“Mas mãe, não é certo brigar quando se está tentando salvar alguém?”
Quer ver um verdadeiro filme de super-herói? Esqueça Homem de Ferro, Kick-Ass ou qualquer outra masturbação de nerd fanboy adolescente e cheio de hormônios para liberar. O único filme que guarda a verdadeira essência do conceito de super-herói até hoje é, sem dúvida, Defendor.
Super-Herói é um termo que significa muita coisa para muita gente. Para uns, apenas roupas coloridas (restart?), para outros, é dar porrada. Muitos atribuem ao termo um significado de espetáculo, enquanto outros levam a palavra a outro nível, vendo Super-herói como alguém que inspira, através de seus próprios atos, pessoas a fazer o bem.
Na cidade conhecida como “Hammer” (que quer dizer, em tradução literal, “martelo”, mas é uma gíria para uma série de coisas relacionadas à crime, como armas, estar bêbado ou drogado, entre outros), transformada pelo tráfico de drogas, armas e prostituição, um homem, Arthur Poppington, decide patrulhar as ruas como o vigilante Defendor e proporcionar terror aos criminosos que matam as pessoas com drogas. Embora a sinopse pareça lugar-comum aos olhos do leitor de quadrinhos habitual, uma olhada mais atenta na película mostra que ela é tudo, menos clichê. Defendor lança um olhar crítico e maduro sobre nossa sociedade, não sobre seus problemas, mas sobre suas soluções. E a solução é extremamente simples, embora não tão fácil de se atingir hoje em dia.
O filme conta com um protagonista impressionante, coadjuvantes interessantes e uma história fantástica que nos leva muito além do simples entretenimento e nos faz refletir sobre nossa vida, nossa sociedade e nossas atitudes perante o mundo. Chega a ser constrangedor ver a hiperviolência estilizada de Kick-Ass ou a beleza visual de Watchmen – o filme e pensar que ambos se atrevem a considerar a si mesmos como “filmes com super heróis realistas”. Perto da sensibilidade e maturidade de Defendor, é como dizer que um adolescente deprimido porque levou bolo da menina está passando pelo maior problema do mundo.
Defendor, o herói que é vivido por Woody Harrelson (numa interpretação primorosa, acho que nunca o vi atuar tão bem desde O Povo Contra Larry Flint), não é um ser humano comum por vários motivos. Primeiro, porque ele parece não ser exatamente uma pessoa certa da cabeça. Seu senso de justiça preto e branco e sua inocência sugerem que ele tenha talvez algum tipo de desvio psicológico (ou um retardo mental, talvez). Segundo porque, diferente das pessoas “comuns”, Arthur Poppington é um cara que decidiu fazer alguma coisa, ao invés de apenas culpar o governo e ficar sentado sem fazer nada (ou simplesmente virando as costas para quem precisa de ajuda). E terceiro porque realmente Defendor não é sequer um homem no sentido existencial da palavra. Defendor é mais do que isso. Defendor é um arquétipo, um símbolo que representa um ideal. E é justamente disso que se trata o filme: A luta por um ideal.
Mas este ideal é muito mais do que simplesmente combater o crime, acabar com as
drogas, enfrentar o mal, ser o bom-moço ou dar porrada nos “bad guys”. É mais ainda que salvar o mundo. Este ideal é simplesmente, salvar a alma da humanidade. E por “alma” me refiro àquilo que nos diferencia das outras criaturas vivas e nos torna humanos: Nossa empatia, o dom de nos colocarmos no lugar de outro ser vivo e entender o que ele está passando. Esta empatia é a verdadeira consciência humana, talvez a única coisa que pode nos salvar. E é basicamente do que trata o filme.
Infelizmente, Defendor não chegou aqui, nem em cinema, nem em DVD (e nem sei se chegará). Mas, caso você consiga ter acesso ao filme, não perca, pois eu e meu colega Uaréviano Marcelo Soares concordamos: é uma verdadeira aula sobre humanidade.
Está é a verdadeira essência do Super-Herói. Não resgatar gatinhos indefesos, quebrar a cara de bandidos ou enfrentar ameaças interplanetárias. É resguardar nossa alma. E, neste contexto, Defendor cumpre seu papel de forma excepcional, lembrando aos personagens e espectadores do filme o que precisamos para salvar o mundo: Usar aquilo que nos torna humanos em benefício de nós mesmos. É uma tarefa muito simples, embora não vá existir sem (muitos) obstáculos pelo caminho. Mas é como eu ouvi certa vez: “Nada daquilo que realmente importa vem fácil”. E no fim das contas a recompensa não valeria a pena?
Isso é ser um verdadeiro super-herói. Isso é ser… Humano.
Nota: 10