantemente e aparentemente sofrendo de sintomas semelhantes à quando expostos à radiação (perda de peso, dentes e cabelos caindo). Cabe aos poucos ainda não afetados por esta estranha condição descobrir o que está acontecendo.

Traduzido aqui como “Os Estranhos”, o livro é extenso (mais de 600 páginas) e busca trazer uma “vibe” semelhante à “A Coisa”. Embora seja considerado um dos livros mais chatos do autor por alguns, Tommyknockers tem seus méritos. Para os fãs de Stephen King, é uma ótima pedida, o livro segue seus padrões típicos. Para quem não é fã ou não conhece muito da obra do autor, é um bom lugar para começar, caso não tenha possibilidade de ler antes “A coisa” ou “O Iluminado”. É um livro que fala sobre frustração, sobre alienação, sobre nossa luta interior para nos libertar daquilo que nos deixa dependentes e que (apenas aparentemente) nos faz sentirmos melhor. É um romance que, apesar de uma ou outra informação datada, continua bastante atual. Assim como todas as grandes histórias que representam algo.

Tommyknockers também foi transformado em uma minissérie para a TV em 1993, e chegou aqui no Brasil em VHS (você pode encontrá-lo tanto com o título original como “Os Estranhos”). Apesar de ter algumas diferenças em relação ao livro, num geral é bastante fiel ao espírito da obra original.


Não sei dizer se a minissérie está disponível em DVD, pois assisti ainda na época do não tão saudoso VHS. Vale a pena para os entusiastas do gênero darem uma procurada, no entanto.

Curiosidades:
– O título se refere à lenda dos Tommyknockers, espíritos ou criaturas presas à minas subterrâneas que atacavam pessoas e animais;
– Em sua autobiografia, King revelou que escreveu Tommyknockers no período em que estava com problemas relacionado às drogas, e que depois que terminou o romance percebeu que o livro era basicamente sua luta interna contra os entorpecentes;
– King atribui como fontes de inspiração para Tommyknockers o livro “A cor que veio do espaço”, de H.P. Lovecraft (em breve num Madrugada Macabra perto de você), o filme Vampiros de Almas e uma história de ficção científica de 1959 chamada The Big Front Yard;
– No álbum Tales of the Twilight World da banda Blind Guardian, há uma faixa entitulada “Tommyknockers” que é, obviamente, baseada na novela (e que, não por acaso, é o tema macabro do post). Ainda, há outra faixa chamada “Altair 4”, planeta para onde é mandado um dos personagens da novela;
– Altair 4, planeta citado no livro, é uma referência ao clássico “Planeta Proibido”, de 1959;
– Como Stephen King adora fazer referências a outras histórias e ao seu próprio trabalho, este livro também possui várias: Duas crianças vêem o palhaço Pennywise, de “A Coisa”, enquanto estão em Derry atrás de baterias; Ev Hillman diz que ouve vozes e risadas vindos de um bueiro em Derry; Jim Gardener acorda numa praia de Nova Hampshire perto do Alhambra Hotel, lá encontra um menino chamado Jack. Trata-se de Jack Sawyer, protagonista de “O Talismã”; alienígenas foram levados para a “Oficina”, e há uma referência à uma menina que foi levada para lá e pôs fogo em tudo, obviamente referências à novela “A Incendiária”; King faz uma menção à si mesmo, quando o personagem Ev Hillman diz que prefere os livros de Bobbi Anderson porque são realistas, “ao contrário do cara que escreve coisas fajutas lá de Bangor”; David Bright é contatado por Ev Hillman que tenta lhe dizer o que está acontecendo em Haven, Bright havia entrevistado John Smith, na novela “A Zona Morta”, e até o menciona; Ev Hillman medita sobre as florestas em que está enterrada a nave, pensando também na floresta em Ludlow e na maldição dos índios Micmac, explorada na novela “O Cemitério”. Um dos personagens escuta uma rádio de Arnette, cidade do protagonista de “A Dança da Morte”; Gard se compara à Jack Nicholson em “O Iluminado”; Gard escuta a WZON, rádio que pertence a Stephen King na vida real; enquanto viaja na van após seu encontro com Jack Sawyer, Gard conhece um jovem hippie chamado Beaver (que mais tarde também enfrentaria alienígenas em O Apanhador de Sonhos); como Os Estranhos foi escrito 13 anos antes de O Apanhador, não é claro se se trata do mesmo Beaver; o livro menciona que Gard está sendo dirigido por seu “ka”, referência clara à Torre Negra; durante sua raiva numa festa, Gard menciona os perigos do uso da energia nuclear, mencionando o projeto “Ponta da Flecha”, que foi responsável pelos eventos vistos na noveleta “O Nevoeiro”.

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