A vida é feita de escolhas, isso todo mundo sabe. Uma viagem a fazer, uma garota a escolher, um livro a ler, a cada momento somos empurrados para tomarmos decisões, algumas pequenas, outras tão grandes que podem mudar todo o curso de nossas vidas. É sobre essas decisões que Mr. Nobody (Sr. Ninguém, 2009) versa.
O filme, dirigido por Jaco Van Dormael, em uma sinopse “tradicional” mostra a história de Nemo Nobody (Jared Leto) que em um futuro não muito distante tem 120 anos de idade e é o último mortal a conviver com as pessoas imortais, e perto de morrer relembra o seu passado. Mas, tal resumo não faz juz a bela e poética história que somos levados em duas horas de película.
Mr. Nobody me lembrou muito “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” com seus cortes temporais e espaciais constantes, que muitas vezes para alguém que se deixe perder a atenção é difícil de acompanhar. Tudo começa com a morte de Nemo, volta para antes dele nascer, mostra como um bater de asas de uma borboleta no Japão levou ao encontro de seus pais nos Estados Unidos, como é complicado viver três casamentos ao mesmo tempo, como a mente é um grande xadrez e tem seu clima no fim do universo como o conhecemos. Complexo? Você não viu nada.
Dividido em vermelho, amarelo e azul, cores que se alternam na concepção de cenários e direção de arte, para indicar que realidade estamos – se conectando com a mulher da vida de Nemo naquele momento – o filme nos leva por caminhos possíveis dentro da vida do personagem. Ficar com sua mãe e conhecer Ana? Ficar com seu pai e conhecer Elisa ou ainda Grace? Cada escolha leva a novas vidas, novas situações, novos problemas, novas alegrias, qual o melhor caminho a seguir? Existe um melhor que o outro? São algumas das perguntas que nos deparamos.
Na parte técnica, Mr. Nobody traz a direção bem orquestrada de Van Dormael, sem contar o roteiro amarrado e bem distribuído também feito por ele, uma fotografia poética, cheia de cores e suavidade, uma montagem perspicaz que nos coloca de um ponto ao outro de uma forma natural, sem forçação de barra., e não posso deixar de falar da bela trilha sonora com grandes clássicos vivos em nossa memória Agora, é uma obra para quem gosta de adentrar mesmo em um filme, prestar atenção em seus detalhes e se envolver com a história, quem desiste de ver algo porque acha “cabeça demais”, “complicado demais” ou “chato demais” pode passar longe desse.
Tem filmes que são complexos de se acompanhar, mas, por isso mesmo, acabam se tornando fantásticos de assistir, Mr. Nobody é assim. O filme mais poeticamente insano (ou insanamente poético) que vi desde “Brilho Eterno” e “Amélie Poulin”, uma obra para se pensar sobre a vida, sobre sua beleza e suas tragédias, sobre a alegria de uma paixão, de um amor, e principalmente sobre caminhos a percorrer.
Canadá/Bélgica/França/Alemanha, 2009,
Drama/Ficção Científica,
Direção: Jaco Van Dormael
Elenco: Jared Leto, Sarah Polley, Diane Krueger, Rhys Ifans, Linh-Dan Pham, Natasha Little, Juno Temple, Daniel Mays, Michael Riley