A Metamorfose

“Quando Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama transformado num inseto monstruoso”

A Metamorfose


Tema Macabro

A realidade é limitada. Fato. Seja por nossa incapacidade de perceber a grandiosidade do universo, seja por nossa sociedade auto-preservacional que nos impede de explorar nossos limites, precisamos convir que estamos sempre, de alguma forma, presos a leis e regras (da sociedade, da física, da família, da religião e assim por diante). Não é à toa que as pessoas são tão fascinadas por histórias, principalmente histórias que fogem da realidade convencional. É o único momento onde podemos, pelo menos temporariamente, nos livrar das amarras da realidade e vislumbrar um mundo que só é possível na ficção. Bom, na ficção e nos sonhos.

O austro-húngaro Franz Kafka entendia muito bem esta triste constatação humana. Provavelmente por isso suas obras mais conhecidas tratam justamente de mundos burocráticos e limitados que se confrontam com acontecimentos peculiares e de tom onírico. E é sobre uma das obras do autor, uma das mais tristes e perturbadoras histórias que eu já li, que falarei hoje: A Metamorfose.

Escrito originalmente em 1915, a Matamorfose (Die Verwandlung no original) segue a história de Gregor Samsa, um jovem e relativamente bem-sucedido caixeiro viajante, que acabou por ser o provedor da sua casa, sustentando toda a família (os pais e a irmã mais nova). Sua vida era bastante comum, e até feliz, uma vez que, por mais que de certa forma tenha deixado sua própria vida de lado em função da família, era algo que aparentemente se sentia satisfeito. Um dia, como outro qualquer, Gregor acordou depois de estranhos sonhos e percebeu que havia se tornado um inseto monstruoso. Sem saber o que aconteceu, e tendo que se acostumar ao seu novo corpo, Gregor e sua família acabam se vendo obrigados a lidar com tal situação totalmente absurda e assustadora.

A Metamorfose é uma história curta, que logo de início já diz a que veio. Logo na primeira frase do livro, Gregor já se descobre transformado. E a partir daí, a história segue com Gregor e a família tendo que lidar com a estranheza da situação. E não demoramos muito a perceber que esta não é uma história comum como a maioria das outras, por isso é importante citar que, para quem não leu o livro ainda, se você é do tipo que precisa de uma história mastigadinha e que explique absolutamente tudo o que acontece, nem se dê ao trabalho de ler esta história.

O que realmente torna a história interessante é que ela parece, de fato, um sonho. Com certeza vocês já devem ter sonhado com alguma situação completamente absurda, da qual vocês ou seus conhecidos têm que reagir a ela, e por mais que aquilo parece sem sentido, durante o sonho, ela passa a ter sentido e a fazer parte da realidade, sendo que aos envolvidos cabe apenas reagir à situação da forma que reagiriam “normalmente” (na falta de um termo melhor). É justamente essa a sensação que eu tive ao ler A Metamorfose.

Mas se olharmos além da situação temos, nas entrelinhas, muitas discussões interessantes sobre a vida, sobre pontos de vista, sobre nossas limitações como seres humanos, as imposições da sociedade que acometem a todos e a dificuldade de se superar mudanças. Com tudo isso, A Metamorfose torna-se uma obra atemporal, surreal, dramática, perturbadora e triste. E por isso altamente recomendável.

A Matamorfose pode ser encontrado hoje numa edição publicada pela Companhia das Letras, ao preço de R$ 16,90 (no Submarino, pelo menos). É um preço muito barato a se pagar pela experiência que é ler uma obra dessas.

Curiosidades:
– Existem diversas adaptações desta história em diversas mídias. Uma delas é uma adaptação em quadrinhos produzida por Robert Crumb;
Gregor Samsa também é o nome de uma banda de rock formada em 2000;
Bad Mojo, jogo de computador de 1996 tem sua premissa levemente baseada em A Metamorfose.

Na próxima Madrugada:
Uma dos mistérios mais apavorantes que já se teve notícia… E é uma história real. Na próxima semana, conheça Ourang Medan – Uma história real.

Podcast, Quadrinhos, CInema, Seriados e Cultura Pop

Related Post

PresságioPresságio

UARÉVIEWpor Rafael Rodriges Desde que assisti Cidade das Sombras (Dark City, 1998, não confundir com filme recente que foi traduzido com o mesmo nome), sempre