“Os quadrinhos são uma arte popular, e sim, eu acredito que sua principal obrigação é para entreter, mas os quadrinhos podem ir além disso, e quando o fazem, eles se movem de bobagens ao significativo”- Bill Watterson
Eu não sei desenhar nada, nem boneco palitinho direito, por isso, invejo muito quem tem esse dom tão interessante com o lápis e o papel. E muito me dá raiva quando conheço quem não usa essa habilidade com desenhos de alguma forma produtiva, sei que vão me dizer “pô Marcelo, mas o mercado de quadrinhos é complicado, não tenho tempo para me dedicar a uma carreira profissional e blá blá blá”. Você até tem razão, mas com esse conhecimento sobre uma arte seqüencial para contar histórias, e a capacidade de desenhá-las, você já pensou o que pode fazer além do mercado oficial de quadrinhos? Sim, eu estou falando de voluntariado e histórias em quadrinhos educacionais.
As Histórias em Quadrinhos sabemos são mais do simples mediadoras de informação, elas tem em si uma complexa natureza devido a sua linguagem imagética-fonética, e durante os anos escolas e instituições de ensino diversas tem utilizado-as como forma de incrementar as aulas e o conhecimento estudantil, levando a interdisciplinaridade nas salas de aula. Onde pode-se através do estudo básico e da produção dos quadrinhos inserir temas como produção e argumentação de textos, conhecimento de códigos e linguagens, além de uma infinidade de conceitos artísticos, filosóficos e qualquer outro tipo de informação.
Nívea Maseri de Moraes, coordenadora pedagógica do Núcleo de Educação a Distância (NEaD) do Senac São Paulo, diz que: “Os quadrinhos os ajudam a desfragmentar a idéia de um texto linear, além de ser de mais simples absorção, o quadrinho tem a função de ‘quebrar o gelo’ entre o aluno e a máquina”.
Adriana Mitsui Matsuda, ilustradora do NEaD, aponta que “se você está tratando de um tema mais formal, os desenhos precisam ter um linha mais sóbria, pois o traço tem de acompanhar o conceito. Texto e imagem precisam ser muito bem casados. E é preciso saber economizar palavras para explorar mais as imagens”.
Claro que muita coisa se é necessária nessa relação, como um inter-relacionamento do docente com o profissional dos quadrinhos, em uma visão ampliada do meio, o próprio interesse das escolas em usar da melhor forma as hq´s, e também o desafio de usar uma linguagem que ao mesmo tempo tenha o didatismo próprio do meio educacional, mas, não perca o caráter atrativo dos quadrinhos.
Um exemplo dessa busca e tentativa encontramos no trabalho do roteirista Egidio Neto, em conjunto com a Editora Uirapuru, que elaborou três projetos em forma de revistas em quadrinhos para o setor educacional: Zóide (revista de orientação sexual); O Agente Imunológico (revista social) e Cruzada da Paz (revista que busca a convivência pacífica entre as torcidas de futebol).
Estes títulos são compostos de 4 revistas cada um, menos a última que tem uma única edição, dentro de um projeto fechado que consiste também em dar capacitação e orientação ao corpo docente das escolas, com psicólogos, educadores, médicos e outros profissionais, para melhor utilizarem os aspectos informacionais das revistas.
Em seu livro História em Quadrinhos na Escola, Flávio Calazans apresenta alguns exemplos de como elas podem ser utilizadas de forma didática em matérias da grade curricular, seja na geografia, teorias científicas, literatura, história, etc. Mas, você pode me perguntar: “perai cara, você falou em usar as habilidades de desenhos e usar fora do mercado oficial de quadrinhos, mas nesses exemplos temos que depender exatamente de editoras, e ai?”
Sim, nos exemplos as editoras estão presentes ou somente o lado dos professores, mas, porque não usar esses exemplos e aplicá-los em um trabalho voluntário, organizar um grupo de crianças que não tem acesso as histórias em quadrinhos, seja em bairros pobres, escolas sem muitos recursos, ONGs, e você mesmo não ministra uma aula sobre quadrinhos, ou uma oficina, pode até ser uma vez na semana, naquele tempinho livre para fazer algo novo? Pode ser uma pratica com as crianças de como produzir uma HQ, incentivando a imaginação e a diversão, ou ainda uma coisa mais teórica de como a imagem é importante nesse mundo atual, a criatividade é sua companheira.
Para nós, pobres almas que não temos o talento do desenho, ainda nos resta conhecer a teoria quadrinhistica e utilizá-la com os recursos que até o meio virtual pode nos dar. Um exemplo disso são ferramentas simples de criação de tiras em quadrinhos, como o Stripcreator, sim, aquele programa meio “tosco”que oferece diversos planos de fundo para vários personagens, assim como a possibilidade de acrescentar balões de fala e narração na HQ. Tal programa pode aguçar a criatividade, fazendo com que o aluno/criança se torne o sujeito da ação e o professor/você o intermediário da transformação do conhecimento em figuras, falas, sons, etc.
Outro aplicativo interessante para esse uso mais simples das propriedades dos quadrinhos é o Hagáquê. O programa pode funcionar tanto no Windows 95 (quem usa ainda isso?) 98/XP/7, quanto no linux educacional, utilizando a ferramenta Wine.
O download do programa pode ser realizado no site oficial do projeto, onde podem ser encontradas também histórias prontas e textos sobre o aplicativo.
Existem outros tantos exemplos de uso dos quadrinhos como forma educacional, mas, o mais importante desse meu texto é levantar o interesse e a reflexão por parte de quem produz quadrinhos e quem curte a nona arte, estuda, tem contato com potenciais alunos e pensa em mover os braços em prol de usar suas habilidades, ou conhecimentos teóricos, de forma também proveitosa para a sociedade.
“ISTO VAI MUDAR TUDO!” Freud, Rafael Rodrigues, Luis Modesti e Marcelo Soares falam sobre a grandiosa obra de Grant Morrison: All-Star Superman. E no Momento Uarévaa… ops, não